“A burocracia, fautora de guerra civil”, assim disse, com toda a razão, Ortega y Gasset.
Actualmente o mundo é governado por meros burocratas. A União Europeia e o FMI são apenas a expressão desse poder discricionário, indiferente às problemáticas sociais, cruel, que dirige os povos. É bom que saibamos, pois, quem curva a cerviz a quem!
Os países deixaram de ser governados pelos seus eleitos. Uma clique de burocratas a mando dos “novos senhores do mundo” – na expressão de Jean Ziegler – dirige de facto os povos com a imposição de regras, directivas, resoluções que apenas servem o interesse de uma mais que restrita camada de bilionários. Quem são estes burocratas?
Foram óptimos alunos em escolas de prestígio, apreenderam incriticamente tudo o que lhes foi leccionado, preencheram os curricula com pós-graduações, seguiram ciclos de formação dados por enaltecidos gurus das mesmas escolas. Tudo na óptica da especialização e da eficiência amoral, antihumanista. Diga-se que isto custa largas dezenas de milhares de euros ou dólares, só acessível a uma restrita camada social. Claro que há o endividamento para quem não pode tanto – sabemos o resultado.
Tudo para quê? Para criar, na expressão de Stanley Shapiro, antigo reitor da Universidade de Vancouver, “idiotas de terceira geração”, ou seja, especialistas licenciados, que se diplomam em MBA, seguem cursos de doutoramento dados por outros especialistas, que por sua vez tiveram percurso idêntico, nenhum deles tendo sequer experiência da economia real e muito menos da vida do cidadão trabalhador comum.
Esta descrição configura a reprodução acrítica de geração em geração de teorias anti-sociais, sem princípios éticos. São analfabetos funcionais: para além da sua área, são cegos a tudo o que choque com ou faça perigar a sua carreira. Como para grande parte do seu estrato social a vida é sem princípios, apenas contam técnicas e uma distorcida eficácia antisocial.
Discutir com eles é inútil. “Na PIDE, não se fala” dizia-se dantes, com eles também não. Ignoram críticas, comentários, simples advertências de gente que em alguns casos nem estaria muito longe suas ideias, para corrigir ou alterar algo nos seus formulários. Quem teve oportunidade de lidar com eles sabe da arrogância maldosa com que reagem se contestados.
Sim, Ortega y Gasset tinha razão. São os burocratas da UE, do FMI, da OMC, das famigeradas “agencias de rating”, gente sem rosto, que cozinha pareceres, recomendações, directivas, gente que já errou em tudo o que vaticinou, gente que semeou o caos social e preparou a decadência das nações, mas que continua, dir-se-ia, a ditar leis ao mundo.
No entanto, nada mais falso: limitam-se como quaisquer esbirros a fazer o que lhes mandam. Perante o sofrimento dos povos não passam de sicários.
O neoliberalismo permitiu tal poder económico e financeiro às megaempresas que estas podem comprar o poder político para o colocar integralmente ao seu serviço – basta ver como cirandam os políticos do arco neoliberal entre cargos políticos e administrações.
Aos políticos do sistema é-lhes atribuído o papel de funâmbulos e títeres, vendendo na praça pública os sofismas e dogmas da economia neoliberal, sob o manto das “inevitabilidades” e dos falsos apoios aos “mais carenciados” enquanto eles e amigos se locupletam.
A comunicação social controlada cumpre o seu papel de vender o “pão da mentira” (título de um livro, escrito já há algumas décadas, pelo jornalista norte-americano Horace McCoy).
É este o caldo de cultura da actual burocracia.
A seguir: 13 – Burocracia II
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