A Argentina, como tantas outras regiões da chamada ordem ocidental, está a viver uma era de estupidez. O pastor alemão Dietrich Bonhoeffer advertiu antes de ser executado pelos nazis que: "a estupidez é um inimigo do bem mais perigoso que a maldade."
Milei é mais um que se afirmou antissistema, prometendo libertar a Argentina do que chamou a "casta". Berrava, acusava, era "el loco" com uma moto serra. Venceu as eleições, graças à estupidez política que se difunde pela sociedade como um vírus. Apenas conseguiu a ruína da economia argentina e a tal "casta" prospera como até ali ou ainda melhor.
Milei, num novo livro fala da "A Construção do Milagre", mas o seu "milagre" é o agravamento da crise económica e financeira. Em média, fecharam 28 empresas por dia durante os 22 meses da presidência de Milei. Agora, outra recessão aproxima-se à medida que bancos de investimento globais e o Banco Mundial, cortam as previsões de crescimento.
A moeda, o peso, continua a cair, o prémio de risco-país da Argentina, medido pela JP Morgan, está em 1260 pontos - o Brasil em 187. O Banco Central intervém constantemente para apoiar o peso: 1,5 mil milhões de dólares nas últimas seis sessões. As taxas de juros de curto prazo atingiram os 80%, isto para quem dizia acabar com a inflação.
O secretário do Tesouro dos EUA, afirmou fazer o que fosse necessário para salvar a economia e a moeda argentinas: "o sucesso do programa de reforma da Argentina é de importância sistémica", "uma Argentina forte e estável que ajude a ancorar um próspero Hemisfério Ocidental é do interesse estratégico dos Estados Unidos". As suas palavras tiveram um efeito semelhante na confiança dos investidores às de Draghi na UE - nenhum.
O governo Trump prepara um resgate potencialmente ilimitado para um governo que já foi resgatado pelo FMI, pelo Banco Mundial e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento. Um governo, como o governo Noboa do Equador, alinhado aos EUA e com laços com traficantes de drogas.
Washington mobiliza dinheiro para manter seu maior Estado cliente à tona na América do Sul, porém o cenário é que 65% da população desaprova Milei, prevendo-se que obtenha entre 34% a 37% dos votos na próxima eleição parlamentar. O que não é surpresa, dado o estado da economia e a proliferação de escândalos políticos, implicando Milei e sua comitiva.
O banco central restringiu a compra de dólares à taxa oficial super valorizada. Uma admissão que as reservas estão a esgotar-se. O banco central havia reforçado o controlo de capital na semana anterior, mas não ajudou. O FMI e os EUA querem que a Argentina aumente as reservas monetárias, desejo inútil, pois o país afunda-se.
Depois que o governo Milei afrouxou o controlo de capital em abril, como parte do acordo de resgate com o FMI, 5,3 mil milhões de dólares deixaram o país em apenas seis semanas! O equivalente a 44% dos primeiros desembolsos do FMI de 12 mil milhões. Um dinheiro a somar à dívida impagável da Argentina... e que nada tem beneficiado o país.
Milei insiste na sua economia falhada e culpa a oposição "A economia estava a recuperar até que os orcs (a oposição) começaram a quebrar tudo". Mesmo assim promete: "Se continuarmos no nosso caminho, em 10 anos seremos como a Espanha, em 20 anos como a Alemanha, em 30 como os Estados Unidos e em 40 estaremos entre os três principais países com maior rendimento". É o pensamento delirante do liberalismo.
Durante 22 meses os "especialistas" da imprensa financeira internacional elogiaram a economia de Milei, que nada mais é que uma versão extrema do neoliberalismo. Agora parecem perder a confiança - o que comprova a estupidez das análises. O Financial Times alerta que os argentinos estão perdendo a paciência com a economia" após quase dois anos de ajuste fiscal ... e crescente agitação social.
De facto, os efeitos da austeridade não mostram um quadro agradável da realidade. Donos de empresas disseram que seus clientes estavam ficando sem dinheiro: "pessoas pagam o pão com cartões de crédito". "A inflação caiu, mas vejo mais desigualdade." Outro disse que estava a fechar sua fábrica de chocolate, inaugurada em 2022, devido à menor procura. "As vendas caíram 50%"
A isto acrescem os escândalos de corrupção, num político que "ia limpar o pais", acumulando-se corrupção e ligações ao tráfico de droga (cocaína) em gente do partido (La Libertad Avanza) e bem próxima de Milei. A sanidade mental de Milei pode avaliar-se ao propor que fosse nomeado ministro da Segurança, um homem que acabara de admitir ter recebido dinheiro de um suposto traficante de drogas,.
O partido de Milei foi derrotado nas eleições locais no início de setembro, e espera-se que sofra uma derrota semelhante nas eleições legislativas em 26 de outubro. Um desempenho fraco pode deixá-lo com uma maioria peronista na nova legislatura impedindo que governe por decretos.
Fonte - Les choses deviennent carrément surréalistes dans l’Argentine de Milei
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