Quando Lavrov fala, o Ocidente deveria ouvir, mas não o fará.
A
diplomacia é uma arte, a verdadeira, e Sergey Lavrov domina-a como um
grande mestre do xadrez a brincar com amadores. Num desmantelamento
brutal do entrevistador dolorosamente ingénuo da CBS, Lavrov não se
limitou a expor a posição da Rússia sobre a Ucrânia, a Crimeia e as
armas nucleares: ele anunciou as novas regras do jogo. E Washington,
pelo menos a parte que ainda se apega às suas fantasias da Guerra Fria,
ainda não consegue compreender que agora está a jogar no preto, e não no
branco.
Lavrov deixou
claro que a Rússia já está a ditar os termos. Cessar-fogo? Só que com
garantias inabaláveis de que a Ucrânia não o usará como espaço para
respirar, se rearmar, reconstruir e sangrar novamente para o deleite da
OTAN. "Cessar-fogo, sim, mas queremos as garantias", disse Lavrov,
cortando os pontos de discussão ocidentais como um cirurgião. Chega de
enganos de Minsk, chega de traições de Istambul. A Rússia já esteve lá,
fez isso, e desta vez, não tem mais luvas.
Sobre
a Crimeia, Lavrov não apenas descartou as ilusões ocidentais, como as
enterrou. "Este é um acordo fechado", declarou, elogiando Trump por
admitir o que todo o jogador sério já sabe: a Crimeia é Rússia,
permanente e irrevogavelmente. Ponto final. Sem negociações, sem
fantasias de "regresso às fronteiras de 1991". O Ocidente pode reclamar
dos bastidores, mas o tabuleiro de xadrez já mudou.
Sanções?
Lavrov tratava-as com desprezo casual. A Rússia, explicou ele, não
apenas sobreviveu, mas adaptou-se, armou-se e superou a guerra económica
do Ocidente. Ele até alertou, com ironia, que o levantamento das
sanções poderia apenas permitir que a podridão do parasitismo ocidental
se infiltrasse novamente. O império que tentou sufocar a Rússia
economicamente encontra-se agora ofegante, uma verdade tão devastadora
que nem mesmo a CBS conseguiu distorcê-la. Olá, 4ª maior economia do
mundo, merci-danke-obrigado. A Rússia está grata pelo impulso para se
tornar uma superpotência económica soberana.
E
então veio o golpe de mestre: a histeria dos "satélites" nucleares.
Lavrov friamente lembrou à plateia que a Rússia defendeu a proibição de
armas nucleares no espaço, enquanto foi Washington...sim, Washington,
que bloqueou todos os esforços para um tratado. Projecção é uma droga
infernal, e os serviços de inteligência americanos estão a ter uma
overdose. Lavrov não precisou de gritar. A sua precisão é mais profunda:
aquilo de que o Ocidente acusa a Rússia, geralmente é o culpado.
Cada
pergunta feita pelo entrevistador da CBS: sobre crianças sequestradas,
ataques a civis, pressão de sanções, era exposta como um teatro vazio.
Lavrov respondia com factos, não com emoções. E por trás do seu tom
controlado, havia uma mensagem clara: a Rússia não aceitará sermões de
um império decadente que perdeu o controlo da realidade.
Como
disse Lavrov sem rodeios: "Somos pessoas sérias. Fazemos propostas
sérias." Nada de truques mediáticos. Nada de vazamentos. Nada de tuítes.
A administração Trump, para seu crédito, parece entender isso, pelo
menos mais do que o circo de Biden jamais poderia. Há um diálogo em
curso: negociações reais, cautelosas e confidenciais, mas o tempo está a
passar. A paciência da Rússia não é infinita, e a sua posição nunca foi
tão forte.
Lavrov não se
limitou a defender as linhas vermelhas da Rússia. Ele pintou os
contornos do mundo pós-unipolar com a mão firme de um homem que sabe que
a história já se está a inclinar para leste. Equilíbrio de interesses,
ou não há paz. Respeito à soberania russa, ou não há acordos. A Crimeia é
Rússia. A Ucrânia não será o cão de ataque da OTAN. Sanções são uma
arma fracassada. Lavrov falou. A história ouviu. Grande parte de
Washington, como sempre, tapou os ouvidos.
- Gerry Nolan
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