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21 de abril de 2020

O distanciamento social em democracia

Manlio Dinucci.

“O distanciamento social chegou para ficar muito mais do que algumas semanas. Num certo sentido, irá perturbar o nosso modo de vida para sempre”: anunciaram os pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, uma das universidades de maior prestígio dos Estados Unidos (MIT Technology Review, We’re not goingback to normal, 17 March 2020).
Citam o relatório apresentado pelos pesquisadores do Imperial College London, segundo o qual o distanciamento social deve tornar-se uma norma constante e ser reduzido ou intensificado, de acordo com o número de pacientes hospitalizados pelo vírus, nas unidades de terapia intensiva. O modelo elaborado por estes e por outros pesquisadores não diz respeito só às medidas a ser tomadas contra o coronavírus. Torna-se num modelo social, real e preciso, do qual já se preparam os procedimentos e os instrumentos que os governos deverão impor como lei.
Os dois gigantes da Informática, Apple e Google, até agora rivais, associaram-se para inserir biliões de sistemas móveis para iPhone e Android, em todo o mundo, num programa de “seguimento de contactos” que avisa os clientes se alguém infectado com o vírus se  está a  aproximar deles. As duas empresas garantem que o programa “respeitará a transparência e a privacidade dos utentes”.
Um sistema de rastreio ainda mais eficaz é o dos “certificados digitais”, nos quais estão a trabalhar duas universidades americanas, a Rice University e o MIT, apoiadas pela Bill & Melinda Gates Foundation, a fundação americana criada por Bill Gates, fundador da Microsoft, a segunda pessoa mais rica do mundo na classificação da revista Forbes. Ele anunciou-o publicamente, respondendo a um empresário que lhe perguntou como retomar as actividades de produção, mantendo o distanciamento social:
“No final, teremos certificados digitais para mostrar quem se recuperou ou foi testado recentemente, ou quando tivermos uma vacina, se esse indivíduo a tomou. (The Blog of Bill Gates, 31 questions and answers about COVID-19, 19 March 2020).
O certificado digital de que Gates fala, não é o actual cartão de saúde electrónico. A Rice University anunciou, em Dezembro de 2019, a invenção de pontos quânticos à base de cobre que, injectados no corpo juntamente com a vacina, “se tornam em algo semelhante a uma tatuagem de código de barras, que pode ser lida através de um smartphone personalizado”.(Rice University, Quantum-dot tattoos holdvaccination record, 18 Dicember 2019). A mesma tecnologia foi desenvolvida pelo Instituto de Tecnologia Massachusetts (Scientific American, Invisible Ink CouldReveal whether Kids Have Been Vaccinated, 19 Dicember 2019).
A invenção desta tecnologia foi encomendada e financiada pela Fundação Gates, que declara querer usá-la nas vacinas para crianças,principalmente nos países em desenvolvimento. Também poderia ser usada numa vacinação à escala global contra o coronavírus..
Este é o futuro “modo de vida” que nos é anunciado: o distanciamento social com estrutura variável sempre em vigor, o medo constante de ser abordado por um infectado pelo vírus sinalizado por um toque do nosso telemóvel, o controlo permanente pelo “código de barras” implantado no nosso corpo. Seria, essencialmente, uma extensão dos sistemas militares com os quais se podem seguir e acertar nos “alvos” humanos.
Sem subestimar o perigo do coronavírus – seja qual for a sua origem – e a necessidade de medidas para impedir a sua propagação, não podemos deixar nas mãos dos cientistas do MIT e da Fundação Gates a decisão de qual deve ser o nosso modo de vida. Também não podemos parar de pensar e fazer perguntas. Por exemplo:
É muito grave que o número de mortes devido ao coronavírus, na Europa, seja actualmente, quase 97.000, mas que medidas devem ser tomadas em proporção, contra as partículas finas, as PM2,5,  que – segundo os dados oficiais da European Environment Agency(Airquality in Europe – 2019 report)  – provocam, a cada ano, na Europa, a morte prematura de mais de 400.000 pessoas?
Manlio Dinucci

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