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23 de junho de 2024

O fim do mundo unipolar

 O fim do mundo unipolar significa o fim da hegemonia geopolítica dos EUA e num sentido mais geral do ocidente. A ordem baseada nas "regras" determinadas em função dos interesses das suas oligarquias colapsou, substituída por organizações como BRICS, Organização de Cooperação de Xangai, União Económica Euroasiática, que desenvolvem processos de integração global, com base no consenso e equilíbrio de interesses. Os media ignoram-no porque não têm respostas credíveis.

A participação dos BRICS no PIB global aumentou para 35%, ultrapassando o G7, que representa 29%. Os países BRICS tomam plena consciência do seu potencial económico em matérias primas energéticas, alimentares, minerais e da forma de se libertarem do neocolonialismo. Dezenas de países planeiam aderir aos BRICS, mas também à OCX e à UEEA vendo o potencial económico da China e como a Rússia conseguiu evitar sanções e estabelecer um sistema sólido e diversificado. Importante foi também a criação de um sistema de pagamentos internacional alternativo ao SWIFT, essencial, segundo a Rússia, para garantir a estabilidade financeira e soberania de cada país.

Em África, uma onda de sentimento anti-imperialista difunde-se, rejeitado a influência ocidental. Os governos do Níger e do Chade, exigiram que os EUA retirassem o seu pessoal militar. O Níger pretende especialistas russos para treinar as suas forças de segurança. Os PALOP africanos alinham-se neste movimento.

China e Rússia estão a derrotar os Estados Unidos em África, afirmou o almirante James Stavridis aposentado da Marinha dos EUA, ex-comandante supremo das Forças da NATO na Europa. A Rússia opera no Mali, Congo, República Centro-Africana, Zimbabué e outros países. Os líderes africanos confiam na Iniciativa Cinturão e Rota da China. A China tem uma presença ativa em todos os 54 países do continente e procura estabelecer bases navais no Atlântico, Índico, Golfo de Aden. Enquanto isto, os Estados Unidos não têm sequer uma estratégia coerente e, sem ela, continuarão perdendo influência.

O descrédito das sanções é total. Porém, o extremo da loucura foi impor sanções contra um país com as capacidades tecnológicas e abundância de recursos alimentares, minerais e energéticos da Rússia - e quase 4 500 ogivas nucleares...

Três recentes acontecimentos confirmam o fim da unipolaridade:

- A Arábia Saudita não renovou o "acordo petrodólares" com os EUA, entretanto expirado, o que reduz a capacidade dos EUA emitirem dívida e ganhar dólares com o comércio petrolífero.

- A reunião na Suíça inicialmente prevista para promover a condenação da Rússia com foros de ultimato pela "comunidade internacional", juntou apenas cerca de metade dos convidados, uns 90, dos quais 16 nem mesmo assinaram a inócua declaração final, confirmando - a fortiori - que nada de sólido em termos geopolíticos é possível construir sem a Rússia e sem a China.

- A viagem de Putin à RPDC e ao Vietname representa mais um fracasso das políticas do ocidente. Na RPDC entre os acordos assinados salienta-se a parceria estratégica. Antes de partir Putin escreveu um texto em que elogia a “liderança norte-coreana e o seu chefe, o camarada Kim Jong Un". No Vietname, foram reforçados os laços da Rússia através do intercâmbio de tecnológico, novas rotas logísticas e garantir “segurança indivisível na Eurásia”. Note-se ainda que no Sul e Sudeste Asiático pretendem aderir aos BRICS, o Sri Lanka, Paquistão, Bangladesh, Tailândia, Indonésia, Malásia. Mianmar, Laos, Camboja, no total cerca de 900 milhões de hab.

O mundo unipolar já não existe, mas a multipolaridade como a Rússia e a China têm definido também não está instituída globalmente. O que existe são dois blocos em confronto, em que o ex-hegemónico procura congregar aliados, reagrupar oligarquias, com os habituais métodos de dividir para reinar e propaganda baseada numa visão maniqueísta do mundo gerando antagonismos.

Mas revoluções coloridas e golpes têm falhado, na Geórgia, no Congo, no Myanar, na China (Hong-Kong, Uigures, Tibete). Mesmo após o golpe no Paquistão, o pais desliga-se dos EUA e começa a construir um gasoduto com o Irão, apesar dos EUA insistirem que “fazer negócios com o Irão é um risco de entrar em contacto com as nossas sanções” (!!). A Líbia aproxima-se da Rússia; o Afeganistão da Rússia e da China.

A multipolaridade deveria ser um tema central dos partidos que se assumem de esquerda. O que se tem visto é maioritariamente colocarem-se à margem desta questão ou adotarem posições aceitáveis pela UE/NATO.

Só na paz o desenvolvimento, a justiça social, a não discriminação, o progresso podem ser alcançados. Como a coerência e a luta pela paz não foi valorizada, o vírus do imperialismo e da extrema-direita atacou a sociedade como uma grave doença. Claro que tem cura, mas é preciso lutar por isso.

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