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30 de abril de 2011

A reestruturação das Dívidas vista pela imprensa dos negócios

A confissão de que quando um país avançar para a reestruturação da dívida será o Euro e os bancos especuladores que ficarão em causa.
 
Apagar o incêndio europeu

Escrito por ERIC LE BOUCHER
Director de redacção – Enjeux Les Echos

O incêndio europeu ainda não está extinto. Exactamente um ano depois de terem engendrado o plano de salvação da Grécia de 110 mil milhões de euros, depois do início dos incêndios na Irlanda, em Portugal, na Espanha, o vento levanta as chamas à volta de Atenas. As taxas de juros exigidas para os empréstimos gregos subiram além dos 15%, depois do ministro das finanças alemão, Wolfgang Schaube ter falado de uma “reestruturação voluntária” da dívida desse país depois da nova avaliaçao do défice a 10,5% do PIB contra o objectivo oficial de 9,4%. O governo Papandréou, sem demora anunciou um reforço das medidas de austeridade, mas nada feito: os mercados financeiros estão convencidos da incapacidade da Grécia em reembolsar a sua dívida de 340 mil milhões de dólares. Aos olhos deles, o país está insolvente.

A questão é evitada em público pelos governos europeus, mas evidentemente está colocada: deve-se dar razão aos mercados e reestruturar a dívida grega? É isso necessário para apagar uma vez por todas o incêndio da zona euro? Ou, pelo contrário, isso vai reacender as dúvidas sobre os outros países em crise?

Desde há um ano, os dirigentes europeus responderam como era preciso aos ataques dos mercados. Plano de ajuda à Grécia, à Irlanda e depois a Portugal. Implementação de um mecanismo europeu de estabilidade (ESM), fundos de apoio permanentes que marcam um avanço considerável para um federalismo orçamental e fiscal. Enfim, adopção de um pacto de competitividade que, a médio prazo, deve evitar que uma crise renasça das divergẽncias macroeconómicas entre os países membros. Acontece que, estas reformas, foram todas tardias. Ao ritmo das políticas, a velocidade é vertiginosa; ao ritmo dos mercados, ela acalentou dúvidas. As actuais interrogações dos traders não têm mais a ver com uma crise de solvabilidade, da sua capacidade de reembolsar.

Sobre a Grécia a dúvida deles é total. A dívida atinge 150% do PIB. Para a estabilizar é preciso um plano de rigor que economize, conforme as hipóteses entre 7% e 14% do PIB de aqui até 2015, segundo o Instituto Bruegel (1). Para tornar a trazer esta dívida para os critérios de Maastricht (a 60% do PIB), o esforço comporta entre 12% e 18% do PIB. Nenhum país da OCDE conseguiu fazer melhor do que 6%. A cura infligida aos gregos não tem precedentes.

O plano europeu conseguiu tornar a trazer a taxa de empréstimo para os 4,2% e alongar os prazos de três anos, mas não chega, longe disso. O cenário pior é que, se se forçar a dose, encerra-se o país na austeridade, privando o Estado grego de receitas fiscais e obrigando-o a afundar-se ainda mais na austeridade e a entrar numa espiral sem fim. Em breve, a população grega, que até agora aceitou apertar o cinto, recusará. O nível de aceitação social e político será ultrapassado.

Mas as objecções são numerosas e justificadas. Depois da Grécia, porque não a Irlanda? (dívida de 110% do PIB)? Ou Portugal (dívida de 90% do PIB)? Tendo os mercados obtido uma vitória redobrarão a força dos seus ataques.Segunda objecção: anular os créditos vai levar ao tapete o sistema bancário grego, o que se vai repercutir nos bancos credores, alemães e franceses, em primeiro lugar. Em resumo, o sistema de contágio será devastador. Por fim, a última objecção: reestruturar será admitir que um país do euro pode não cumprir. Será fazer uma nódoa indelével no euro. A credibilidade da moeda comum, fruto do trabalho encarniçado do Banco central europeu, paga desde há dez anos por taxas de juro mais fortes que para o dólar, esta credibilidade será destruída.

São grandes estes riscos. É grande a tentação de dizer “à alemã”: os gregos erraram, que paguem. Contudo o risco inverso é superior: aquele de uma explosão social que leve o governo grego, a não cumprir, no meio da confusão. A razão leva pois a organizar as coisas e a passar um traço sobre uma parte (um terço) da dívida, por forma a enquadrar o esforço exigido nos limites severos do possível. Deve-se prevenir o contágio em paralelo clarificando as situações reais da Irlanda e de Potugal e de um modo global, dos bancos europeus. O plano é anunciar tudo em conjunto: tais incumprimentos por tal ou tais países e por tais consequências. Em resumo antecipar-mo-nos aos e cruzar os dedos para que o acaso não comece o incêndio noutro sítio.

29 de abril de 2011

IMPOSTOS SOBRE O CONSUMO OU SOBRE AS EMPRESAS?!

Srs. professores - comentadores e comentadores - srs. professores, dizem com ar seráfico, algo enfadado, mas com seu quê de tolerante desdém pelos ignaros que os obrigam a ter de expor a sua sapiência, que: ou se aumentam os impostos sobre o consumo ou sobre as empresas. Ah! As escolhas neoliberais… fazem lembrar aquela cena do Raul Solnado quando o “inimigo” lhe pergunta: “E tu como te chamas?” “Maria Alice – malandrice”! Pois é, impostos sobre o consumo ou sobre as empresas? São só estas as escolhas? Malandrice! Então não há aumento de impostos para o sector bancário e financeiro e aos grupos económicos; impostos sobre transferências para o exterior; tributação das mais-valias mobiliárias; dos dividendos distribuídos por SGPS; tributação especial sobre património de luxo; etc.

Os que de costume se mostram tão preocupados com as vantagens para o consumidor quando se trata de defender o “free-trade”, recusando medidas de defesa da produção nacional, parece que tudo esqueceram. Malandrice!
Não, impostos sobre o grande capital monopolista e especulador não fazem parte do universo dos srs. professores propagandistas do neoliberalismo. Deviam explicar então como melhora o funcionamento das empresas reduzindo o consumo. Parte dele é importado, é certo, mas terão os srs. professores feito a avaliação das elasticidades desses consumos para dizer que não será a produção nacional a mais prejudicada. É que propostas concretas para a sua defesa não se conhecem, apesar de tanto palratório.
Que estudos existem para demonstrar que diminuindo a procura aumenta a oferta?! É que não é certamente por esta via que aumenta a produtividade e a competitividade. Parece que se limitam a repetir o que os mestres do neoliberalismo “recomendam” ou permitem. Chama-se a isto escolástica.
Expropriação dos que menos têm e das classes médias, é o que está em causa para proteger não “as empresas”, mas o capital monopolista e a finança especuladora transnacional. Pode chamar-se a isto – talvez impropriamente – maltusanismo económico, porém é certamente, o que referíamos no “Pequeno Dicionário” sobre neoliberalismo (14):
“Ernest Hemingway dá-nos no seu livro “Por Quem os Sinos Dobram” uma explicação muito curiosa daquilo que viria a ser o neoliberalismo. Em determinada cena, Jordan, combatente internacionalista norte-americano, explica que no seu país “os abusos dos grandes proprietários eram combatidos pelos impostos progressivos que actuavam sobre os rendimentos e as heranças”. O combatente republicano responde então: “Com certeza que os grandes proprietários ainda acabam por fazer uma revolução contra os impostos. Esses impostos parecem-me revolucionários. Eles vão-se revoltar contra o governo quando se virem ameaçados, exactamente como os fascistas fizeram aqui”. Pergunta ainda o combatente espanhol se havia na América muitos fascistas. Ao que o americano responde: “Há muitos, mas não sabem que o são”.
O neoliberalismo é isto. O resto é escolástica.

