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1 de abril de 2011

O PEQUENO DICIONÁRIO CRÍTICO – 7- KEYNESIANISMO - II

O keynesianismo tem as suas fragilidades e muitas limitações. Para Keynes os critérios de mercado e de máximo lucro não são alterados e papel do Estado é apesar de tudo limitado à correcção dos defeitos mais visíveis do capitalismo: a sua tendência para o desemprego e a depressão económica quando deixado ao seu espontâneo funcionamento.
Desta forma, as crises económicas não deixaram de se verificar praticamente com a regularidade prevista por Marx, porém o papel determinante do Estado na economia permitia não só minorá-las, mas também aumentar o nível de vida dos trabalhadores e reduzir as desigualdades sociais, dado que a sua resolução se fazia com aumento da procura (dita procura agregada) e fomentando as despesas do Estado.
Na realidade porém, se os fundamentos geradores de desigualdades sociais não se alterarem, se pelo contrário persistirem, as crises são inevitáveis.
Note-se que o progresso social e o desenvolvimento económico verificado em alguns países capitalistas foi permitido pelo keynesianismo, mas não se deveu apenas a esta circunstância. Em economia nada é apenas económico: é política, é sociologia, em suma ideologia, ou seja, o contrário das hipóteses reducionistas e bloqueadoras do neoliberalismo. Aqueles avanços ficaram a dever-se, quer por razões nacionais quer internacionais, à força dos movimentos sindicais e ao prestígio das ideias socialistas e marxistas.
Outro aspecto muito criticado é a ocorrência de inflação que as suas medidas podem provocar. Como dizia Noam Chomsky: “os banqueiros não gostam de inflação, querem reduzi-la ao máximo, mesmo que isso implique abrandar a economia e fazer sofrer a população. Mas tudo isto constitui de facto um programa social”.
Para Keynes o défice e a inflação eram males menores face ao desemprego, ao crescimento económico, à má distribuição do rendimento. Nas suas teses o desemprego e a estagnação económica são causados por gastos insuficientes na economia, dos quais resultam quebras no investimento. Nestas circunstâncias o Estado deve intervir decididamente.
A crise dos anos 1973-75, foi ainda resolvida por métodos keynesianos, porém cada nova crise implicava o aprofundamento da acção do Estado. O “espectro” do socialismo pairava, pois, por perto! O programa da social-democracia de atingir o socialismo por meio de reformas estava prestes a realizar-se, se sinceramente o desejassem, como constava dos seus programas.
Lembremos que no final dos anos 60 do século XX, parecia que efectivamente o Estado controlava a economia. Nos principais países capitalistas a participação do Estado no investimento, no emprego, no PIB e nos sectores estratégicos da economia era determinante. No entanto, já o ex- presidente Eisenhower tinha advertido para o perigo do domínio da política e da economia pelo “complexo industrial - militar”. Os tempos actuais provam-no totalmente: as indústrias de maior expansão nos principais países capitalistas são as ligadas aos sectores militares; os governos não controlam a economia, transformaram-se em directórios das megaempresas e bancos; refugiam-se em mitos como os da regulação automática dos mercados, algo que Keynes considerava absurdo.
Na crise seguinte, no início dos anos 80, o caminho foi invertido.
O resultado está à vista: desde os anos 90 que o mundo caminha de crise em crise, da Ásia, à África, à América Latina, até bater, diríamos deitar a porta abaixo, dos seus próceres, que no entanto persistem nas mesmas soluções anti-keynesianas. Assim, o dinheiro do Estado é usado não para criar emprego e desenvolvimento económico e social, mas para salvar especuladores atulhados de “dinheiro fictício”.
Como referiu o economista norte-americano James Galbraith ao Washington Post: “Nem todo gasto deficitário é bom. John Maynard Keynes nunca advogou o salvamento de instituições financeiras afundadas ou dirigida por vigaristas, ainda assim esta tem sido a política essencial do Fed (banco central norte-americano). Keynes acreditava que os mercados eram fundamentalmente instáveis; que o governo tinha um papel a desempenhar na suavização dos excessos do capitalismo, reduzindo a desigualdade e criando empregos. Também acreditava que períodos de baixa perdurariam muito mais tempo que o necessário se o governo não interviesse e estimulasse a procura”.
Temo que os que nos olharem do futuro se interroguem com espanto como foi possível este tempo de tanta loucura e absurdo.
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A seguir: 8 – Os “Altos Custos Salariais” - I

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