1 "Estou a pensar na grande derrota que teve a comunicação social dominante que não conseguiu catapultar o Chega nem afastar a esquerda mais consequente do PE .
Na grande derrota
que tiveram os generais " Isidros " da CNNs & SICs & Orelhas que não conseguiram evitar o
afundamento do seu Macron o tal que queria mandar tropas francesas para
a Ucrânia.
Na subida da Extrema direita na UE que , como se sabe , nada tem a ver com as politicas neoliberais , com a defesa da continuação da guerra e com a imigração pelas máfias de aluguer de mão de obra e as mortes no mediterrâneo pela destruição deliberada da Líbia . facebook Manuel Jacinto "
2 NIÃO EUROPEIA: À DERIVA ENTRE DUAS ILUSÕES
Viriato Soromenho Marques - DN
Tudo
indica que as forças do nacionalismo e populismo extremos terão um
significativo ganho relativo de deputados no Parlamento Europeu (PE) em
2024. Contudo, já nas eleições de 2014, a mesma corrente política obteve
triunfos substanciais. Basta recordar a vitória da Frente Nacional
(hoje, Reagrupamento Nacional-RN) de Marine Le Pen, ou o sucesso de
Nigel Farage, com o seu UKIP, que seria o instrumento fundamental para o
Brexit em 2016.
Em 2014,
sangrava ainda a crise do euro, disfarçada com a máscara oficial da
“crise das dívidas soberanas”. Tratava-se, então, de uma clivagem aguda.
mas na periferia europeia (Irlanda, Grécia, Portugal, Chipre, a banca
espanhola…). A sua narrativa afundava-se numa linguagem económica e
financeira errada e moralista: corrigir o pecado coletivo de povos
inteiros que teriam vivido acima das suas posses.
As
vitórias populistas, de 2014 e de 2024, pelo contrário, mudam a
intensidade, mas também a geografia e o léxico do mal-estar europeu. O
fulcro da doença da UE ataca hoje o núcleo dos países da Declaração
Schuman de 1950, diria mesmo, o coração da velha Europa Carolíngia. O
populismo já governa a Itália e a Holanda, ameaça uma Alemanha, que
nunca foi tão desgovernada em democracia (incluo a República de Weimar),
e caminha para uma vitória presidencial de Marine Le Pen em 2027, que
só a doença ou a guerra poderão travar.
Para
capitalizar os seus ganhos no PE, os partidos populistas deverão fundir
os seus dois grupos parlamentares, respetivamente, o ID (Identidade e
Democracia), onde pontifica o RN de Marine Le Pen, e o ECR, onde se
destacam os Irmãos de Itália, da PM italiana Giorgia Meloni.
O
PE será apenas mais uma plataforma para assaltar o centro do poder da
UE, o Conselho Europeu, onde se definem alianças e hierarquias. Mas o
que querem, afinal, os populistas? O seu discurso, nem sempre coerente,
reclama mais devolução de soberania às nações, menos competências das
instituições europeias, em especial da Comissão Europeia (CE). Querem
mais autonomia dos Estados nas migrações e na política externa e de
defesa. Dividem-se sobre o que fazer perante a guerra na Ucrânia, mas
estão unidos na contestação das políticas ambientais e climáticas. A sua
natureza, simultaneamente populista e nacionalista, não augura uma
cooperação sistemática entre estas forças, à medida que assumam lugares
de decisão nos respetivos países. Mais perigoso ainda é o seu desempenho
em matéria de Direitos Humanos: chauvinismo, racismo, homofobia, fazem
parte de uma agenda de (maus) costumes, que, aliás, é partilhada com
alguma da velha direita.
Contudo,
importa não cair na habitual falácia de tomar as causas pelos efeitos.
Se a onda populista marca um novo ciclo político, no estado de crise
permanente em que a UE entrou, quase desde o início do século, isso
deve-se à incapacidade de democratas-cristãos, socialistas e liberais se
manterem fiéis a um projeto europeu baseado na defesa da paz, do Estado
Social e da proteção ambiental.
O
neoliberalismo e a sua teologia de mercado intoxicaram a construção
europeia, desde logo na incompetente arquitetura da Zona Euro, e depois
na passividade cúmplice face à subida aguda da desigualdade e da pobreza
nos países europeus. Por outro lado, também não foram Governos
populistas que arrastaram a UE para a perigosa subordinação à NATO e aos
EUA, numa guerra, que segundo inquérito recente do Institute of Global
Affairs, de Nova Iorque, conta com a oposição esmagadora de europeus e
norte-americanos.
