Escrito por ERIC LE BOUCHER
Director de redacção – Enjeux Les Echos
O incêndio europeu ainda não está extinto. Exactamente um ano depois de terem engendrado o plano de salvação da Grécia de 110 mil milhões de euros, depois do início dos incêndios na Irlanda, em Portugal, na Espanha, o vento levanta as chamas à volta de Atenas. As taxas de juros exigidas para os empréstimos gregos subiram além dos 15%, depois do ministro das finanças alemão, Wolfgang Schaube ter falado de uma “reestruturação voluntária” da dívida desse país depois da nova avaliaçao do défice a 10,5% do PIB contra o objectivo oficial de 9,4%. O governo Papandréou, sem demora anunciou um reforço das medidas de austeridade, mas nada feito: os mercados financeiros estão convencidos da incapacidade da Grécia em reembolsar a sua dívida de 340 mil milhões de dólares. Aos olhos deles, o país está insolvente.
A questão é evitada em público pelos governos europeus, mas evidentemente está colocada: deve-se dar razão aos mercados e reestruturar a dívida grega? É isso necessário para apagar uma vez por todas o incêndio da zona euro? Ou, pelo contrário, isso vai reacender as dúvidas sobre os outros países em crise?
Desde há um ano, os dirigentes europeus responderam como era preciso aos ataques dos mercados. Plano de ajuda à Grécia, à Irlanda e depois a Portugal. Implementação de um mecanismo europeu de estabilidade (ESM), fundos de apoio permanentes que marcam um avanço considerável para um federalismo orçamental e fiscal. Enfim, adopção de um pacto de competitividade que, a médio prazo, deve evitar que uma crise renasça das divergẽncias macroeconómicas entre os países membros. Acontece que, estas reformas, foram todas tardias. Ao ritmo das políticas, a velocidade é vertiginosa; ao ritmo dos mercados, ela acalentou dúvidas. As actuais interrogações dos traders não têm mais a ver com uma crise de solvabilidade, da sua capacidade de reembolsar.
Sobre a Grécia a dúvida deles é total. A dívida atinge 150% do PIB. Para a estabilizar é preciso um plano de rigor que economize, conforme as hipóteses entre 7% e 14% do PIB de aqui até 2015, segundo o Instituto Bruegel (1). Para tornar a trazer esta dívida para os critérios de Maastricht (a 60% do PIB), o esforço comporta entre 12% e 18% do PIB. Nenhum país da OCDE conseguiu fazer melhor do que 6%. A cura infligida aos gregos não tem precedentes.
O plano europeu conseguiu tornar a trazer a taxa de empréstimo para os 4,2% e alongar os prazos de três anos, mas não chega, longe disso. O cenário pior é que, se se forçar a dose, encerra-se o país na austeridade, privando o Estado grego de receitas fiscais e obrigando-o a afundar-se ainda mais na austeridade e a entrar numa espiral sem fim. Em breve, a população grega, que até agora aceitou apertar o cinto, recusará. O nível de aceitação social e político será ultrapassado.
Mas as objecções são numerosas e justificadas. Depois da Grécia, porque não a Irlanda? (dívida de 110% do PIB)? Ou Portugal (dívida de 90% do PIB)? Tendo os mercados obtido uma vitória redobrarão a força dos seus ataques.Segunda objecção: anular os créditos vai levar ao tapete o sistema bancário grego, o que se vai repercutir nos bancos credores, alemães e franceses, em primeiro lugar. Em resumo, o sistema de contágio será devastador. Por fim, a última objecção: reestruturar será admitir que um país do euro pode não cumprir. Será fazer uma nódoa indelével no euro. A credibilidade da moeda comum, fruto do trabalho encarniçado do Banco central europeu, paga desde há dez anos por taxas de juro mais fortes que para o dólar, esta credibilidade será destruída.
São grandes estes riscos. É grande a tentação de dizer “à alemã”: os gregos erraram, que paguem. Contudo o risco inverso é superior: aquele de uma explosão social que leve o governo grego, a não cumprir, no meio da confusão. A razão leva pois a organizar as coisas e a passar um traço sobre uma parte (um terço) da dívida, por forma a enquadrar o esforço exigido nos limites severos do possível. Deve-se prevenir o contágio em paralelo clarificando as situações reais da Irlanda e de Potugal e de um modo global, dos bancos europeus. O plano é anunciar tudo em conjunto: tais incumprimentos por tal ou tais países e por tais consequências. Em resumo antecipar-mo-nos aos e cruzar os dedos para que o acaso não comece o incêndio noutro sítio.