Desde 2007 as ajudas aos bancos europeus custaram aos Estados mais de 69 mil milhões de euros

Os défices e as dívidas de uma dezena de países europeus aprofundaram-se em 2010 por causa dos apoios concedidos aos bancos. Segundo os números compilados pelo Eurostat, a França é o país que, pelo contrário, mais ganhou com esses apoios.

Em 2008 e 2009, o défice global da União Europeia aprofundou-se em 0,1% do PIB por causa dos diferentes apoios concedidos.
Em 2010, a situação ainda se agravou mais com um “buraco” de 0,4% do PIB da União Europeia. O custo desses apoios atingiu cerca de 44 mil milhões de euros, cerca de três vezes superior à do ano anterior (15 mil milhões). Em três anos, o custo ultrapassou os 69 mil milhões.

Estes números não contemplam as medidas tomadas pelos bancos centrais, os apoios ao sector não financeiro e as medidas mais gerais de apoio à economia. 

Situações muito diversas

As situações divergem muito de país a país. Sem surpresa é a Irlanda, onde as intervenções se concentraram em grandes bancos, como o Anglo Irish Bank e a Irish Nationwide Building Society,  quem mais sofreu com o impacto sobre o défice do país, na ordem de 20.7% do PIB. No total o custo destas diferentes ajudas está avaliado em quase 36 mil milhões de euros desde 2009, o ano das suas primeiras intervenções. É quase metade do custo total registado nos 27 países da União entre 2007 e 2010.




Outros exemplos: as ajudas públicas aprofundaram o défice da Alemanha em 0,4% em 2010 e engordaram a sua dívida de 9,5% do PIB. Em Portugal, o impacto é de 1% sobre o défice e 2,1% sobre a dívida.

Uma mão cheia de países, como a Alemanha, a Irlanda ou o Reino Unido, devem ainda gerir os activos tóxicos alojados em carteiras específicas ou nos bancos públicos.

O Eurostat sublinha aliás que “nalguns casos”, as medidas de intervenção não têm um impacto imediatamente mensurável sobre o défice. O organismo convida as autoridades de estatística de cada país a vigiar as futuras evoluções destas intervenções e de as registar se houver necessidade disso “como despesas do Estado que têm impacto sobre o défice“.

Em todo o caso, uma dezena de países souberam tirar o cavalinho da chuva. “Em certos países europeus, os défices públicos foram ligeiramente reduzidos graças às intervenções dos governos, resultantes da alta de rendimentos gerados pelos pagamentos dos custos de garantia e os encargos de juros dos instrumentos financeiros adquiridos pelos Estados (empréstimos e títulos de dívida)”, sublinha o Eurostat.

A redução mais importante do défice ocorreu na Dinamarca com uma subida de 0,3% do PIB sobre o período 2008-2010.

Em França, a redução do défice é da ordem de 0.1% como na Bélgica, Espanha, Eslovénia e Suécia.

Em montantes absolutos, a França fica mesmo à cabeça dos países da União para quem as ajudas constituíram um ganho financeiro com um total de 2,4 mil milhões de euros que vieram reforçar o orçamento do Estado entre 2008 e 2010. 

(a partir do texto escrito pela jornalista Rejane Reibaud)

26 de abril de 2011

O PEQUENO DICIONÁRIO CRÍTICO - 14 – NEOLIBERALISMO

Já aqui temos falado de neoliberalismo. É altura de dizermos do que falamos. Há tempos certo senhor perguntava com ar ofendido ao ter sido considerado neoliberal: “Afinal o que é isso de neoliberalismo”? Como diz certo fado: “Na altura disse que não sabia, mas vou-te dizer agora”.
O neoliberalismo é pura e simplesmente o capitalismo actual, o capitalismo na sua fase senil, em particular nos países considerados desenvolvidos – poucos dos demais fogem à regra, ou seja, ao chamado “consenso”. Podíamos dizer que este “consenso” tem por detrás algo como mais de um milhar de bases militares norte-americanas e 13 porta-aviões em 6 (ou 7) esquadras navais.
Para o tema seria necessário um tratado economia, mas não é essa a função de um (pequeno) dicionário. Também não é nosso propósito competir - no seu campo – com ilustríssimos protagonistas, catedráticos ou não, da comunicação social, que na ausência de pensamento independente seguem principalmente a autoridade na matéria, que neste caso são o grande capital e a finança especuladora. Chama-se a isto, segundo os dicionários correntes: “escolástica”. O neoliberalismo é, pois, em termos de pensamento, escolástica.
Comecemos então por tentar simplificar, pois, como dizia Saintt Exupery “a verdade simplifica”. O que não quer dizer as “simplificações” nos levem à verdade. Simplificar na busca da verdade quer dizer que após análise, a síntese nos pode dar o essencial da realidade que procuramos evidenciar. Passemos então a algumas imagens que nos podem esclarecer.
Em certo filme norte-americano, em determinada cena conversam quatro jovens, dois rapazes e duas raparigas, sendo eles irmãos. Pergunta uma das jovens, para o mais velho: “E tu que fazes?” O mais novo responde: “Ele estuda neofascismo”. O mais velho corrige: “Estou na Universidade de ---- a tirar o curso de economia”. Réplica do mais novo: “É a mesma coisa”.
Por outras palavras, o economista John K. Galbraith disse que o liberalismo é o nome falseado da arma dos ricos contra os pobres.
Justamente o neoliberalismo é nos seus conteúdos económicos sociais e ideológicos um neofascismo, que em vários países foi e é imposto através de duríssimas de ditaduras terroristas do capital e dos latifundiários. Foi o caso das ditaduras sul-americanas de trágica memória – não esquecendo a actual Colômbia e o golpe nas Honduras – tal como em vários países do Médio Oriente, da Ásia, da África.
Dos motivos pelos quais aparece o neoliberalismo já apresentámos algumas razões no tema “keynesianismo”, a dialéctica - digamos assim – da questão obrigava-nos a não esquecer a lei da baixa tendencial da taxa de lucro e outras contradições do sistema. São temas que pensamos tratar noutra oportunidade.
Será oportuno recordar que Keynes dizia (em "Teoria geral do Emprego, Juros e Moeda") que deveria ser criado um pesado imposto para todas as transacções financeiras com o objectivo de não permitir que a especulação predominasse sobre a esfera produtiva. Experimente hoje em dia um aluno de economia ou um comentador dizerem isto num exame ou na comunicação social e vão ver o que lhes acontece, nesta “sociedade aberta” do neoliberalismo!
Por estas razões, políticos e doutores em economia (uns acumulando lugares em Administrações, outros acumulando prémios internacionais ou amplas audiências) uniram-se para dar cabo da vida ao mundo inteiro: um verdadeiro programa para destruir nível de vida e direitos sociais, com excepção das camadas monopolistas e sua clientela (no sentido romano antigo da palavra) aumentar a taxa de lucro e transformar o dinheiro virtual da especulação em valor real, isto é: valor-trabalho.
É altura de lembrar um conhecido epigrama de Nicolau Tolentino. Estando um farmacêutico à porta do seu estabelecimento, saúda um médico que por ali passa e diz-lhe: “Unamo-nos, meu doutor e demos cabo do mundo”. Foi isto que os políticos do arco conservador/reaccionário – qualquer que seja a designação adoptada - disseram aos economistas. Claro que havia um prémio chorudo a ganhar, para ambos.
Ernest Hemingway dá-nos no seu livro “Por Quem os Sinos Dobram” uma explicação muito curiosa daquilo que viria a ser o neoliberalismo. Em determinada cena, Jordan, combatente internacionalista norte-americano, explica que no seu país “os abusos dos grandes proprietários eram combatidos pelos impostos progressivos que actuavam sobre os rendimentos e as heranças”. O combatente republicano responde então: “Com certeza que os grandes proprietários ainda acabam por fazer uma revolução contra os impostos. Esses impostos parecem-me revolucionários. Eles vão-se revoltar contra o governo quando se virem ameaçados, exactamente como os fascistas fizeram aqui”. Pergunta ainda o combatente espanhol se havia na América muitos fascistas. Ao que o americano responde: “Há muitos, mas não sabem que o são”.
O neoliberalismo é isto. O resto é escolástica.
Voltaremos ao tema.
A seguir: 15 – Menos Estado - I

