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11 de maio de 2011

O PEQUENO DICIONÁRIO CRÍTICO - 17 – USURA

Chamamos avareza ao excessivo desejo de acumular riqueza. Usura refere-se ao juro excessivo de dinheiro que se emprestou. No mundo actual campeia há décadas um pecado mortal: a avareza e a sua expressão mais cruel, a usura.
Alguns teólogos consideram-na o mais grave pecado, pois não prejudica só quem o pratica mas todos os seus semelhantes. Além disso, é um pecado estúpido, pois o dinheiro assim criado não passa de uma potencialidade, uma imagem, uma ilusão de valor. É nesta circunstância que o dinheiro da usura perde o seu poder, esfuma-se como mera virtualidade. Vemos assim o rebentar das bolhas financeiras e as quedas das cotações bolsistas. Quando se quer transformar o dinheiro da usura em valor real ele vai justamente ao encontro do seu equivalente em valor-trabalho. Donde as medidas de “reajustamento” e austeridade que se resumem a incrementar a exploração sobre a força de trabalho.
Para o neoliberalismo, monetarismo e congéneres, o dinheiro vale pelo dinheiro. Na usura “o dinheiro é o bem supremo, a verdadeira inteligência de todas as coisas” (Marx). Na usura o ter é o fundamento do ser: “Eu sou aquilo que tenho” criticava Marx. A finalidade última, é a posse. A bolha rebenta é preciso voltar a enche-la: a austeridade imposta aos povos ao serviço da usura, é a expressão da espoliação do valor-trabalho produzido para transformar o dinheiro, ilusão de valor, originada por deformadas relações de oferta e procura, em valor real, valor-trabalho.
Esta a verdadeira razão porque muito se falando em “crise” pouco ou mesmo nada se fala  das suas causas, senão para iludir.
Na sociedade dominada pela usura todos os valores sociais caem: são “privilégios” (1). Cai a cultura, a família, o direito à realização pessoal pelo trabalho.
Segundo a habitual avaliação da revista Forbes existem 1210 bilionários – pessoas com mais de mil milhões de dólares. O montante liquido destes indivíduos atinge 4,5 biliões de dólares (triliões americanos). Que faz com 1 210 indivíduos tenham tanto como 4 000 milhões de outros (cerca de 58% da população mundial) mas 1 100 milhões nem sequer consigam o suficiente para mitigar a fome. Uns dirão em termos amorais: é o mercado. São normalmente pessoas muito preocupadas em exibir a defesa dos “valores morais”e da “família”, enquanto promovem a sua desestabilização. Nós dizemos: é a avareza e a sua aliada a usura.
Em termos económicos saudáveis o juro deveria representar a avaliação que a sociedade faz entre consumo presente e consumo futuro, não deveria portanto afastar-se dos níveis previstos de inflação.
Os países na dependência da inflexível usura, apoiada por instituições internacionais são levados à recessão, ao desemprego ao empobrecimento – numa palavra à ruína. Na Irlanda a usura comprometeu o país com 85 mil milhões de euros. Em Portugal, a usura bancária com apoio do BCE lucrou em empréstimos ao Estado com cerca de 3,8 mil milhões de euros entre 2008 e 2010, aos quais podemos adicionar quase 500 milhões de euros de benefícios fiscais. Face a isto, que dizem os epígonos do sistema: usurário: que o problema resulta dos altos custos salariais e dos direitos no trabalho.
Como havemos de chamar ao facto do BCE ter emprestado e emprestar aos bancos a pouco mais que 1% e estes o mesmo dinheiro aos Estados a 7, 8, 9, 10% ou mais, quando a inflação europeia tem valores entre 1 e 2%.
Risco? Qual risco? São países, são Estados! Incumprimento? Incumprimento foi o da banca fraudulenta e especuladora pela qual os Estados se endividaram e que as sacralizadas “agências de rating” classificavam com a notação mais elevada dias antes da falência. Maior descrédito não poderia haver; como ficou bem demonstrado ao serviço de quem e de quê estavam e estão, quando davam nota máxima ao Lehmon Brothers, AIG, fundos Bernard Madoff, Dubai ou aos “exemplares” bancos irlandeses, etc, etc.
Riscos? Austeridade? A Goldman Sachs para não ser acusada de fraude pagou multa no valor de 500 milhões de dólares: 3% dos prémios distribuídos nesse ano a gestores; 2 semanas de lucros…
A usura transformou-se na actual idolatria. Um dos 10 mandamentos cristãos refere-se ao respeito devido ao Sagrado Nome de Deus. Para o neoliberalismo a este mandamento apõe-se o “sagrado nome dos mercados financeiros”. Ainda recentemente ouvimos severas admoestações tornadas públicas por políticos que ocupam e que ocuparam dos mais elevados cargos da Nação, por se criticarem ou chamarem pelo seu nome os usurários que assolam os povos. Trata-se de casos de completa prostração mental e ideológica perante a usura.
Os usurários – que os sacerdotes e fiéis desta religião apelidam de “mercados financeiros” – fizeram dos seus interesses “leis” económicas que se substituem a todos os valores sociais existentes, desde que de alguma forma os prejudiquem. Procedem como aquele chefe gaulês a quem os romanos à beira da derrota em 387 AC, prometeram 1 000 marcos de ouro para levantarem o cerco á sua cidade. Como os gauleses estavam a pesar o ouro com pesos adulterados os romanos protestaram, ao que o chefe gaulês puxou da espada e atirou-a para junto dos seus pesos dizendo: “Vae victis” – Ai dos vencidos.
Os juros da usura internacional que caiem inclementes sobre os povos são a consequência da submissão dos partidos do arco neoliberal, que levam os povos à derrota face aos poderes financeiros e ao seus produtos fraudulentos. Depois, como pesos adulterados temos os juros das dívidas públicas; a espada gaulesa representa o esmagamento final pelas draconianas condições impostas pelo FMI, a sós ou acompanhado pelo BCE e CE, a que os povos são sujeitos.
(1)          - Já falámos do que apelidam de “mordomias” e “subsídio dependência” – ver 8 – 9 – “Os Altos Custos Salariais”
A Seguir – (a propósito das próximas eleições) – 18 – Visão e Visões

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