Dimitri Rogozin (diretor geral da Roscosmos, ex-adjunto do primeiro-ministro para a indústria da defesa, etc.) expõe num seu livro (The hawks of peace”, Glagoslav Publications, Londres, 2013) o processo de liquidação do socialismo na URSS. (1)
O texto de Dimitri Rogozin permite-nos dois níveis de análise: por um lado o cinismo de potências que se qualificam como o poder democrático e pretendem determinar como os povos têm de viver; por outro como o PCUS caiu no atoleiro moral e ideológico que DR descreve.
Dimitri Rogozin (DR) membro do Konsomol é convidado a ingressar no KGB. Depois de ter estado quatro anos em Cuba onde escreveu as suas teses de doutoramento, regressa em 1986 “desejoso de começar a trabalhar para os órgãos de Segurança do Estado”. Tal não vai acontecer, já nesta altura tinha começado o processo de desmantelamento do KGB, de serviços diplomáticos, ministério da defesa, etc.
“A URSS tinha especialistas, cientistas, académicos de primeira classe. Tudo o que havia a fazer era ouvir essas pessoas no sentido de modernizar a economia e a ciência militar. Quando Gorbachov foi levado ao poder em 1985 nós tínhamos todas as ferramentas necessárias para transformar e consolidar essas forças se tivesse querido livrar-se dos ladrões e traidores que constituíam o governo.”
“Muitas vezes me perguntei porquê a URSS se tinha tornado uma super potência sob Estaline e por que tinha começado a perder posição após a sua morte. (...) Muito simples, sob Estaline a ninguém da nomenclatura era permitido roubar o Estado. Este é talvez o maior mérito da sua era e a principal razão da sua imorredoura popularidade atualmente.”
“A ideologia marxista levou a nação a grandes projetos como o Plano Goelro, industrialização, rápida reconstrução após as destruições da agressão nazi, ganhou o estatuto de potência nuclear. pesquisa espacial, campanha das terras virgens, caminho de ferro Baikal-Amur. A minha geração está infinitamente grata aos nossos pais e avós por defenderem a liberdade e a soberania do país e levá-lo ao estatuto de potência mundial.” “Na URSS as pessoas tinham confiança no futuro, podiam encarar expectativas para si e para o seu país. Tudo isto foi ridicularizado em grande escala por jornalistas e cómicos na TV durante a Perestroika.”
“Não foram causas materiais nem fatores económicos a principal causa do declínio e morte da URSS, não morreu por lojas vazias ou patetices como agentes 007, nem pelas questões sem sentido de dissidentes desejosos de se tornarem emigrantes famosos no Ocidente, nem mesmo pelos tons dececionantes da propaganda soviética.”
“As Forças Armadas eram perfeitamente capazes de responder a qualquer agressor externo que quisesse atingir a soberania do Estado soviético.” “Os povos da URSS, desejavam preservar as boas realizações da estrutura Soviética. No referendo realizado em março de 1991, apesar da formula rebuscada arranjada por Gorbachov, a grande maioria da população votou a favor da manutenção da URSS.”
“A URSS foi perdida por vigaristas políticos e demagogos. A liderança do Partido era constituída quer por fracos do tipo Gorbachov quer por traidores de direita ou separatistas nacionalistas que resolveram destruir as estruturas locais do Estado e arrebanhar o poder. Yeltsin era um obstinado déspota sabia o que estava a fazer. Ele traiu e vendeu a Rússia.”
“O Soviete Supremo da Federação Russa era o último obstáculo no caminho deste gangue que dividiu a URSS, mas o Soviete Supremo tinha apenas mais dois anos de vida.” Em 1993 “Tanques dispararam sobre o Parlamento Russo que não tinha nem armas nem defensores. Centenas foram mortos ou esmagados pelos tanques.” Nesse mesmo dia foram realizados disparos do telhado da embaixada dos EUA sobre manifestantes.”
“Yeltsin tudo fez para que sob o seu poder não pudesse haver nem Constituição, nem lei, nem honra, nem moral na Rússia. Encorajou as Republicas nacionais a “tomarem tanta soberania quanto pudessem absorver”. Entregou os interesses Russos, terra, propriedades, capital, populações, aos apetites dos novos Estados independentes através da escalada de agressões fascistas.”
Yeltsin criou um Estado gangster imerso no roubo e na caça ao poder.” “Traiu os interesses russos de novo, quando assinou um concessão de 20 anos pela base naval de Sebastopol, que nunca tinha sido entregue à Ucrânia, nem 1948, nem em 1954, nem em 1991. Sebastopol (Crimeia) sempre foi parte integrante da esquadra do Mar Negro.”
“Como foi possível acreditar nas palavras dos Americanos que fizeram promessas a Gorbachov que a Alemanha reunificada nunca se juntaria à NATO e esta não se expandiria para Leste. Em qualquer outro país falsos negociadores como estes teriam sido linchados, mas na Rússia de então ladrões e traidores esperavam não apenas perdão mas glória e respeito.”
“Nos Estados Bálticos neonazis e veteranos das Waffen SS marchavam pelas ruas, Gorbachov desviava o olhar perdendo o controlo do governo e do país. Na Geórgia e na Arménia armamento era retirado dos depósitos e distribuído aos esquadrões de rebeldes separatistas com a conivência das entidades partidárias e do governo.”
Estes acontecimentos, particularmente os de agosto de 1991 provam plenamente a cobardia de Gorbachov e a natureza manhosa de Yeltsin, a sua prontidão para sacrificar o futuro do país e as vidas do seu povo pela disputa do seu próprio poder.
A Perestroika foi fruto dos burocratas do PCUS para manterem o poder sobre os ativos do Estado num ambiente de caos e desintegração. Em 1998 a Duma formou um Comité para a destituição de Yeltsin alegando negligência, traição e corrupção que tinham levado à guerra na Chechénia. Tal não se verificou por escassa margem de votos. A Rússia enfrentava então o colapso financeiro sendo formado um novo governo. Em agosto de 1999 o então chefe do FSB (sucessor do KGB) Vladimir Putin torna-se primeiro-ministro. Em dezembro Yeltsin demite-se e Putin é eleito Presidente três meses depois.
1 – Ver https://resistir.info/v_carvalho/rogozin_resenha_1.html
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