J. Lourenço
Apesar
da travagem e interrupção das políticas de retrocesso e desastre económico que
foi possível conseguir-se com a nova solução política saída das últimas
eleições legislativas de Outubro de 2015 e que permitiu a formação de um
Governo minoritário do PS a verdade é que os graves problemas estruturais do
nosso país continuam por resolver e vão-se agravando.
A política de submissão às imposições
da União Europeia, dos interesses dos monopólios, dos grandes grupos económicos
e das grandes potências europeias, nos seus traços fundamentais mantiveram-se
com este Governo e com ela, os constrangimentos, atrasos e problemas
estruturais que o país enfrenta.
Uma análise mais cuidada dos chamados
sectores estratégicos da nossa economia mostra-nos que as políticas de
submissão à União Europeia e ao euro fizeram e fazem com que os chamados
défices estruturais do nosso país, se arrestem e agravem com as políticas que
este Governo não tem capacidade para interromper.
E assim
hoje Portugal continua excessivamente desigual, em que o peso dos ordenados e
salários pouco excede 1/3 do PIB, injusto, em que a percentagem de trabalho
precário é das mais elevadas da EU e as remunerações das mais baixas,
dependente, com um défice da balança alimentar de perto de 4 mil milhões de
euros, um défice da balança de bens de cerca de 12 mil milhões de euros e
excessivamente terciarizado e menos democrático, com cada vez mais portugueses
desiludidos e a não participarem na vida cívica e em particular nos actos
eleitorais.
Um país
que cria cada vez mais valor para os accionistas dos grandes grupos económicos,
um país com cerca de setecentos mil trabalhadores desempregados, mais de dois
milhões de pobres, com mais de dois milhões e duzentos e cinquenta mil pensões
(76% do total) inferiores a 400 euros e com um salário líquido mediano de cerca
de 800 euros.
Um país
que em nome da competitividade fiscal continua a conceder mais de 500 milhões
de euros de benefícios fiscais aos grandes grupos económicos, que permite que
mantenham as suas principais sedes no estrangeiro e que na defesa do interesse
dos grandes grupos financeiros paga anualmente às Parcerias Público Privado
cerca de 1 700 milhões de euros.
Enquanto
se mantiver uma política de favorecimento dos interesses dos monopólios, com
privatizações, benefícios fiscais, apoios de milhões aos grandes interesses,
favores e negócios ruinosos para o erário público, o processo de afundamento do
país continuará, mesmo que conjunturalmente a situação económica do país possa
registar pequenos êxitos.
Aos que
nos dizem ou se refugiam nas imposições decorrentes na União Europeia, também
ela uma estrutura dos monopólios, para afirmar da impossibilidade da ruptura com
este rumo, relembramos que nenhum tratado, nenhum processo de integração se
pode sobrepor ao direito do povo português de decidir do seu futuro, do direito
de assegurar uma política que responda aos interesses e aspirações dos
trabalhadores e da população.
O desenvolvimento económico, que
defendemos para o nosso país, deve ter na sua base uma política económica patriótica
e de esquerda, cujos grandes objectivos sejam:
· A defesa e promoção da produção
nacional e dos sectores produtivos, com a planificação da actividade económica
e o desenvolvimento de uma política em defesa da industria transformadora e
extractiva, da agricultura e das pescas, que coloque os recursos nacionais ao
serviço do povo e do país e que desta forma contribua para a redução dos nossos
défices estruturais – alimentar, energético, tecnológico e de bens de
equipamento -;
· O apoio à substituição de importações
por produção, às exportações com elevado valor acrescentado e à diversificação
dos nossos mercados externos,
· A melhoria do nível e da qualidade de
vida dos portugueses, através da valorização do trabalho e dos trabalhadores,
assente no pleno emprego, no aumento dos salários, na redução do horário de
trabalho, na defesa do trabalho com direitos, no combate ao desemprego e à
precariedade e em melhores reformas e pensões. O desenvolvimento económico do
país deverá ter correspondência numa elevada satisfação das necessidades da
população, numa justa e equilibrada repartição da riqueza do país e na defesa
da independência nacional.
· A recuperação para o sector público,
dos sectores básicos e estratégicos da economia, afirmando um sector
empresarial do Estado forte e dinâmico, e o apoio às micro, pequenas e médias
empresas e ao sector cooperativo.
· O controlo público da banca e do
sistema financeiro, com a propriedade e gestão públicas, que discipline o
sistema financeiro, financie o investimento produtivo e conceda crédito às
empresas e famílias.
· A garantia de uma administração e
serviços públicos ao serviço do povo e do país, valorizando o serviço nacional
de saúde, como serviço público universal e gratuito, uma escola pública
gratuita e de qualidade, um sistema de segurança social público e universal, um
serviço público de cultura.
· A implementação de uma política
fiscal justa, que alivie a carga fiscal sobre os rendimentos dos trabalhadores
e do povo, rompa com favorecimento escandaloso do grande capital e combata os
paraísos fiscais e aqueles que em Portugal continuam a beneficiar deles.
· A renegociação da dívida pública, nos
seus prazos, juros e montantes, que garanta um serviço da dívida compatível com
o crescimento económico do país, com as necessidades de investimento público,
com a criação de emprego, em suma com o desenvolvimento económico do nosso
país.
· Uma política que estabeleça como
prioritária a libertação do nosso país da submissão ao euro e às imposições e
constrangimentos da União Europeia e que afirme uma política externa
independente e um Portugal livre e soberano.
Quarenta
e quatro anos depois do 25 de Abril reafirmamos que a indispensável ruptura e
mudança na vida nacional é tão mais realizável quanto mais expressivo for o
desenvolvimento da luta de massas e mais largamente se afirmar a frente de
oposição à política de direita.
Uma
mudança que está nas mãos dos trabalhadores e do povo construir contando, como
sempre contaram, com a intervenção do PCP na defesa dos seus direitos e por um
Portugal mais justo, livre, próspero e soberano.
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