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18 de agosto de 2021

Uma conferência “pela democracia” promovida por belicistas

 Quando os EUA falam em democracia sabemos o que isso significa da Colômbia ao Afeganistão, passando pela Ucrânia, etc. No passado 11 de agosto, a Casa Branca anunciou que o presidente dos Estados Unidos "reunirá por videoconferência líderes de um grupo de democracias numa Reunião de Alto Nível pela Democracia em 9 e 10 de dezembro, prevendo-se um ano depois uma segunda reunião. Esta iniciativa pretende classificar todos os países em democráticos e não democráticos ou "autoritários". (1)

Se a isto não se associasse o risco de tornar o mundo cada vez mais perigoso encaminhando-se para conflitos de dimensões incontroláveis, seria ridículo. Os EUA pretendem assumir o papel do papado medieval, com suas ortodoxias, excomunhões e interdições, com que submetiam reis e reinos. Tal como as do passado, as cruzadas contra o “terrorismo” ou pela “democracia” têm falhado totalmente os seus objetivos de que são exemplos a retirada do Afeganistão ou do Iraque e a derrota na Síria (quem se lembra das arrogantes declarações iniciais de que Bashar al Assad não duraria 6 meses?).

Agora o periclitante império decide fazer um “concílio” para dividir o mundo em “democratas e totalitários”, “bons e maus”, “aliados e inimigos da “ordem mundial”. Claro que alguns aliados como a Arábia Saudita, monarquias árabes, oligarquias repressivas da América Latina, nazis da Ucrânia, etc. dificilmente entram no conceito de democracia mesmo a dos EUA, mas a imaginação é fértil e os media ajudam. dias um comentador especificava as violências que os fundamentalistas islâmicos afegãos iriam praticar as sobre mulheres. O ridículo é que tudo o que dizia se passa na Arábia Saudita grande aliado e mercado de armas de países da NATO! Mas a sua argúcia não chegava a tanto… Também os media nunca se preocuparam com os crimes sobre civis cometidos pela ocupação do Afeganistão.

Com esta reunião o império pretende realinhar os seus aliados, obrigando-os a definirem-se de acordo com a política externa dos EUA, e mobiliza-los para futuros confrontos com a Rússia e a China. Dividir o mundo em partes antagónicas é criar uma nova guerra fria, com a agravante de provocações diretas à Rússia e China, algo que não acontecia com a URSS.

Na sua essência isto parece uma farsa de mau gosto, em que os mais prejudicados económica, social e militarmente seriam os países da UE. A loucura dos dirigentes dos EUA não lhes permite compreender que esta divisão é uma confissão que o império global não existe mais, a globalização neoliberal esvazia-se e a posição dominante do dólar torna-se insustentável.

O mais grave desta insanidade do império em declínio está na provocação que a iniciativa contém: Taiwan seria convidada a participar. Blinken (Secretário de Estado) disse que Taiwan tem um sistema democrático forte e é um importante centro de tecnologia, é "também é um país que pode contribuir para o mundo."

A questão de Taiwan para a China é além do tudo mais psicológica, a China nunca tolerará que a ilha assuma formalmente a independência e quebre a política estrutural chinesa de “um país dois sistemas”, que representaria um total descrédito interno e externo.

Adverte a China: “Advertimos Washington e a ilha de que a chamada democracia não é uma desculpa para promover a "independência de Taiwan". Se Washington cria uma cena em que Tsai participa do encontro com líderes dos EUA e de outros países, é para reconhecer publicamente o status da ilha como um "país", quebrando o status quo político do Estreito de Taiwan. Pequim não terá escolha a não ser tomar medidas firmes. Haverá contra-ataques decisivos para defender a China.(1)

Como resposta a China enviará a sua aviação militar (caças) para sobrevoarem a ilha, considerando que o território abaixo é chinês. O que pode então acontecer? Se Taiwan abrir fogo contra os caças, “o grande número de mísseis direcionados aos alvos militares de Taiwan e nossas frotas de bombardeiros darão uma resposta decisiva.”

Estão os EUA preparados para as consequências da sua opção de avançar com a independência de Taiwan? Os EUA poderão atacar a China a partir das bases que a cercam e porta-aviões. Porém a China dispões de misseis que podem afundar aqueles navios, misseis intercontinentais que atingem os EUA e estão aceleradamente a desenvolver a sua capacidade nuclear e a rede de silos para misseis (em construção mais de uma centena) contando, pelo menos, com o apoio do armamento mais sofisticado da Rússia.

É impossível prever o desenrolar destes acontecimentos cuja gravidade aproximam o mundo de uma situação que pode degenerar em guerra mundial, a partir do envolvimento da NATO e da Rússia.

1 - US, Taiwan crossing the red line will create historic opportunity for PLA fighter jets to fly over island: Global Times editorial - Global Times

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