Vejamos
dois dos erros cruciais que alimentaram o populismo. Um dos primeiros
países onde o extremismo despontou, com o partido Aurora Dourada, foi a
Grécia. Então, sob o duplo peso da austeridade e de vagas de migrantes.
Os Governos de Atenas e Roma gerem duas das mais sensíveis zonas de
entrada de refugiados na Europa. É extraordinário verificar não só o
total improviso e falta de solidariedade da UE, como a criminosa e
irresponsável descoordenação entre os Estados-membros na prevenção das
causas das migrações.
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O
aventureirismo do Reino Unido, e de outros países europeus, esteve
patente, no apoio militar à infundada e brutal invasão norte-americana
do Iraque, em 2003. As ondas de refugiados nessa altura criadas,
aumentaram substancialmente com a intervenção “humanitária” da NATO
contra o Governo de Kadhaffi, em 2011. A França de Sarkozy e o Reino
Unido de Cameron foram dos mais ativos intervenientes na destruição de
um dos mais prósperos países africanos, transformado hoje num santuário
terrorista e numa fábrica de refugiados.
Pior
ainda, a CE tinha conseguido em outubro de 2010, depois de anos de
negociação com Tripoli, um amplo acordo que tornaria a Líbia num aliado
da UE no combate às redes de migração ilegal e no acolhimento temporário
de refugiados. Como se tal não bastasse, a França de Hollande e, uma
vez mais Cameron, com o apoio de Hillary Clinton, querendo derrubar o
Governo sírio a qualquer preço, sustentaram uma guerra civil, causadora
de milhões de refugiados, que se abateram em particular sobre a
Alemanha, em 2015. O PE aprovou há semanas um Pacto das Migrações e
Asilo, mas ele não menciona a responsabilidade dos Estados-membros que
agravaram unilateralmente esse problema humanitário, nem confere os
meios necessários para o seu cabal financiamento.
A
guerra da Ucrânia é outro expoente da negligência estratégica da UE na
defesa da paz e boa vizinhança. O discurso dominante coloca na Rússia a
responsabilidade total, mas quem tenha algum pudor intelectual não
confundirá propaganda com objetividade. Desde 2008 que a UE e EUA sabiam
das objeções fundamentais da Rússia contra a entrada de Kiev na NATO.
William Burns, hoje chefe da CIA, então embaixador de Washington em
Moscovo, alertou, em 2008, para a insensatez desse alargamento. Em 2010,
foi eleito o presidente Yanukovich (em eleições universalmente
reconhecidas como limpas), na base de uma plataforma que faria da
Ucrânia um país que deveria ser ponte, e não fronteira, entre a NATO e a
Rússia (em 2019, Zelensky seria eleito tendo por promessa principal a
resolução negociada e pacífica dos diferendos com Moscovo…).
Em
2014, Yanukovich é derrubado insurrecionalmente em Kiev,
precipitando-se uma guerra civil. Ficámos a saber, já depois da invasão
de 2022, que a iniciativa russa de resolver diplomaticamente a contenda,
através dos Acordos de Minsk I e II (em 2014 e 2015), foi encarada por
Merkel e Hollande, em representação da UE, como uma oportunidade para
enganar Putin, dando tempo para Kiev se transformar, como escreve John
Mearsheimer, num membro de facto da NATO.
A
grande ilusão dos partidos fundadores da UE, e que se consideram como
donos da democracia genuína, é a de que a UE low cost do euro poderia
ter futuro. A ilusão de que seria possível alimentar a grandiloquência
retórica dos valores europeus, da Justiça Social com prosperidade
económica e sustentabilidade ambiental, através de uma união monetária,
sem união política, nem união orçamental e fiscal, desprovida de um
sistema de paz pan-europeu.
A
nova ilusão, dos nacionalismos populistas, é a de que poderemos
regressar, tranquilamente, a uma mítica Europa das nações, sem nos
cortarmos nos estilhaços que a implosão da atual estrutura da UE
inevitavelmente provocaria. Contudo, a primeira e urgente prova de fogo
da realidade, na nova paisagem política, será a de travar a escalada
suicida para uma guerra frontal da UE com a Rússia.
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