25 de abril de 2011

48, um filme imperdível

Desde o passado dia 21 está finalmente no circuito comercial este filme de Susana Sousa Dias.
É um filme/documentário imperdível para todos aqueles que quiserem ver e ouvir o que foram 48 de fascismo em Portugal.
É um filme limpo no verdadeiro sentido da palavra, que a partir de fotografias tiradas pela pide no momento da prisão a alguns presos políticos, a realizadora ouve esses presos e as recordações que têm desses momentos extremamente dolorosos que viveram.
Para todos aqueles que envenenados pelo pensamento dominante nos últimos 37 anos ainda duvidam da existência do fascismo em Portugal, este é um filme que não pode deixar de ser visto.
Ver este filme é nos nossos dias uma outra forma de comemorar o 25 de Abril.

Um claro sinal de perda de soberania

Há muitos anos que acompanho a informação estatística produzida e divulgada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) e posso dizer que nunca assisti a nada igual.
  1. O INE, que eu me recorde, pela 1ª vez procedeu à divulgação de informação estatística num sábado.
  2. O INE, 23 dias depois da divulgação da 1ª notificação de 2011, referente aos chamados défices execessivos (défice orçamental e dívida bruta das administraçãoes públicas), em que divulgou os resultados finais de 2007 e 2008 e os resultados provisórios de 2009 e 2010, veio agora corrigi-los e para pior. O que aconteceu entretanto? Uma troika representante do FMI/BCE/CE acentou arraiais no Terreiro do Paço, tomou conta do nosso país e a partir de agora, com as sempre honrosas excepções à esquerda, todos lhes obedecem servilmente.
  3. Portugal é hoje um protectorado nas mãos desta troika e até a entidade estatística nacional lhe obedece servilmente e se vê obrigada a publicar informação estatística num sábado. Para a coisa ter ainda maior significado só faltou ao INE, fazer esta divulgação hoje 25 de Abril, dia da Revolução.
  4. Comemorar Abril e a sua Revolução tem neste contexto um significado ainda mais acrescido.  

21 de abril de 2011

O PEQUENO DICIONÁRIO CRÍTICO - 13 – BUROCRACIA - II

Devemos distinguir entre os pequenos e os grandes burocratas. O pequeno burocrata é normalmente um indivíduo pouco competente, mal dirigido por hierarquias sem qualificação adequada, que pode infernizar a vida das pessoas individualmente. São como um prurido no tecido social.
O grande burocrata é, como vimos, altamente competente no seu círculo de conhecimentos e dispões de largos poderes discricionários. É como um vírus que contamina e debilita toda a sociedade.
Os “senhores do mundo” de que falava Jean Ziegler precisam de destes últimos. Personalidades unidimensionais, formatados numa visão do mundo unívoca e unilateral, normalmente com elevados padrões de eficiência, como samurais do sistema, indiferentes aos sentimentos humanos alheios. O mito da tecnologia e da pseudo certeza científica, que se traduz em verdadeiros dogmas, é o infestante ideológico do burocrata: são especialistas.
Escreveu Brecht no seu “Galileu Galilei” acerca dos especialistas: ”Com o tempo vós podeis descobrir tudo o que há para descobrir e no entanto o vosso progresso afastar-vos-á cada vez mais da humanidade. O abismo entre ela e vós pode tornar-se um dia tal que ao vosso grito de alegria perante alguma nova conquista científica responderá um grito de horror universal”.
A situação só piora quando transportada para as ciências sociais, para a economia.
Stefan Zweig explica que “segundo Erasmo de Roterdão o humanismo consiste em substituir a ideia religiosa pela ideia de uma irresistível ascensão humana”. O burocrata assume o papel de  moderno inquisidor ao serviço “dos novos senhores do mundo”. Escreve Marx acerca do economista “vulgar:“Assemelham-se nisto aos teólogos (…) Toda a religião que não é a sua é uma invenção dos homens, enquanto que a sua própria é uma emanação de Deus” (Miséria da Filosofia)
Vem a propósito lembrar ainda o que Ortega y Gasset escreveu sobre os especialistas.
“Antes os homens podiam dividir-se em sábios e ignorantes, em mais ou menos sábios e mais ou menos ignorantes. Mas o especialista não pode ser subsumido em nenhuma destas categorias. Não é um sábio porque ignora formalmente tudo o que não entra na sua especialidade, mas também não é um ignorante (...) Temos de dizer que é um sábio - ignorante, coisa de sobremaneira grave. Em política, em arte, nas outras ciências tomará posições de primitivo, de ignorantíssimo, mas tomá-las-á com a energia e suficiência de um sábio, sem admitir – e isto é paradoxal – especialistas destas coisas. Ao especializado a civilização fê-lo hermético e satisfeito dentro das suas limitações”.
Poderão dizer que criticando a especialização limita-se a criatividade. Não, defendemos a criatividade, mas não a dos especialistas. Os especialistas são a contra cultura. A negação da cultura. A cultura tem de ser generalista, ou melhor, abrangente por natureza, englobando obviamente as disciplinas humanísticas. O especialismo representa a desarticulação do saber – como também referiu Ortega e Gasset. (1)
O burocrata é o mais perigoso vírus social, capaz de corromper os tecidos sãos da sociedade onde se aloja, colocando-se ao serviço de poderes discricionários. Direitos sociais, justiça, ideais democráticos, nada se pode considerar imune a estes nematelmintos ao serviço da usura financeira.
Muito se falou da burocracia no mundo socialista. Não é disso que especificamente tratamos agora, porém torna-se necessário referir que a burocracia está no pólo oposto do pensamento marxista.
O mais poderoso antídoto contra os burocratas é a motivação e a participação democrática dos cidadãos alargada a todos os níveis: nos órgãos de poder e nas empresas.
O poder, seja local, regional ou nacional, deve ser permanentemente auscultado com a possibilidade dos eleitores revogarem os mandatos dos eleitos no caso de manifesto incumprimento, incompetência, mentira. As empresas não podem ser monarquias em nome da “eficiência” – para quem?. Não podem ser uma espécie de “távolas redondas” feudais – que era feito do povo na lenda do rei Artur? - em nome das oligarquias. Sem democracia, sem direitos de cidadania nas empresas, a democracia política não passa de uma fachada formal, gerida por burocratas amorais, às ordens do poder oligárquico neoliberal.
Será que isto causaria instabilidade? O laudatório à estabilidade formal procura simplesmente debilitar as resistências sociais à acção dos burocratas. Veja-se onde nos levou a estabilidade burocrática e não esqueçamos que “a burocracia é fautora de guerra civil”.
(1)          - Viria a propósito citar Bento Jesus Caraça, o que faremos noutro tema
A seguir: 14 – Neoliberalismo

