O General Carlos Branco abrindo a porta ao que se seguiu- a operação de falsa bandeira e, diga-se, muito mal enjorcada, dos drones russos na Polónia:
A coligação dos indispostos
Macron
queria que os EUA se comprometessem, mas, do “outro lado da linha”, não
só não veio qualquer comprometimento, como Macron ouviu o que não
esperava. Os EUA não colocarão forças terrestres na Europa, nem
funcionarão como backstop das forças europeias.
Carlos Branco, Major-General
No
dia 4 de setembro teve lugar em Paris mais uma reunião do grupo de
países que integra aquela coligação, liderada pelo presidente francês
Emmanuel Macron e pelo primeiro-ministro britânico Keir Starmer, para
ultimar os trâmites de uma força europeia conjunta (terrestre, aérea e
marítima) e combinada a ser projetada para a Ucrânia. O enviado
norte-americano Steve Witkoff também esteve presente no encontro, mas
por apenas 20 minutos. O evento parece, pois, não ter corrido muito bem
aos seus promotores.
Tudo
se azedou quando Macron telefonou ao presidente norte-americano Donald
Trump a dar-lhe conta das conclusões de mais este conclave. Uma vez
acordados os preparativos, faltava agora o comprometimento de Trump em
lhe dar apoio. Segundo Trump, na sequência da conferência do Alasca,
Putin não se oporia à colocação de uma força internacional em território
ucraniano no âmbito das tão faladas garantias de segurança.
Macron
queria que os EUA se comprometessem, mas, do “outro lado da linha”, não
só não veio qualquer comprometimento, como Macron ouviu o que não
esperava. Os EUA não colocarão forças terrestres na Europa, nem
funcionarão como backstop das forças europeias. Trump relembrou Macron,
que se pretende apoio americano, os europeus terão primeiro de colaborar
nas sanções à Rússia e começar por deixar de comprar petróleo russo à
Índia. “Porque é que a Europa não sanciona a India?” Questionou Trump.
Washington
também quer que a Europa se comprometa. “Eu [Trump] quero que vocês
cortem o comércio com a China e com a India,” insistindo na ameaça
furada das sanções secundárias, enquanto instava os europeus a comprarem
americano. O que inevitavelmente terá de acontecer, uma vez que a
extração de gás dos campos de Yamal, que abastecia a europa, foi
desviada para o fornecimento à China. Não bastava a política de tarifas,
os europeus têm agora menos alternativas em matéria de segurança
energética, agravando a sua dependência dos EUA.
Os
EUA não dão garantias de segurança, mas vendem armas. O Congresso
prepara uma proposta de criação de um fundo para o qual os europeus
contribuirão com dinheiro para repor o equipamento militar enviado para a
Ucrânia. Por outras palavras, o apoio norte-americano à Ucrânia
continua, mas com dinheiro europeu, como tinha anunciado Trump.
Com
a Rússia a ganhar a guerra, sem conseguir o tão desejado
comprometimento de Trump e com os EUA a distanciarem-se da Europa,
Macron e os seus acólitos começam a entrar em pânico. Nem Moscovo nem
Washington os ouvem. Uma vez excluídos do processo negocial, querem à
tripa forra ter algum protagonismozinho, agarrando-se desesperadamente
às garantias de segurança, apesar de ainda não se visualizar quando e
como terminará o conflito. Zelensky, que também esteve presente na
reunião, percebeu a charada à volta da discussão das garantias de
segurança e perdeu a paciência com Macron.
Nas
suas contradições, Zelensky abandonou o objetivo de expulsar os russos
do território ucraniano, optando por somente congelar as hostilidades na
linha de confrontação. Afinal “para nós, a sobrevivência é a vitória”.
Segundo ele “O objetivo de Putin é ocupar a Ucrânia…, é claro, quer
ocupar-nos completamente. Para ele, isso é uma vitória. E enquanto ele
[Putin] não conseguir fazer isso, a vitória está do nosso lado
[ucraniano].” Talvez isto justifique que, apesar de estar frustrado com
os europeus, não seja ainda tempo de fazer cedências, pois pode ainda
ganhar.
