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6 de abril de 2011

O PEQUENO DICIONÁRIO CRÍTICO – 7 -OS “ELEVADOS CUSTOS SALARIAIS” – I

“Eis o cretinismo burguês em toda a sua beatitude” Carl Marx – O Capital
Não há dia em que não se possa ler ou ouvir que a economia do nosso país não é competitiva devido aos “elevados custos salariais”. A primeira coisa sobre a qual nos interrogamos, é como tal se explica sendo os salários nacionais dos mais baixos da UE? Em largos sorrisos de complacência pela nossa ignorância respondem: “É a produtividade (cretino, subentende-se)! Vejamos então onde pára o cretinismo.
Segundo o Eurostat, o salário médio do pessoal na indústria era em Portugal 45,45% da média da UE. Ainda segundo o Eurostat a produtividade nacional era em 1998, 67,8% da média da UE tendo subido em 2008 para 70,6%. Relativamente aos países da Zona Euro, a nossa produtividade teve ainda uma variação mais favorável: passando de 59% em 1998 para 64,7% em 2008. Portanto o discurso dos elevados custos salariais é desde logo por este motivo uma falsificação. Acrescente-se que entre 2000 e 2007 o crescimento da produtividade em Portugal foi superior em 3 pontos percentuais acima do salário real, apresentando neste aspecto uma relação mais favorável ou não significativamente diferente dos restantes países europeus, com excepção da Alemanha, da Áustria e também da Holanda.
Bem o termo “custos salariais” não é tese que perfilhemos. Os salários do ponto de vista macroeconómico e social não são um custo.
É certo que do ponto de vista empresarial os salários são um custo, pois intervêm na formação do preço, porém do ponto de vista da economia tomada como um todo, isto é, da macroeconomia e do ponto de vista social, são um benefício.
Na realidade, o salário é um elemento base do equilíbrio económico: só se produz e só se vende o que os salários podem comprar. Claro que o lucro (a mais-valia) também compra, na realidade significativamente pouco em termos económicos, pois nas condições actuais o excesso de riqueza concentrado no sector financeiro e oligopolista, é pura e simplesmente transferido para o exterior, pelo capital estrangeiro e para entrar no circuito dos paraísos fiscais, como se comprova pelo constante decréscimo do investimento apesar da subida dos lucros da finança e dos principais grupos económicos.
Dir-se-á: mas o consumo induzido pelos salários tem uma componente importada que o país poderá não estar em condições de satisfazer. De acordo, mas isto não é uma questão de “custo salarial”, mas de equilibro económico na esfera produtiva, como referimos em temas anteriores sobre comércio externo (temas 3, 4 e 5).
É também muito estranho que tendo uma empresa tantos e tão variados factores que influenciam o custo de produção, ideólogos nos falem de cátedra sobre os “custos salariais”, como se os trabalhadores tivessem uma espécie de pecado original só pelo facto de serem trabalhadores e mais do que isso, simplesmente pelo facto de existirem, pois que, com o aumento da esperança de vida, os trabalhadores não fazem o favor de simplesmente desaparecerem quando deixam de produzir mais-valia.
De forma genérica, numa empresa os factores de custo são nomeadamente os seguintes: amortizações, matérias-primas, energia e outros consumíveis, encargos financeiros, tempo de trabalho da mão-de-obra directa e indirectamente produtiva; outros encargos de estrutura, como serviços de vigilância, administrativos, transportes, marketing, etc. Estes factores determinam o custo de produção sobre o qual teremos o lucro empresarial.
Assim, para se tornar competitiva, ou melhor, para a empresa melhorar o seu desempenho, será necessário que os diversos factores estejam devidamente controlados e sejam objecto de acções de redução de custo e aumento da produtividade, através de melhorias tecnológicas e da gestão da qualidade. Estas acções não dependem apenas da iniciativa da empresa, mas também das políticas governamentais, nomeadamente uma estratégia antimonopolista.
O que cada gestor consciente, o que cada técnico ou mesmo cada operário, fazem na empresa tem muito pouco que ver com o que altamente credenciados comentadores escrevem ou dizem para nos convencer dos “elevados custos salariais”. O que cada gestor tem de analisar detalhadamente são as componentes dos custos e tomar medidas para a sua redução. E estas medidas, note-se, serão tanto mais eficazes quanto maior for a participação e a motivação dos trabalhadores e não quanto maior for a taxa de exploração e a insegurança dos trabalhadores.
Ora segundo Contas Nacionais as remunerações dos trabalhadores representam apenas cerca de 26% dos custos de produção das empresas e no caso dos ramos exportadores da apenas 15,5% em média. Mesmo no caso do sector exportador da fabricação dos têxteis e indústria do vestuário, ele é de apenas 24%.
Tudo isto mostra bem o vazio e o absurdo dos das prédicas sobre os “elevados custos salariais”.
Poder-se-á então agora pôr a pergunta: “Mas então aqueles srs. professores e comentadores que vão à TV não sabem isso tudo?” Claro que sabem, talvez tenham esquecido, porém o problema é que são adeptos da teoria económica de que falava o economista John K. Galbraith, referindo-se às opções ideológicas neoliberais: “para o governo os ricos nunca são demasiado ricos para fazerem mais investimento e os pobres nunca são demasiado pobres para trabalharem mais”.

A seguir: 9 – Os “Altos Custos Salariais” - II

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