20 de abril de 2011

Como de costume eles negam ,negam...

A reestruturação da dívida Grega está a pôr em pânico os bancos alemães e franceses e pode precipitar a reestruturação de outras ,efeito dominó ou bola de neve... o que obrigaria a UE e designadamente a Alemanha e a França a terem que ceder na criação das "obrigações europeias " ou a pemitirem que o BCE venha a comprar dívida directa aos governos.
Junto um artigo interessante que tentaremos traduzir amanhã.
"En ce début de semaine, une avalanche de déclarations, toutes aussi péremptoires les unes que les autres, tente de convaincre on ne sait trop qui que la restructuration de la dette grecque n’est pas sur la table (ou bien pas à l’ordre du jour, selon une autre version). C’est à qui contribuera à nier avec la plus farouche énergie et la voix assurée ce dont les marchés sont pour leur part largement convaincus. Il leur est même – un comble – reproché de se tromper, par ceux-là qui en font d’ordinaire leur oracle.

Toutes nos vieilles connaissances sont au rendez-vous : Jean-Claude Trichet et Dominique Strauss-Kahn, Herman Van Rompuy et Jean-Claude Juncker, sans oublier Lorenzo Bini Smaghi, Klaus Regling et on en passe.

Deux indices ne trompent pourtant pas à cet égard : le taux des obligations grecques à 10 ans à dépassé le seuil de 14% et les valeurs des banques allemandes et françaises, connues pour être particulièrement exposées à celles-ci, chutent en bourse.

Les marchés ont toujours raison ! Une restructuration de la dette grecque sonnerait en effet le glas des tentatives européennes de stabiliser la crise de la dette et ouvrirait grand la porte à d’identiques remises en cause en faveur d’autres pays de la zone des tempêtes, précipitant le système bancaire européen à nouveau dans une chute libre. Ceci explique cela.

Christine Lagarde, ministre française de l’économie et des finances, redoute les conséquences d’une restructuration de la dette grecque, en raison de ses effets négatifs pour le pays, tout en occultant dans la grande tradition de franc-parler des milieux financiers son vrai danger. Effacer la dette serait « catastrophique », car une telle mesure empêcherait selon elle la Grèce de retourner « un jour » sur les marchés. Comme si, par ailleurs, elle en prenait le chemin en ne s’y résolvant pas.

Heureusement, le premier ministre grec tient bon envers et contre tous, et celui de l’Irlande vient de déclarer qu’il ne voulait pas créer le chaos. Nous voilà rassurés.

Le début des négociations entamées avec les Portugais, ou leur poursuite sans fin avec les Irlandais, passent dans ces circonstances au second plan. Des rumeurs circulent à ce propos de désaccords entre le FMI et l’Union européenne à propos des délais de remboursement qui devraient être consentis au Portugal et du taux dont il devrait bénéficier – le FMI proposant par réalisme de soulager un peu la peine – mais la crise autour de la restructuration de la dette grecque est en train de faire sérieusement déraper la situation là où on craint que l’Espagne y contribue en entrant résolument dans la danse..."LC

19 de abril de 2011

O PEQUENO DICIONÁRIO CRÍTICO - 12 – BUROCRACIA - I

“A burocracia, fautora de guerra civil”, assim disse, com toda a razão, Ortega y Gasset.
Actualmente o mundo é governado por meros burocratas. A União Europeia e o FMI são apenas a expressão desse poder discricionário, indiferente às problemáticas sociais, cruel, que dirige os povos. É bom que saibamos, pois, quem curva a cerviz a quem!
Os países deixaram de ser governados pelos seus eleitos. Uma clique de burocratas a mando dos “novos senhores do mundo” – na expressão de Jean Ziegler – dirige de facto os povos com a imposição de regras, directivas, resoluções que apenas servem o interesse de uma mais que restrita camada de bilionários. Quem são estes burocratas?
Foram óptimos alunos em escolas de prestígio, apreenderam incriticamente tudo o que lhes foi leccionado, preencheram os curricula com pós-graduações, seguiram ciclos de formação dados por enaltecidos gurus das mesmas escolas. Tudo na óptica da especialização e da eficiência amoral, antihumanista. Diga-se que isto custa largas dezenas de milhares de euros ou dólares, só acessível a uma restrita camada social. Claro que há o endividamento para quem não pode tanto – sabemos o resultado.
Tudo para quê? Para criar, na expressão de Stanley Shapiro, antigo reitor da Universidade de Vancouver, “idiotas de terceira geração”, ou seja, especialistas licenciados, que se diplomam em MBA, seguem cursos de doutoramento dados por outros especialistas, que por sua vez tiveram percurso idêntico, nenhum deles tendo sequer experiência da economia real e muito menos da vida do cidadão trabalhador comum.
Esta descrição configura a reprodução acrítica de geração em geração de teorias anti-sociais, sem princípios éticos. São analfabetos funcionais: para além da sua área, são cegos a tudo o que choque com ou faça perigar a sua carreira. Como para grande parte do seu estrato social a vida é sem princípios, apenas contam técnicas e uma distorcida eficácia antisocial.
Discutir com eles é inútil. “Na PIDE, não se fala” dizia-se dantes, com eles também não. Ignoram críticas, comentários, simples advertências de gente que em alguns casos nem estaria muito longe suas ideias, para corrigir ou alterar algo nos seus formulários. Quem teve oportunidade de lidar com eles sabe da arrogância maldosa com que reagem se contestados.
Sim, Ortega y Gasset tinha razão. São os burocratas da UE, do FMI, da OMC, das famigeradas “agencias de rating”, gente sem rosto, que cozinha pareceres, recomendações, directivas, gente que já errou em tudo o que vaticinou, gente que semeou o caos social e preparou a decadência das nações, mas que continua, dir-se-ia, a ditar leis ao mundo.
No entanto, nada mais falso: limitam-se como quaisquer esbirros a fazer o que lhes mandam. Perante o sofrimento dos povos não passam de sicários.
O neoliberalismo permitiu tal poder económico e financeiro às megaempresas que estas podem comprar o poder político para o colocar integralmente ao seu serviço – basta ver como cirandam os políticos do arco neoliberal entre cargos políticos e administrações.
Aos políticos do sistema é-lhes atribuído o papel de funâmbulos e títeres, vendendo na praça pública os sofismas e dogmas da economia neoliberal, sob o manto das “inevitabilidades” e dos falsos apoios aos “mais carenciados” enquanto eles e amigos se locupletam.
A comunicação social controlada cumpre o seu papel de vender o “pão da mentira” (título de um livro, escrito já há algumas décadas, pelo jornalista norte-americano Horace McCoy).
É este o caldo de cultura da actual burocracia.

