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14 de março de 2011

O PEQUENO DICIONÁRIO CRÍTICO

1 – POLÍTICOS E POLÍTICAS
Não, não se trata de questões de sexo. Trata-se de: “vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar” – como se cantava em certa canção.
De facto, lemos, ouvimos e vemos, indignadas personagens, imitando o velho Catão no senado de Roma, falarem do “descréditos dos “políticos”; da “classe política”; do “tempo de vergonha dos nossos políticos”, da “falta de líderes”: Por vezes condimentado com a profunda asserção de que “não existe nem esquerda nem direita, isso é folclore”, “não temos dinheiro para isso” e “todos são responsáveis”.
Faz-se apelo ao emocional e pouco ao racional, o que, digamos, em política é muito má conselheira. Foi com este género de apelos que se fizeram perseguições e se encheram cárceres e campos de concentração.
O que se pretende afinal? Gritaria contra os “políticos”, apelos a “lideres”? É assim que se procuram as causas e se resolvem os problemas?
Fala-se contra os “políticos”, mas quando as pessoas querem civicamente mostrar o seu repúdio por estas “políticas”, aqui o tom é muito diferente, quando não abertamente repudiadas, são desprezadas: “não vão servir para nada”.
Pelos vistos “as políticas” estão certas “os políticos” estão errados! Deviam ser outros…”Profissionais”.
Dizia Emile DurKeim, o fundador da moderna sociologia, que o demasiado geral em sociologia não tem significado. Falar em “políticos” é ignorância ou má fé, roça a boçalidade. “Político” é uma pessoa que tem responsabilidades políticas; pessoa que participa na vida política. Não haverá ninguém honesto, competente, sério, na vida política? Nenhum membro de partido nenhum? Estranho? Nenhum presidente de câmara, de junta de freguesia, de sindicalista? Participar na vida política será para estes senhores tão “vergonhoso”?
Também os qualificativos se aplicam aos tais “profissionais” e aos desejados “lideres”? Uma das formas de manipulação da opinião (e erro de raciocínio segundo a Lógica) é tomar o particular pelo geral: centrar-se no particular para deformar o entendimento sobre o geral.
Dizia Aristóteles que o homem é um animal político. Porém para os ”opinion makers” a política deve ser entregue a “profissionais”. Quais? Militares? Polícias? Banqueiros? Mafiosos? Mas vai-se mais longe. Diz-se que “nem esquerda nem direita”. São todos o mesmo, acabe-se com eles: “o caminho tem de ser outro”. E “todos têm responsabilidades”? Bem, é como se num julgamento, juiz, advogados, testemunhas, acusados, fossem todos condenados por igual!
Isto torna-se mais importante pelo que não se diz, mas está implícito, com ingénua aceitação dos incautos. Foi (e é) com apelos deste tipo, com puritanismos escandalizados, com questões semelhantes que os fascismos se impuseram. O apelo ao irracional. Foi com esta conversa contra os “políticos” – todos menos ele e comparsas – e contra os partidos – todos menos os seu, que Salazar chegou ao poder e se manteve 48 anos.
É isto que querem? Prisões e espancamentos, para que afinal os novos políticos, isto é, “lideres” e “profissionais”, ponham em prática afinal as mesmas “políticas” sem serem perturbados? Repressão em nome de “mudar as estruturas do poder” sem “esquerda nem direita”, que não temos dinheiro para isso”. Pudera, não chega para os banqueiros e os monopolistas, piamente absolvidos nestas diatribes tão exaltadas!
Estas indignações em palavras, esquecem uma coisa bem simples: os milhares de milhões de euros que todos os anos são auferidos por banqueiros e grandes accionistas dos quase monopólios que abafam a economia nacional e saem do país para paraísos fiscais. Também não se fala dos rendimentos escandalosos desta gente. Ao pé deles os - excessivos – salários de gestores públicos, são ninharias. Claro que não são estes que têm “excesso de garantias no trabalho”.
Parece que também não os incomoda nada o BCE emprestar dinheiro aos bancos privados a cerca de 1% e estes façam pagar os Estados mais fracos, isto é, o povo, a 7% ou mais.
Como conclusão: Lembro que o Titanic não se afundou pela parte visível do iceberg. Quanto a “políticos” e “políticas”: para se perceber o que dizem, o que importa é saber quem os financia - isto é, que interesses defendem -  e como votam na AR, mais do que espalham para a opinião pública.
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A seguir: “Socialismo do século XXI”

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