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18 de maio de 2011

O PEQUENO DICIONÁRIO CRÍTICO - 19 – POPULISMO – I

O populismo tem através dos tempos tomado diferentes expressões, caracteriza-se no entanto por um denominador comum: ignora ou contesta a existência na sociedade de classes e camadas sociais com reais interesses diferenciados, contraditórios e muitas vezes antagónicos. Estas contradições seriam então artificialmente criadas por elementos, acusados de retrógrados e anti-sociais, ao defenderem os seus direitos numa perspectiva de progresso social.
Dá-se assim à expressão “povo” um sentido abstracto, desligado das realidades, a partir do qual constrói a sua demagogia e se alicerça um nacionalismo xenófobo e a tendência para a repressão.
Os fascismos foram populismos tentando iludir as contradições que o próprio sistema agravava à volta de mitos como a “nação” e a “superioridade racial”. As cruéis ditaduras terroristas sul-americanas foram e são expressões do populismo.
A política de direita serve-se do populismo para iludir os trabalhadores e os pequenos e médios empresários. G.W.Bush pregava a arruinados agricultores, mineiros e outros operários sem trabalho contra a intelectualidade “liberal” (termo que nos EUA designa pessoas com ideias progressistas) e os emigrantes, entre os apelos ao desígnio imperial norte-americano. Sarkozy e Berlusconi são na Europa exemplos acabados da demagogia populista, nacionalista, anti-sindical, que serve de cobertura à completa sujeição ao grande capital transnacional e ao aventureirismo imperialista. A situação económica e social destes países só se agravou.
O refúgio ideológico do neoliberalismo é o populismo, que corroeu os princípios mais elementares de partidos que se reclamavam de socialistas e social-democratas.
O populismo exprime-se também contra os “políticos” reclamando “líderes” e “profissionais independentes”(1) como forma de iludir mais facilmente os eleitores desiludidos precisamente com outros populistas! A propaganda política institucionalizada na comunicação social controlada contribui objectivamente para este desígnio.
Lembremos as promessas de protagonistas como Tony Blair ou David Cameron, no Reino Unido e a sua prática, (ao lado dos quais o presidente Obama não destoa) para avaliarmos os deste país.
A discussão refere-se sobretudo às formas e muito pouco ou nada aos conteúdos. Tal é evidente, além de pormenores que nada alteram às políticas de fundo, nas discussões entre os partidos do chamado “arco governamental”, ou seja, o "partido único neoliberal".
Estes partidos exprimem o populismo actual, copiando em muitos casos as demagogias neoliberais que proliferam na Itália, na Alemanha ou na França. Reclamam menos Estado, mas entendem que se reforcem as políticas ditas securitárias, que trazem consigo o germe da repressão, aliás já ensaiada contra sindicalistas nos governos PS.
Tonitruantes preocupações sociais limitam-se no concreto a arredondar transitoriamente algumas das arestas das mais gravosas medidas do neoliberalismo. Tendencialmente os objectivos sociais resumem-se à caridade voluntaria - à velha maneira - para se darem umas migalhas aos mais carenciados, mantendo uma certa fachada de preocupações sociais.
No seu discurso não entra o conceito de direitos sociais. Podem talvez proclama-lo, mas o seu princípio orientador é expresso no entendimento de que direitos sociais são “ajudas do Estado”, que estimulam a preguiça e a “subsídio dependência”. As excepções de alguns abusos são então generalizadas para justificar as invectivas.
O populismo foi sempre, ontem como hoje, uma ameaça às liberdades democráticas, que se pretende cristalizadas em formalismos condicionantes e formas mais ou menos abertas de repressão, de que os Códigos do Trabalho são um instrumento ao dispor dos interesses que realmente defendem.
Exímios na retórica e no verbalismo as reais intenções dos populistas ficam evidenciadas na forma rebuscada como no parlamento justificam as suas votações contra propostas que em nada contradizem o que perante a opinião pública veementemente defendem. A comunicação social controlada encarrega-se de dar cobertura a esta duplicidade.
No fundo, parafraseando Shakespeare, relativamente ao que prometem: “muito barulho para coisa nenhuma”.
A preponderância do discurso emocional, do qual as ameaças e a chantagem do “realismo político” são parte importante, desvia os eleitores das condições objectivas e das verdadeiras condicionantes sociais. A criação e a manutenção de potenciais “inimigos”, é uma constante do seu esquema.
Além disto o populismo refugia-se em “valores”, entendidos como moral individual com laivos de puritanismo, tanto maiores quanto a corrupção e o nepotismo florescem por detrás da verborreia.
A direita e a extrema-direita europeias e norte-americana, como a do “TEA party,” mas não só, apropriaram - se deste tipo de discurso que faz o seu caminho perante a crise que se agrava e perpetua.
Estrénuos defensores do grande capital e da finança, da especulação e da arbitrariedade patronal, a verdadeira natureza do populismo revela-se na defesa de tudo o que de perto ou de longe possa melindrar uns e outros. Nestas alturas, cai o verniz democrático e aparece o seu verdadeiro rosto de agressividade, intolerância, arrogância classista.
(1)          – Ver neste “Pequeno dicionário”: 1 – Políticos e Políticas.
A seguir: 19 – Populismo II (ainda acerca das próximas eleições)

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