A seguir: 13 – Burocracia II

18 de abril de 2011

A reestruturação da dívida

A prova de que a apresentação da reestruturação da dívida agora obrigaria a UE a tomar medidas de resposta colectiva quer através do BCE quer através das Euro-Obrigações para evitar a especulação contra o euro e a sua descredibilização,questão que Merkel nem quer ouvir antes das eleições, a prova,repetimos,está nos efeitos de algumas daclarações sobre a dívida Grega. O que seria ou o que será se estes países ameaçarem colocar a questão formalmente? Já temos uns afloramentos. "L'euro baisse face au dollar, regain de craintes sur les dettes en zone euro L'euro baissait face au dollar lundi, s'installant sous le seuil de 1,44 dollar, plombé par un regain d'inquiétudes sur les dettes souveraines des pays les plus fragiles de la zone euro, alors que les discussions sur un plan de sauvetage débutaient au Portugal. Vers 09H00 GMT (11H00 à Paris), l'euro valait 1,4332 dollar contre 1,4431 dollar vendredi à 21H00 GMT. La monnaie européenne perdait aussi du terrain face à la devise nippone à 118,72 yens contre 119,93 yens vendredi soir. Le dollar reculait également face au yen à 82,84 yens contre 83,07 yens vendredi. Les représentants de l'Union européenne (UE) et du Fonds monétaire international (FMI) entamaient lundi à Lisbonne des négociations politiques avec les autorités portugaises pour définir le montant, et surtout les conditions, d'un plan de sauvetage financier qui doit être conclu d'ici à la mi-mai. Après la Grèce et l'Irlande l'an dernier, le Portugal, en proie à de sévères difficultés budgétaires, a faire appel en début de mois à une aide extérieure pour tenter de rétablir ses finances publiques. A cela s'ajoutent des spéculations persistantes sur une prochaine restructuration de la dette grecque, même si les dirigeants du pays et les responsables européens écartent cette éventualité. "Le vrai danger d'une restructuration est qu'elle ferait encore des noeuds dans les comptes des banques qui la détiennent, notamment allemandes et françaises, très exposées à la dette grecque", prévenait Jane Foley, analyste chez Rabobank." l. Echos

16 de abril de 2011

O medo que eles têm da reestruturação da dívida Grega

A prova de que a apresentação da renegociação da dívida publica portuguesa tinha muita força e dava a um governo sólidos trunfos para exigir da UE uma resposta muito mais equitativa está no caso daGrecia e no pânico que lhes causa tal hipotse.
Era agora a altura.
Vejamos o que eles dizem nos corredores....
Tirado dos L Echos.
A reestruturação.

" Elle ne serait pas davantage bénéfique pour la zone euro. Elle serait même préjudiciable pour l'Europe » . Un avis largement partagé. Car en coulisses, loin des caméras et des micros, les conseillers économiques européens présents à Washington ainsi que les leaders politiques ne cachent pas leur inquiétude. « Un restructuration de la dette grecque constituerait un saut dans l'inconnu. Nous ne voulons pas créer un précédent. Nous avons retenu la leçon du défaut de la Banque Lehman Brothers et des conséquences désastreuses qui ont suivi » , expliquait un conseiller. « Si le plan de redressement de l'économie grecque mis en place par les européens et le FMI ne marche pas, l'ensemble de la zone euro va le payer très cher » , glissait un haut responsable du Fonds, indiquant implicitement qu'un effet de contagion s'en suivrait sur les pays fragiles tels que l'Irlande, le Portugal, voire l'Espagne. Engagés dans un plan d'assainissement de leurs finances publiques, les gouvernements européens ne peuvent prendre le risque d'assister à une envolée des taux d'intérêt à long terme qui compliquerait sérieusement leur tâche."