Os indispostos
parecem não ter percebido duas coisas fulcrais: (1) Não vai haver
cessar-fogo, nem a Rússia vai permitir a presença de forças
internacionais na Ucrânia – Moscovo deixou claro o seu veto à colocação
de quaisquer forças europeias em território ucraniano, que serão
consideradas alvos legítimos; (2) Os líderes europeus já não podem
contar com os Estados Unidos, como garantia da sua segurança.
A
surdez de Macron tem-se acentuado. Ainda assim, convém lembrá-lo, bem
como aos seus compagnons de route, que a guerra na Ucrânia começou
exatamente para evitar a colocação de forças estrangeiras em território
ucraniano. Parece não ser difícil de descortinar que, ao estar agora
numa situação vantajosa, Moscovo nunca o permitiria. A ideia peregrina
de enviar forças após o cessar-fogo, a ser exequível, não estimula Putin
a assiná-lo. Ainda por cima, quando Trump já concordou que o
cessar-fogo, que depende dos russos, não é o caminho a seguir.
A força militar europeia
Desconhecem-se
os contornos exatos dessa força: missão, composição e local onde poderá
vir a ser colocada. Sendo improvável a sua colocação na linha da
frente, talvez fique numa zona de retaguarda. Tudo indica não se tratar
de uma força de “peacekeeping” ligeiramente armada com a missão de
patrulhar a linha de contacto. Também não seria uma força neutra de
manutenção da paz e interposição – pelo contrário, seria uma força de
dissuasão com capacidade ofensiva. Adicionalmente, essa força forneceria
também logística, conhecimentos especializados em armamento e formação —
embora talvez tivessem mais a aprender do que a ensinar — para ajudar a
reconstruir as forças terrestres da Ucrânia, após um acordo de paz.
Os
anunciados 25 países disponíveis para participar na força parecem
insuficientes. O Reino Unido fez saber as suas limitações em forças
terrestres. Estaria disponível para colaborar com aviação e navios,
começando já a salivar com a possível presença de fragatas britânicas no
Mar Negro.
A Polónia e a
Itália já disseram que não participariam. A Alemanha, também não,
apesar daquilo que gostaria o Chanceler Merz. Talvez o Luxemburgo, a
Bélgica, os países Bálticos e outros estarão disponíveis para
participar. A Roménia exclui o envio de tropas para a Ucrânia, mas o
país está preparado para oferecer a sua infraestrutura militar —
incluindo bases aéreas operadas pela NATO — para uso das forças aliadas.
Todos esses planos, no entanto, enfrentam uma dura realidade: a Europa
não pode montar uma tal operação sem o poder aéreo dos EUA no Mar Negro.
Está
igualmente por saber qual seria a cobertura legal dessa força e o papel
do Conselho de Segurança na sua autorização. Muito haverá ainda por
clarificar. Entretanto, o “Le Monde” adiantou a possibilidade de serem
colocadas forças na Ucrânia ainda “antes da assinatura de um cessar-fogo
não depois, a fim de ‘pressionar’ Putin a aceitar essa trégua.” Fontes
não certificadas referem que forças francesas poderão estar secretamente
em deslocamento para território ucraniano, à semelhança daquilo que
Moscovo acusa Merz de estar a fazer com mísseis.
Os
dirigentes europeus sentem que os russos estão a vencer e os americanos
a afastar-se. Estão desesperados e começam a entrar em pânico, depois
de terem passado três anos a vender ilusões às suas populações. Afinal a
Rússia já não está todas as semanas à beira do abismo. Agora, o
objetivo é fazer com que soçobre antes da Ucrânia implodir. Não só a
perceção da realidade se torna cada vez mais evidente, como escasseiam
ideias claras sobre o modo de evitar uma catástrofe geoestratégica.
Charadas sem sentido, como esta da força internacional, provam o
argumento deste texto.
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