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16 de março de 2011

O regresso dos clássicos

O jornal Público tornou-se, nestes últimos dias e à volta da manifestação da “geração à rasca”, através dos seus articulistas residentes num verdadeiro alforge onde se depositam exóticas soluções e saídas para os problemas dos precários e do país e se dão os mais assombrosos e paternalistas conselhos aos jovens manifestantes.

Vê-se que estão preocupados e com receio que o movimento de protesto engrosse a luta dos que há muito combatem contra a situação a que o país chegou e querem que a sua iniciativa dê em “águas-de-bacalhau”.

Seguindo a orientação desse eminente condutor de massas que se dá pelo nome de José Manuel Fernandes que alerta para o perigo de se entregar “a geração à rasca de mão beijada aos defensores de soluções ultrapassadas”, não tardou a ver concretizado o seu apelo, pela fina escrita de dois brilhantes articulistas, os senhores Pedro Lomba e Rui Tavares.

Se José Manuel Fernandes já nos tinha brindado com a clássica solução neoliberal de nivelar por baixo toda a gente, para não haver portugueses de primeira e de segunda, ficando tudo a precários e acabando com o que diz serem “garantias fictícias” na lei (ainda não percebi porque é que sendo fictícios os direitos está tão empenhado em extingui-los), Pedro Lomba e Rui Tavares cada um à maneira do seu posicionamento na bolsa do alforge, na bolsa da direita o senhor Lomba, na da esquerda o senhor Tavares, fazendo jus ao seu conhecimento dos clássicos, foram mais longe no refinamento na procura de desviar os jovens dos maus caminhos.

O direitista Lomba recorrendo à táctica do entrismo de Trotsky, apela aos jovens para se filiarem nos partidos para os mudar por dentro e, particularmente para se filiarem “no PSD e CDS que são os que mais naturalmente assumiram o discurso da ruptura e da abertura a para ultrapassar o impasse (o tipo é mesmo um artista da mistificação).

O descaramento é grande. Primeiro, porque falar de ruptura de partidos que deram vida nos últimos trinta anos ao rotativismo da alternância sem alternativa é um embuste. Segundo, porque sabe que por muitos que se inscrevessem em tais partidos não mudariam absolutamente nada, nem agora, nem nos próximos vinte anos e no dia em que os interesses que representam tais partidos (os grandes interesses económicos e financeiros) fossem postos em causa, ficavam a falar sozinhos ou postos todos na rua.

O senhor Lomba não é inocente e sabe disso. A sua única preocupação é impedir que os jovens venham para a luta organizada no plano político e social e abracem um projecto sério de combate à exploração e à sociedade que a alimenta.

O senhor Tavares também quis dar o seu contributo, não sei se inspirado nos clássicos Owen ou se em Fourier, com as suas propostas de neomutualismo em nome da reinvenção de laços de solidariedade.

A sua solução é pôr os movimentos dos precários a porem em tribunal as grandes empresas que não cumprem e os advogados precários e desempregados a dar uma força a esse combate, entre outras propostas como a constituição de cooperativas de creches para responder a problemas reais dos precários.
E a política senhor Tavares que tudo comanda e que faz e altera as leis que os tribunais executam, aonde fica? Nas mãos dos mesmos?

Há uma coisa que tenho dificuldade em compreender: como vão os advogados defender os precários em tribunal se as leis escancaram todas as portas à precariedade?

E depois há um outro problema: mandamos para o lixo as organizações actuais que são formas de organização solidária e que dão também resposta a estes e outros problemas de quem está no mercado de trabalho?

Ou será que o grande problema do senhor Tavares com essa necessidade de reinventar laços de solidariedade é que lá no fundo tem a mesma preocupação do senhor Lomba, desviar os jovens do “mau caminho” da luta organizada e que faz mossa?

Já agora no próximo dia 19 a luta continua com a grande manif da CGTP e os precários não só lá cabem como são precisos para continuar a dar força à luta!

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