O PEQUENO DICIONÁRIO CRÍTICO - 11 – FLEXIBILIDADE - II

A recomendação feita às pessoas ao serem atacadas por meliantes é que não procurem resistir: entreguem vossos bens e procurem ir à vossa vida, pelo menos em paz e com a saúde possível (mesmo sem os bens).
Poderia perguntar-se, mas o Estado não protege as populações? Claro, mas não tem meios ou tem outras prioridades. E os vizinhos não se podem juntar para defender os direitos das pessoas? Sim, mas isso seria perderem…liberdade.
A flexibilidade laboral é isto.
Pressupõe dois aspectos: Primeiro: indivíduos isolados – nada de contratações colectivas nem sindicatos reivindicativos, que possam oferecer resistência, pois, diminuem a liberdade da contratação individual (?!). Segundo: Que o Estado, em nome da liberdade económica proteja os interesses do capital em detrimento dos direitos do trabalho.
Quando se diz que os subsídios de desemprego (ou outras prestações sociais) favorecem o aumento dos salários e portanto fazem crescer o desemprego, dado haver menos postos de trabalho disponíveis (tese dos laureados com o Prémio de Economia do Banco Central da Suécia, dito Prémio Nobel de Economia, mas que efectivamente não o é) adopta-se a visão neoclássica/ neoliberal de que o trabalho e por consequência os trabalhadores são uma mercadoria como qualquer outra e que os mercados devem deixar-se entregues aos seus próprios mecanismos de regulação sem ou com o mínimo de interferência externa. Na realidade, a interferência existe, da forma tão repressiva quanto necessário, mas na defesa dos interesses do grande capital monopolista e especulador.
Claro que aquela tese pode ser demonstrada por meio de elaboradíssima matemática. Pouco nos impressiona esta argumentação, grandes entidades financeiras que faliram não estavam apenas atulhadas com os chamados produtos tóxicos, estavam atulhadas de programas informáticos e elaboradíssimos cálculos de probabilidades de risco. O verdadeiro conhecimento não consiste em saber se determinados fenómenos ou situações podem ser expressos por fórmulas matemáticas, mas em saber se a fonte do nosso conhecimento – matematicamente expresso – são leis objectivas da Natureza e confirmações obtidas pela experiência suficientemente generalizada ou apenas proposições da nossa mente com base em indevidas deduções a partir de casos isolados e de circunstâncias omitidas ou ignoradas.
Parece não ter chocado absolutamente nada certos sábios o facto que nos principais países capitalistas desde os finais dos anos 70 os salários reais cresçam menos que a produtividade e que nas últimas décadas se tenha verificando a estagnação e mesmo a redução dos salários reais, tendo o desemprego aumentado sempre.
Quando se envereda por este caminho da redução de salários o problema é que não se consegue parar. Muito antes de Keynes, isto até já tinha sido percebido por Malthus (imagine-se!) há quase 200 anos.
Acerca das austeridades – que são o sucedâneo das flexibilidades laborais: dizia então Malthus: “se a transformação do rendimento em capital for levada para além de certo ponto, deve ao diminuir a procura efectiva de certos produtos deixar as classes operárias sem trabalho, é evidente que os hábitos de parcimónia levados demasiado longe podem ser seguidos imediatamente dos efeitos mais desastrosos”. Porém é esta “parcimónia” e o aumento da parte do rendimento para o “capital” que a flexibilidade expressamente pretende.
Sábios do neoliberalismo dizem-nos que a flexibilidade permite que não haja receio de empregar dado que assim as “empresas” não terão problemas em despedir quando os negócios não correrem como esperado - ou mesmo quando e como bem lhes aprover, como tratámos na primeira parte do tema. Não é preciso que candidamente nos venham dizer que a flexibilidade "são  rosas";  claro que o objectivo último da flexibilidade não é despedir mais pessoas, isto é o óbvio: trata-se apenas de aumentar a taxa de exploração, termo que na linguagem “politicamente correcta” se traduz por “reduzir custos laborais”.
Acaba por ser curioso não terem reparado que “à fortióri” validavam Marx: “parece que a produção capitalista de boa ou má vontade inclui condições independentes que apenas momentaneamente permitem aquela prosperidade relativa da classe trabalhadora e certamente apenas como anunciadora de uma crise”.
A pílula dourada da flexisegurança resume-se, pois, a: desemprego já; segurança, se for e como for possível.
Propõe-se agora à reflexão que se compare a “modernidade” das teses da flexibilidade com o que diziam importantes economistas que pelos vistos, estes, não sofrem de “arcaísmos”.
- “Nos anos de boas colheitas o preço do trigo deve manter-se elevado a fim de evitar que os trabalhadores se alimentem com demasiada facilidade e façam má cara ao trabalho” – Sir William Petty (político e economista inglês de finais do século XVII)
- “É um grande inconveniente acostumar o povo a comprar trigo a preço muito baixo; torna-se menos laborioso, alimenta-se de pão com menos despesa e torna-se preguiçoso e arrogante: os rendeiros dificilmente encontram obreiros e criados; são também mal servidos nos anos de abundância” - François Quesnay (economista; meados século XVIII)
Enfim, qual o derradeiro argumento da flexibilidade: não resistam, as coisas são como são…
De facto, nestas condições, os meliantes estão à solta no mundo do trabalho – e não só: por toda a economia.
Como conclusão: uma cena de um filme norte-americano. Um pai, antigo mineiro, pergunta ao filho, quadro na Wall Street, se ele sabia qual a diferença entre as pirâmides do Egipto e o Empire States Building, e dá-lhe a resposta:
- É que no tempo dos faraós não havia sindicatos!
Eis, pois, a modernidade neoliberal, bem flexível.

A seguir: 12 – Burocracia (dada a actual visita de responsáveis do FMI, BCE e CE)

14 de abril de 2011

Era uma vez um país de ratos

Este é um vídeo imperdível sobre as opções eleitorais ao longo dos anos numa país de ratos.

A possível semelhança com a vida real num certo país à beira mar plantado, é mera coincidência.

Afinal estamos a falar de um país de ratos.

Dois pesos e duas medidas

Nos anos 80 e 90, alguns Presidentes de Câmara em situações de extremas dificuldades de tesouraria nos seus municípios, decidiram durante alguns meses proceder à retenção dos descontos dos trabalhadores para a ADSE e a CGA, por forma a poderem pagar os seus salários.
Estas decisões foram objecto de denúncias de outros eleitos locais, em especial eleitos do PS e levaram mesmo à intervenção do Ministério Público que condenou esses Presidentes de Câmara a pagar do seu bolso o reembolso desses valores.

Alguns ex- Presidentes de Câmara ainda hoje estão a pagar mensalmente a devolução dessas verbas.

Surpreendentemente tomámos conhecimento nos últimos dias que o Sr. Ministro da Administração Interna, ao que parece com o conhecimento do Ministério das Finanças, deu ordens aos serviços sob a sua alçada para procederem à retenção no Ministério, dos descontos efectuados pelos trabalhadores por conta do IRS e dos descontos para a CGA, para que esses agentes da PSP e da GNR pudessem desde o início do ano receber os seus salários.

Afinal em que é que ficamos?

Vai o Sr. Ministro da Administração Interna ser obrigado a pagar do seu bolso os montantes dos descontos para o IRS e CGA efectuados pelos agentes da PSP e da GNR e retidos desde o início do ano? Ou a uns tudo é permitido e outros de tudo são responsabilizados? 

13 de abril de 2011

Quando eles falam verdade

Segundo o presidente do FMI, o problema de portugal não é a dívida pública mas a banca e a dívida privada. The Washington Post et italien La Repubblica. Le gouvernement portugais "doit montrer quelles mesures il veut prendre et si elles sont dignes de confiance", a insisté M. Strauss-Kahn, pour qui le Portugal se trouve actuellement dans "une situation très compliquée". "La possibilité que le Portugal demande ou pas un prêt dépendra de la situation sur le marché", a poursuivi le directeur général du FMI, précisant que jusqu'à présent le pa ys "avait été capable de s'en sortir". "Il ne s'agit pas tant d'un problème de dette publique, mais de financement des banques et de dette privée, ce qui en fait un cas totalement différent de celui de la Grèce", a ajouté M. Strauss-Kahn.

Os Estados capitalizam a Banca e os contribuintes pagam

INFO EN DIRECT du 13 avril 2011,lesechos

Le FMI s'inquiète de la faiblesse des banques européennes près de 4 ans après le début de la crise financière, la confiance dans la stabilité du système bancaire global reste à restaurer, estime le Fonds monétaire international.

Si la stabilité financière mondiale s'est améliorée grâce au retour de la croissance économique et au maintien de politiques monétaires et budgétaires accommodantes, l'heure n'est pas à la complaisance. Des risques subsistent. En particulier au niveau du secteur bancaire européen. Tels sont en tout cas les credos du FMI, mis en exergue dans son rapport sur la Stabilité Financière Globale, présenté mercredi 12 avril à Washington.

