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3 de setembro de 2025

Da cimeira de Anchorage à de Tianjin

A cimeira de Ancorage, Alasca, refletiu o reconhecimento por Trump, que não era mais possível esconder do mundo que duas superpotências nucleares não podem entrar em conflito direto. Isto não implica que indiretamente não se promovam conflitos, seja através do Azerbaijão no Cáucaso, ou tentando uma mudança de regime no Irão. Significou também reconhecer o que a Rússia concretiza na esfera económica, geopolítica e no campo militar, admitindo que a guerra por procuração na Ucrânia está perdida.

Trump quer quer concentrar-se contra a "ameaça existencial" representada pela China e desejaria fazer negócios com a Rússia com investimentos em projetos conjuntos com a Rússia no Ártico. O que talvez fosse também uma forma de afastar a Rússia da China. O Ártico abriga pelo menos 13% das reservas mundiais de petróleo não descobertas e 30% das reservas mundiais de gás natural não descobertas. A Rússia controla pelo menos metade de todas essas reservas,

Porém passadas estas semanas, em termos práticos nada se alterou, nem no campo de batalha, nem entre os belicistas europeus ou no domínio neonazi em Kiev e nos Bálticos. O facto é que Trump não tem controlo sobre o bando de raivosos belicistas da UE/NATO. Porém, na realidade, a guerra na Ucrânia representou o fim da "ordem internacional baseada em regras".

Os belicistas europeus tentam desesperadamente salvar o seu ator de Kiev e fazem tudo para sabotar qualquer acordo, recusam-se a reconhecer as novas regiões que aderiram à Rússia e procuram a todo o custo rearmar a Ucrânia, liderando nos bastidores a guerra "da Ucrânia", como preparação para uma guerra da NATO contra a Rússia, portanto a guerra continua e Trump nada pode fazer - estamos perante um caso de felonia dos vassalos europeus...

Compreende-se o nervosismo do chanceler Merz, Black Rock: a perspetiva de negócios dos ex-patrões esvai-se e nada mais pode fazer do que como apoio dos media dizer que a Rússia é a inimiga como sempre foi e vai invadir a Europa, enquanto a situação económica e social alemã se degrada em grande escala.

Entretanto, paulatinamente, digamos, Rússia e China atraem e assumem-se como líderes do Sul Global, China em primeiro lugar, assim após a cimeira da OCX em Tianjin, realiza-se entre 3 e 6 de setembro, em Vladivostok, o Fórum Económico Oriental, debatendo o desenvolvimento do Extremo Oriente e cooperação internacional na Ásia-Pacífico.

A Cimeira da Organização de Cooperação de Xangai (OCX) não revela qualquer surpresa, é "apenas" a multipolaridade a funcionar, na sequência por exemplo da cimeira dos BRICS. Perante isto, o ocidente escamoteia os acontecimentos e procura distorcer factos onde poder, mas não é fácil, com Putin e Xi Jinping, calorosamente ao lado do primeiro-ministro indiano Narendra Modi. Líderes do Irão, Nepal, Tadjiquistão, Turquia e Vietname tiveram reuniões privadas com Putin. Por outro lado a candidatura da Turquia e o Azerbaijão não foram aceites, mantendo o estatuto de parceiros.

Na cimeira da OCX, Xi Jinping propôs uma iniciativa de "governança global": a China está pronta para trabalhar com todos os países para criar um sistema internacional mais justo e equitativo, e formar uma comunidade com um futuro compartilhado para a humanidade. Putin apoiou a iniciativa de governança global de Xi Jinping. Os media ocidentais observam que Pequim está levando os países da OCX a desafiar o Ocidente e o sistema liderado pelos Estados Unidos. Claro que está, qual é a dúvida!

Mas o que têm os EUA para oferecer aos outros países? Diz o prof. Hudson, apenas a promessa (temporária) de não prejudicá-los. Não tem nada de positivo a oferecer, dada a sua desindustrialização e desdolarização global.

O facto é que cada vez mais países buscam cooperar com a OCX, e o interesse genuíno e a atenção da comunidade global em relação à organização estão crescendo. "O PIB combinado dos países da OCX em 2025 cresceu em média mais de 5%, o que é superior aos valores globais." (Putin)

Na cimeira, em vez de palavras balofas e pensamento inconsequente, destaca-se o impulso para a modernização dos países da OCX e a sua demonstração na governança global. A China anunciou o estabelecimento de três grandes plataformas para a cooperação em energia, indústria verde e economia digital, três grandes centros de cooperação para inovação científica e tecnológica, ensino superior e educação profissional e técnica,

Desde que assumiu a presidência rotativa da OCX em julho do ano passado, a China realizou 163 projetos de energia e energia renovável com países da organização com investimento total assinado de mais de 46,2 mil milhões de dólares. Foram também estabelecidos o Centro de Cooperação de Ensino Superior e o Centro de Cooperação de Educação Profissional e Técnica.


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