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26 de abril de 2011

O PEQUENO DICIONÁRIO CRÍTICO - 14 – NEOLIBERALISMO

Já aqui temos falado de neoliberalismo. É altura de dizermos do que falamos. Há tempos certo senhor perguntava com ar ofendido ao ter sido considerado neoliberal: “Afinal o que é isso de neoliberalismo”? Como diz certo fado: “Na altura disse que não sabia, mas vou-te dizer agora”.
O neoliberalismo é pura e simplesmente o capitalismo actual, o capitalismo na sua fase senil, em particular nos países considerados desenvolvidos – poucos dos demais fogem à regra, ou seja, ao chamado “consenso”. Podíamos dizer que este “consenso” tem por detrás algo como mais de um milhar de bases militares norte-americanas e 13 porta-aviões em 6 (ou 7) esquadras navais.
Para o tema seria necessário um tratado economia, mas não é essa a função de um (pequeno) dicionário. Também não é nosso propósito competir - no seu campo – com ilustríssimos protagonistas, catedráticos ou não, da comunicação social, que na ausência de pensamento independente seguem principalmente a autoridade na matéria, que neste caso são o grande capital e a finança especuladora. Chama-se a isto, segundo os dicionários correntes: “escolástica”. O neoliberalismo é, pois, em termos de pensamento, escolástica.
Comecemos então por tentar simplificar, pois, como dizia Saintt Exupery “a verdade simplifica”. O que não quer dizer as “simplificações” nos levem à verdade. Simplificar na busca da verdade quer dizer que após análise, a síntese nos pode dar o essencial da realidade que procuramos evidenciar. Passemos então a algumas imagens que nos podem esclarecer.
Em certo filme norte-americano, em determinada cena conversam quatro jovens, dois rapazes e duas raparigas, sendo eles irmãos. Pergunta uma das jovens, para o mais velho: “E tu que fazes?” O mais novo responde: “Ele estuda neofascismo”. O mais velho corrige: “Estou na Universidade de ---- a tirar o curso de economia”. Réplica do mais novo: “É a mesma coisa”.
Por outras palavras, o economista John K. Galbraith disse que o liberalismo é o nome falseado da arma dos ricos contra os pobres.
Justamente o neoliberalismo é nos seus conteúdos económicos sociais e ideológicos um neofascismo, que em vários países foi e é imposto através de duríssimas de ditaduras terroristas do capital e dos latifundiários. Foi o caso das ditaduras sul-americanas de trágica memória – não esquecendo a actual Colômbia e o golpe nas Honduras – tal como em vários países do Médio Oriente, da Ásia, da África.
Dos motivos pelos quais aparece o neoliberalismo já apresentámos algumas razões no tema “keynesianismo”, a dialéctica - digamos assim – da questão obrigava-nos a não esquecer a lei da baixa tendencial da taxa de lucro e outras contradições do sistema. São temas que pensamos tratar noutra oportunidade.
Será oportuno recordar que Keynes dizia (em "Teoria geral do Emprego, Juros e Moeda") que deveria ser criado um pesado imposto para todas as transacções financeiras com o objectivo de não permitir que a especulação predominasse sobre a esfera produtiva. Experimente hoje em dia um aluno de economia ou um comentador dizerem isto num exame ou na comunicação social e vão ver o que lhes acontece, nesta “sociedade aberta” do neoliberalismo!
Por estas razões, políticos e doutores em economia (uns acumulando lugares em Administrações, outros acumulando prémios internacionais ou amplas audiências) uniram-se para dar cabo da vida ao mundo inteiro: um verdadeiro programa para destruir nível de vida e direitos sociais, com excepção das camadas monopolistas e sua clientela (no sentido romano antigo da palavra) aumentar a taxa de lucro e transformar o dinheiro virtual da especulação em valor real, isto é: valor-trabalho.
É altura de lembrar um conhecido epigrama de Nicolau Tolentino. Estando um farmacêutico à porta do seu estabelecimento, saúda um médico que por ali passa e diz-lhe: “Unamo-nos, meu doutor e demos cabo do mundo”. Foi isto que os políticos do arco conservador/reaccionário – qualquer que seja a designação adoptada - disseram aos economistas. Claro que havia um prémio chorudo a ganhar, para ambos.
Ernest Hemingway dá-nos no seu livro “Por Quem os Sinos Dobram” uma explicação muito curiosa daquilo que viria a ser o neoliberalismo. Em determinada cena, Jordan, combatente internacionalista norte-americano, explica que no seu país “os abusos dos grandes proprietários eram combatidos pelos impostos progressivos que actuavam sobre os rendimentos e as heranças”. O combatente republicano responde então: “Com certeza que os grandes proprietários ainda acabam por fazer uma revolução contra os impostos. Esses impostos parecem-me revolucionários. Eles vão-se revoltar contra o governo quando se virem ameaçados, exactamente como os fascistas fizeram aqui”. Pergunta ainda o combatente espanhol se havia na América muitos fascistas. Ao que o americano responde: “Há muitos, mas não sabem que o são”.
O neoliberalismo é isto. O resto é escolástica.
Voltaremos ao tema.
A seguir: 15 – Menos Estado - I

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