En commentant le rapport, José Vinals, directeur du département des marchés financiers et monétaires du FMI, n'a pas caché que l'état des banques du vieux continent appelait à de sérieuses réformes. Et de citer un chiffre emblématique : 30 % des établissements, représentant un cinquième des leurs actifs totaux, ont un ratio de fonds propres « core tier one » inférieur à 8 %. Comme l'a fait remarquer en préambule José Vinals, « le renforcement des capitaux propres des banques et la baisse de l'effet de levier ont été inégal ».

Le rapport souligne, lui, le fait que « près de 4 ans après le début de la crise financière, la confiance dans la stabilité du système bancaire global doit toujours être entièrement restaurée ». Et d'insister sur le fait que « certaines banques ont toujours un ratio d'effet de levier trop important, ont des capitaux propres insuffisants, compte tenu de l'incertitude sur la qualité de leurs actifs ».

Il est vrai qu'à regarder le tableau élaboré par le FMI à la fin de l'année dernière, l'effet de levier des banques européennes, en particulier en Allemagne, en France et dans une moindre mesure en Grande Bretagne, reste élevé à la différence de celui constaté aux Etats-Unis. «Ces faibles niveaux de fonds propres rendent certaines banques allemandes, ainsi que les caisses d'épargne italiennes, portugaises et espagnoles en difficulté, vulnérables à de nouveaux chocs», indique le rapport.

Pour José Vinals, il n'y a qu'une manière de corriger cet état de fait : renforcer les fonds propres des banques européennes. Mais pas seulement. « Il est clair que certaines banques européennes n'ont pas un modèle de développement adapté. Il serait judicieux que des fusions-acquisitions ait lieu en Europe » quitte à ce que les plus faibles disparaissent », a-t-il indiqué. L'Europe n'échappera pas, selon le Fonds à une restructuration des banques non viables, et une recapitalisation de celles qui le sont. Or, «il est probable qu'il faudra qu'une partie de ce capital vienne de sources publiques».

L'institution suggère d'autres pistes auparavant à l'ins tar d'une réduction des dividendes, la mise en réserve «une plus grande part des bénéfices», ou encore «réduire les bilans de manière progressive» en évitant de vendre des actifs en urgence, ce qui ne ferait qu'aggraver le problème global. La conduite des stress tests dans la zone euro au mois de juin devra être sans complaisance et devra faire la lumière sur l'état réel de la situation du secteur.

La santé des banques européennes n'est pas la seule en cause bien qu'elle constitue la principale préoccupation du FMI. Aux Etats-Unis, par exemple, le bilan des banques pourrait être affecté par le surendettement des ménages dans le secteur immobilier. Ce risque doit être traité. « Les banques américaines sont suffisamment solides pour se permettre de restructurer ces prêts immobiliers », en abandonnant une partie du principa l. Ailleurs, dans les pays émergents, « la forte croissance des crédits bancaires pourrait aboutir à une hausse des créances douteuses », a averti José Vinals.

O PEQUENO DICIONÁRIO CRÍTICO - 10 – FLEXIBILIDADE - I

O princípio racional para discutir qualquer tema é precisar com exactidão o significado das palavras e conceitos usados. Concretamente, a grande proposta que o neoliberalismo tem para além do que já obteve, resume-se a isto: flexibilidade laboral – o resto são visões à Pinóquio e boas intenções em oximoros.
Então de que falamos quando falamos em flexibilidade. Flexibilidade consiste na qualidade de ser flexível, maleável; facilidade de se dobrar ou curvar; facilidade de se adaptar a diferentes situações; facilidade de ser utilizado ou manejado; complacência, docilidade, capacidade de se adaptar aos interesses de alguém.
É este o significado da palavra que constitui a trave mestra do pensamento social neoliberal. Porventura se descobre aqui algo que tenha que ver com progresso humano?
É isto que a filosofia “personalista” e da “sociedade aberta” tem para oferecer? Sim, exalta-se o “indivíduo”, solitário, isolado, para melhor se adaptar aos interesses de alguém certamente dos mais poderosos, protegidos pelo amaldiçoado Estado e pelos abençoados interesses das transnacionais.
É certo que qualquer ser vivo para sobreviver tem de procurar adaptar-se ao meio ambiente, mas pelo mesmo princípio tem de reagir aos agentes externos que possam limitar a sua afirmação vital. Adaptar-se, mas em função de que valores? E sem reagir?
Escreve Arno Gruen em “A traição do Eu”: “a obediência ao poder e à autoridade conduz em geral à negação dos sentimentos humanos”, “o omnipresente processo de adaptação pode levar-nos a recalcar a nossa humanidade”.
Que autonomia tem um trabalhador “flexibilizado”, precário, se não recalcar a sua humanidade, desumanizar-se em nome de contestáveis e arbitrariamente impostas eficiências e produtividades?
Nestas convicções paira sempre a ideia que o somatório de todos os egoísmos individuais resulta no maior bem colectivo, o maior bem social. Talvez, por mera hipótese, isto fosse possível em abstracto, com a condição de nenhum dos intervenientes dispor de maior poder económico, social ou qualquer outro que os demais. Além de se tratar de um absurdo, seria humanamente indesejável e um detestável igualitarismo.  Convém, além disto, reparar que aos trabalhadores, enquanto tal, não é permitido o tão “benfazejo” egoísmo.
Tudo isto tem a sua lógica: uma das medidas consensuais do liberalismo do fim do século XVIII, princípios do século XIX, foi a famosa lei Chapelier que proibia as associações de trabalhadores na defesa dos seus interesses. Essas associações que posteriormente se designariam sindicatos seriam uma diminuição da livre concorrência e da liberdade….Só na década de 60 do século XIX a lei depois de muitas lutas – duramente reprimidas – foi revogada. As intenções persistem e os argumentos também.
Em nome da flexibilidade pretende-se acabar com a “subsídio dependência” – termo para apoios sociais – para “desenvolver a iniciativa”. Estranha contradição, quando a crise levou à falência neste país dezenas de MPME por dia! Será que não se entende que sem estimular a procura não há investimento nem “iniciativa” que valha.
Estranha contradição, sim, numa economia dominada por monopólios rentistas e pela especulação financeira sob a protecção do Estado, enquanto que tanto por cá como nos países da “economia de sucesso” milhares de milhões de euros ou dólares foram utilizados para salvar banqueiros falidos ou fraudulentos e para a reestruturação de grandes empresas cuja principal medida imediata foi proceder a despedimentos maciços. Estranha contradição esta da “subsídio dependência” para os desempregados quando as únicas medidas toleradas pelo neoliberalismo são os subsídios directos ou indirectos – por redução de impostos e por bonificações – às grandes empresas com o argumento de criar emprego. Os factos mostram que com estes apoios/subsídios o desemprego aumentou sempre.
Claro que os mitos sobrepõem-se á realidade quando fortes interesses estão em causa. Diz-se então que nenhum empresário despede um trabalhador se ele for produtivo. “Seria um contra-senso”. Terna ingenuidade – ou nem tanto – esta do “homo economicus”, perfeitamente racional e motivado exclusivamente por puras considerações de eficiência. Como se não houvesse motivações políticas, antisindicais, pessoais ou mesmo sexuais. Porém, mesmo em termos de pura racionalidade económica é muito mais conveniente despedir um trabalhador com contrato e um salário que tenha que ver com direitos adquiridos e admitir outro, ou o mesmo, como também ocorre, mas na situação de precariedade e com o salário mínimo. A flexibilidade aí está para criar o tal “exército de reserva” da força de trabalho…
Nesta visão, os seres humanos dividem-se assim em duas espécies distintas: os puros,  detentores do capital e dos meios de produção, perfeitamente racionais e imprescindíveis patriotas, e a corja que apenas dispõe das suas capacidades físicas e intelectuais para sobreviver. A corja tem de se submeter à arbitrariedade e ao julgamento discricionário dos primeiros, que seriam juízes isentos em causa própria e acima de toda a suspeita. Uma questão surge: o que é que isto que ver com a “herren volk”, a “raça dos senhores” do nazi-fascismo? Ou com o “homem superior” do sr. Nietzche?
Flexibilizar o emprego é no fundo, flexibilizar o desemprego. É esta a cobertura – não lhe chamemos ideologia – da demagogia neoliberal. É isso que se pretende, de forma expedita e barata ao critério da arbitrariedade que o próprio sistema impõe independentemente das pessoas. Dizia Marx que o capitalista pode ser um cidadão exemplar, talvez membro de uma associação para a abolição dos maus tratos aos animais e, ainda por cima, ter fama de santidade, mas enquanto capitalista ele é apenas capital personificado e neste sentido, obedece e procede segundo a lógica do sistema.
Vale a pena lembrar o que o pessimista Schopenhauer perante a sociedade do seu tempo, que se pretende aceleradamente ressuscitar, escreveu: “Faz pouca diferença essencialmente ser dono do camponês ou da terra que ele trabalha, da ave ou do seu alimento, do fruto ou da árvore; como diz Shylock: “tirais-me a vida quando tomais os meios que me permitem viver” (Shakespeare - O Mercador de Veneza, Acto IV). “A pobreza e a escravatura são, pois, apenas duas formas – talvez pudesse dizer duas palavras - da mesma coisa, cuja essência é que as energias de um homem se gastam na sua maior parte, não em seu favor mas em favor dos outros; o resultado é em grande parte ele ficar sobrecarregado de trabalho e, em parte, as suas necessidades serem inadequadamente satisfeitas”.

