Miguel Esteves Cardoso 6/3/2021
Vivam os comunistas
A primeira coisa a dizer ao Partido Comunista Português não é parabéns: é obrigado. O ser humano é ingrato e a variante portuguesa é conhecida por ter horror à gratidão (e ao elogio) em todas as formas, mas gostava que os mais ingratos dessem uma vista de olhos pelas coisas que o PCP defende e fizesse uma lista daquelas com as quais não concorda.
Note-se que muitas das coisas valiosas pelas quais se bate o PCP nós já temos (o SNS, a Constituição, a escola pública). Note-se também que o PCP contribuiu muito para que as tivéssemos – algumas delas, importantíssimas, por ter sido o primeiro a defendê-las.
Quando penso nos comunistas portugueses penso em seriedade e honestidade, penso em patriotismo e, sobretudo, penso na defesa dos portugueses mais indefesos: os mais pobres, os mais fracos, os mais injustiçados, os que mais precisam de quem lute e fale por eles.
Penso também em coragem e teimosia: a coragem de ir contra o que cai bem, de ir contra as modas, de ir contra o conforto da elite política, de ir contra o que aconselham as sondagens de opinião.
Acho espantoso que se elogie o trabalho do PCP onde quer que o tenham deixado trabalhar – elegendo-o para as autarquias, por exemplo –, mas que se queira atenuar esse elogio com um mero reconhecimento da sua “capacidade organizativa” ou mobilizadora ou sabe-se lá o quê. E depois há a versão ainda mais depreciativa de lhes dar os parabéns só por ter durado cem anos.
O PCP conseguiu o que fez – o que já fez e está agora a fazer, repito – porque trabalhou, com afinco, lealdade, sacrifício e sentido de missão, para ajudar quem precisava – e continua a precisar – de ajuda.
De nenhum outro partido português se pode dizer isto.
Que dure mais cem anos, para bem de todos nós.
1 comentário:
Acho espantosa a lucidez deste escriba mais ou menos ignorado que prometo honrar em futuras leituras que não vou deixar passar despercebidas.
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