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3 de março de 2011

Merkel toca, Sócrates dança

A espiral descendente

Afirmámos há muito, que a redução do défice orçamental a «mata cavalos» não só não levaria os mercados - leia-se grandes bancos e respectivos fundos de pensões - a diminuir as taxas de juro, como conduziria a economia para a recessão. E esta serviria de pretexto aos mercados para continuarem a exigir exorbitantes taxas de juro com o argumento de que, com a economia a decrescer, não era crível que o país viesse a saldar as suas dívidas.

É o que está a acontecer.

Mais, com a recessão da economia, as receitas tendem a abrandar - mesmo com novos impostos e a pressão sobre as despesas sociais - desempregados... tende a aumentar mesmo com cortes nos salários e nas prestações sociais.

Por isso, o governo, com a sua táctica de ir lançando umas notícias para a comunicação social, já está a preparar o terreno para novas medidas de austeridade, para os mesmos de sempre. E até exagera nessas «fugas» de notícias para que a opinião pública, quando elas se concretizarem, possa dizer que :- afinal, não são tão más como se dizia.! Um truque velho dos cínicos e hipócritas.

Depois, como a recessão se vai aprofundar, novas «medidas» se prepararão, numa espiral descendente até...” ao dia de raiva”.

É neste quadro que tem de se avaliar a ida de Sócrates a Berlim, a convite da sra. Merkel. A postura do primeiro-ministro neste encontro com a sra. Merkel foi claramente a de «subserviência». E, apesar de se ter insurgido, em reacção à pergunta de um jornalista sobre o assunto, o que é certo é que Sócrates disse ir dar o seu acordo ao «pacto de competitividade», um pacto leonino e neocolonial que Merkel engendrou, para sossegar o nacionalismo alemão.

Como aceitou os elogios às medidas do seu governo e calou-se, perante a afirmação de que as medidas previstas «têm de ir mais longe».

É a postura do aluno que foi prestar contas à mestra, a postura do mordomo que presta contas à patroa.
Uma vergonha para Portugal.

Se o primeiro-ministro comentasse as medidas da sra. Merkel e dissesse que as que tem aplicado são suficientes, mas que é preciso ir mais além, como reagiria a imprensa alemã? Como reagiria a sra. Merkel?

E, na posição de cócoras, é claro que não obteve da sra. Merkel nenhum compromisso quanto à possibilidade de o Fundo vir a comprar dívida pública aos Estados, a maneira expedita de se pôr fim à especulação que continuará, até à exaustão, quer se faça, quer não se faça o dito «trabalho de casa», isto é, a redução do défice.

Muitos comentadores, perante o facto de sermos devedores, dizem que a «subserviência» é «irrelevante», e que o facto de os bancos alemães estarem expostos à nossa dívida, e de isto também poder ser um factor de pressão da parte portuguesa, é um argumento «infantil».

Sim, quem tem uma postura de um cãozinho de companhia, de um caniche, se utilizasse tal argumento, seria naturalmente para rir.

Portugal deve combater o pacto neocolonial da sra. Merkel e, da mesma maneira que esta se reune com o sr. Sarkozy, antes de qualquer cimeira, a diplomacia portuguesa devia tentar, também, que houvesse um encontro dos países da periferia (Irlanda, Espanha, Portugal, Grécia).

Ao eixo franco-alemão contrapunha-se o eixo dos países periféricos, vítimas da política do euro forte e das regras da União Europeia, que têm beneficiado a Alemanha e o” Directório das grandes potências.”

E o argumento decisivo para se colocar à mesa das negociações seria o da “reestruturação da divida”, se a sra. Merkel continuasse a não aceitar novas regras para o dito Fundo Europeu -compra directa da dívida pública aos Estados. A sra Merkel sabe que se estes países pedissem a reestruturação da dívida, o capital financeiro ligado aos E.U e à Inglaterra e não, só desencadearia de imediato um ataque em forma contra o euro, de consequências imprevisíveis

Alguns, mais papistas que o papa, dizem-nos que a opinião pública alemã não está disposta a continuar a financiar Estados falidos!!

Não há uma voz que se levante e diga à opinião pública alemã que a Alemanha foi, e tem sido, o país que mais beneficiou da União Europeia e da União Económica e Monetária? Que foi o país cujas exportações mais beneficiaram da livre circulação de mercadorias. Que foi o país que mais beneficiou da política do Banco Central Europeu e do euro forte, designadamente na atracção de capitais e poupanças.

Os colonizadores sempre atribuíram aos colonizados as culpas pelos seus insucessos económicos, escondendo a troca desigual, a dominação e os resultados do embate entre a “panela de ferro e a panela de barro”.

Por isso,um forte apelo a que digamos” NÃO” à dominação e ao neocolonialismo do “directório das grandes potências” da União Europeia! E “Não” à agiotagem do capital financeiro!.

Viva Portugal Independente e Soberano!

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