 A seguir: 11 – Flexibilidade - II

10 de abril de 2011

Se perguntar não ofende...

Louçã perguntou e bem, o que diz Mário Soares da "fraude" do Dr Fernando Nobre que vai ser cabeça de lista em Lisboa pelo PSD... E o que dirá Louçã do discurso de Manuel Alegre no Congresso do PS?...

Nem quer ouvir falar, mas vai ouvir falar...

E que tal um referendo sobre a reestruturação das dívidas?

Une restructuration de la dette grecque est totalement hors de question, ont répété samedi le commissaire européen aux Affaires économiques et monétaires et le président de la Banque centrale européenne.
Dans son édition de samedi, l'hebdomadaire Der Spiegel a indiqué que des ministres européens des Finances avaient fait part la semaine dernière à Jean-Claude Trichet de leurs doutes sur la capacité de la Grèce à remplir ses objectifs budgétaires.
Lors d'une conférence téléphonique, plusieurs ministres auraient également suggéré qu'il était nécessaire de restructurer sa dette mais, selon la revue allemande, le président de la BCE aurait bloqué toute discussion sur ce point.

Seguindo o exemplo da Islândia, que tal um referendo no mesmo dia em PORTUGAL, GRÉCIA e IRLANDA?

Estão decepcionados coitadinhos....
Les électeurs de l'île étaient appelés à se prononcer sur un accord portant sur 3,9 milliards d'euros, la somme déboursée par Amsterdam et Londres (quelque 300.000 Britanniques étaient clients) pour indemniser leurs ressortissants qui avaient des dépôts à la banque en ligne Icesave gérée par Landsbanki, un des trois établissements du pays emportés par la crise financière.disseram não.
Le gouvernement britannique, se dit «déçu» par le résultat du référendum Icesave : les référendums ont rendu confiance à l'Islande, estime le président Grimsson.
Le président d'Islande Olafur Ragnar Grimsson a estimé dimanche que les deux référendums qu'il a convoqués en un an sur l'accord Icesave avaient permis de "rendre au pays la confiance perdue lors de l'effondrement de l'économie" islandaise en 2008.
Il a considéré qu'en soumettant par deux fois l'accord Icesave à référendum l'année dernière et cette année, allant à l'encontre des votes du parlement, il avait "renforcé encore plus la démocratie" en Islande.
La première ministre Johanna Sigurdardottir avait qualifié samedi cette victoire du "non" de "choc" pour son gouvernement mais aussi pour le Parlement car, a-t-elle souligné, 70% des députés avaient voté la loi Icesave que le chef de l'Etat a refusé de promulguer.

9 de abril de 2011

Portugal não é uma colónia da Europa

1) Ouvimos as arrogantes e vexatórias declarações de ministros das finanças sobre a situação portuguesa, chegando ao desplante de sentenciarem medidas como se fossem os donos deste país e não vimos da parte do governo, nem dos partidos de direita, qualquer condenação destes senhores pelas suas afirmações
2)Falam como se nos estivessem a fazer um grande favor e como se não tivessem nenhuma responsabidade na nossa situação , quando foram eles que pela sua inércia e por se recusarem a tomar medidas a nível Europeu- emissão de eurobrigações, compra da dívida directamente pelo BCE-os cúmplices dos seus mega- bancos, ditos mercados, na especulação e espoliação que agravou a nossa situação financeira
3)Ficámos a saber hoje, preto no branco que uma boa parte da dita ajuda .vai para o sistema bancário. Um escândalo!
Afinal, tal como sempre o dissemos, o principal problema não era a dívida pública,mas a dívida privada, isto é da banca. Andou-se a agravar a situação da dívida pública para resolver os problemas da dívida privada. Mas quem a vai pagar não é a banca, mas os contribuintes portugueses....
Por ultimo, uma sugestão aos partidos e personalidades que apoiam a vinda do FMI:Perguntem ao povo, promovam um referendo tal como na ISLÂNDIA para se saber se concorda com o não pagamento de pelo menos os juros agiotas que titulam os empréstimos destes últimos meses. Se está ou não de acordo com a Renogociação da dívida, exigindo alongamento dos prazos diminuição das taxas de juro e anulação de uma parte...
A exigência da Renogociação da dívida desde já-antes das eleições legislativas alemãs ( 20013)-obrigava os bancos que detêm a nossa dívida a sentarem-se á mesa bem como os governos que não querem o enfraquecimento do EURO, face a uma mais que certa especulação por parte do dólar e da libra.
Há quem diga que gente honrada paga as dívidas. E eu acrescento quando os juros são aceitáveis e quando esta não resulta da especulação e de um autentico roubo feito ao nosso pais. É que neste caso o povo também diz : ladrão que rouba a ladrão tem cem anos de perdão, e aqui nem é esse o caso!