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29 de março de 2011

O PEQUENO DICIONÁRIO CRÍTICO - 6 - KEYNESIANISMO - I

Keynes tem o privilégio de ser tão ou mais detestado que Carl Marx pela actual teologia neoliberal. Aliás na Europa foram expulsos das Universidades – dir-se-ia telecomandadas – praticamente ao mesmo tempo. Na realidade, ao expulsarem um não se estava muito longe de expulsarem o outro.
Quando Keynes apresentou as suas teses foi acusado pela direita de querer conduzir as sociedades para o socialismo; à esquerda, criticavam-no por querer apenas salvar o capitalismo. Curiosamente, ambos os lados tinham razão.
John Maynard Keynes, barão de Tilton, pretendeu reformar o capitalismo. Na sua opinião para a sua preservação era necessária uma maior intervenção do Estado na economia. Numa economia moderna não já não era aceitável o “laissez-faire” liberal, aliás escreveu em 1926 “O Fim do Laissez-Faire”.
Não foi com Keynes que se iniciou o chamado “capitalismo monopolista de Estado”, mas foi sem dúvida com Keynes que se deu o seu maior aprofundamento e poder de intervenção. Antes de Keynes já marxistas tinham afirmado que entre o capitalismo monopolista do Estado e o socialismo havia apenas um degrau.
De facto, Keynes salvava o capitalismo no curto prazo, mas liquidava-o a longo prazo. As crises económicas eram ultrapassadas sem os grandes traumas da depressão de 1930, mas por meio de uma maior intervenção e controlo do Estado na economia. Foi assim até ao início dos anos 80 do século XX. Por esta altura, mais um passo e o controlo da economia ficava de forma decisiva nas mãos do poder político, tal como socialistas e social-democratas europeus tinham reivindicado – com maior ou menor sinceridade, diga-se - até aos anos 70.
É esta a razão do domínio neoliberal. Quem se apercebeu primeiro da situação foi o sector conservador norte-americano. Reagan chama os homens da escola monetarista, que acumulou então prémios Nobel, e diz: “É preciso destruir 50 anos de socialismo na América”. Afirmação espantosa, mas que se entende se pensarmos nas teses de Keynes e em algumas das medidas de Roosevelt para sair da depressão - e igualmente dos governos europeus do pós-guerra - face ao que é hoje a ideologia neoliberal.
A lição de Keynes era a própria evidência: baixando salários, baixava a procura, a produção e o investimento – aumentava o desemprego, a economia estagnava ou regredia. A solução seria aumentar o investimento, donde: mais emprego, mais salários mais procura: O PIB crescia. Keynes ia mais longe: se o sector privado não investia da forma necessária e suficiente competiria ao Estado fazê-lo.
Aliás um dos aspectos que preocupava Keynes era justamente a redução da procura devido à desigualdade de repartição do rendimento nacional. Assim, os impostos fortemente progressivos e o combate aos monopólios privados favorecendo a capacidade do Estado intervir eficazmente na economia e na esfera social.
Estas medidas foram adoptadas permitindo períodos de expansão económica e de direitos sociais nos principais países capitalistas sem paralelo na sua História.
Em “Teoria Geral do Emprego, Juro e Dinheiro” (1936) e “Teoria do Dinheiro” (1930) estão expostas as formas como na sua opinião o Estado deve intervir na economia.
Keynes foi posto actualmente posto no Índex pela actual Inquisição neoliberal. Aluno de economia que defenda as suas teses condena-se a reprovar ou com muito esforço noutras questões à nota mínima.
A miopia político-económica vigente vai ao ponto de se desclassificar como “soluções do século XIX” algo que tenha a ver com Keynes! Mas são precisamente as soluções que vigoraram até ao final dos anos 70 do século XX!
Fala-se actualmente em neokeynesianismo. Mas é algo que nada tem que ver com o original. Apenas medidas na essência monetaristas – “the suplly side economy” - uma forma do Estado retirar dinheiro à procura para salvar a finança especuladora e garantir lucros aos mono e oligopólios.
Eis algumas razões pelas quais Keynes foi repudiado, negado, amaldiçoado, não havendo agora praticamente um único economista ou comentador de serviço que defenda publicamente as medidas e os objectivos preconizados por Keynes para ultrapassar as crises.
A seguir: 7 – Keinesianismo - II

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