QUANDO É QUE ISTO ACABA?
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O PARADOXO DA IMIGRAÇÃO E DA GUERRA
por Carlos Matos Gomes
Os
europeus querem apoiar as guerras dos Estados Unidos e são contra os
imigrantes que elas causam! Esta é, em resumo, a contradição em que vive
a propaganda política dos dirigentes europeus, da dita esquerda à dita
extrema-direita — e ‘dita’ porque as diversas “marcas” são feitas do
mesmo produto: o mercado acima de tudo e os Estados Unidos como seu
Deus.
Aquilo que a
comunicação social designa de forma genérica por extrema-direita
apresenta como seu cavalo de batalha a imigração: a entrada nos seus
países, seja na Europa, seja nos Estados Unidos, de vagas de imigrantes
que ‘destroem os valores tradicionais das sociedades, as suas culturas
ancestrais, os seus deuses, os seus modos de vestir, comer, de se
comportarem!’
É este o
discurso da extrema-direita desde o extremo da península Ibérica com o
Chega e o Vox, às fronteiras de Leste, na Polónia, na Hungria e tendo
pelo meio a França de Le Pen, a Itália de Meloni, a AfD (Alternativa
para a Alemanha). O perigo são os imigrantes! Mas de onde vêm os
imigrantes e porque veem? Uns veem das guerras no Médio Oriente, do
Iraque, da Síria, do Afeganistão, outros de África, das guerras no
Níger, no Sudão, na Republica Centro Africana e chegam, principalmente
através da Líbia. Na origem das vagas migratórias estão as ações
desenvolvidas pela estratégia de domínio dos Estados Unidos. Foi assim
em todos os casos: os Estados Unidos deram pontapés nos vespeiros e quem
está a apanhar com as vespas são os europeus. Seria racional que quem
recebe enxames de vespas se virasse contra quem tem andado nas suas
fronteiras a destruir lhes os ninhos e a espalhá-las, colocando-se ao
abrigo delas.
Mas ser
racional não é o que se pode esperar de quem governa a Europa tendo uma
trela ao pescoço. A eleição do tema da imigração como primeiro cavalo de
batalha da extrema-direita europeia tem como principais responsáveis os
ditos políticos moderados que por subserviência e cobardia não se
atrevem a culpar o culpado das vagas imigrantes. Os pequenos rafeiros
que dirigem os Estados europeus, a Europa, com a Inglaterra em apuros,
tal como a França, a Alemanha, a Itália, a Grécia, preferem obedecer a
Washington do que se atreverem a agir racionalmente. E, não enfrentando o
causador das vagas de migrantes, viram-se contra os aproveitadores, os
movimentos que surgem naturalmente por reação à cobardia e à mentira. Os
dirigentes europeus preferem afrontar os seus cidadãos, acusá-los de
xenofobia, de racismo, criar um bode expiatório nos movimentos de
extrema-direita do que afrontar o Império. Os movimentos de
extrema-direita, para quem os fins justificam todos meios, servem-se da
cobardia dos políticos moderados para cavalgar o paradoxo de os seus
países estarem a receber migrantes causados pelos Estados Unidos e
continuarem a servir-lhes de tapete, de base para as expedições
causadoras de mais migrantes e até de lhes financiar as atividades! Em
resumo, o que se encontra na base da expansão da extrema-direita
europeia é esta linha de raciocínio: Há quem provoque as invasões
migrantes, os Estados Unidos, para sua conveniência de ocupação de
pontos estratégicos e domínio de matérias-primas, nós, europeus,
recebemos os migrantes que resultam dessa manobra, pagamos a sua
recepção a vários títulos, sobrecarregando os nossos serviços, perdendo
zonas de influência, surgindo como aliados de quem promove a guerra,
financiamos as ações que geram as ondas de migrantes comprando material
de guerra aos Estados Unidos e não temos outra opção que votar por
protesto em quem, para já, coloca o assunto das migrações na ordem do
dia!
Se os dirigentes
europeus, com a honrosa exceção de Jacques Chirac no caso do Iraque,
apoiaram entusiasticamente a invasão do Iraque, e depois a do
Afeganistão, a da Líbia, a da Síria, apoiaram a desestabilização de
países da África subsariana ricos em matérias-primas essenciais para as
novas tecnologias, se as grandes empresas da agroindústria e do turismo
necessitam de mão de obra de muito baixo custo para obter lucros e
fornecer “mimos” hortícolas e frutícolas aos europeus e a importam do
continente indiano de quem é a culpa das vagas migrantes?
É
evidente que a extrema-direita cavalga a demagogia, da forma cobarde e
demagógica que está na sua genética e na dos seus líderes: o mal está
nos governos que abrem as portas e não nos promotores das guerras que
originam multidões de migrantes nem na política de mercado que necessita
dos migrantes para fornecer bens e serviços a baixo custo. Este tipo de
raciocínio é antiquíssimo: desde o principio dos tempos que um dos
objetivos da guerra era fazer escravos para realizarem os trabalhos que
os locais não desejavam. A diferença da antiguidade para a atualidade é
que os novos escravos são visíveis, ao contrário dos antigos, que eram
mantidos em caves e estábulos, amarrados como os animais.
O
paradoxo dos dirigentes europeus é o de apoiarem a política de guerra
imperial dos Estados Unidos em vários pontos ao redor da Europa, no
Médio Oriente e na Eurásia geradora de vagas de migrantes e, em vez de
atalhar o mal na raiz, isto é, opondo-se ao promotor da guerra, o tentam
estancar quando ele já é uma vaga imparável, levantando barreiras de
betão aos migrantes ou afogando-os no Mediterrâneo. Uma criminosa
insanidade devida à subserviência aos Estados Unidos que a
extrema-direita explora sem qualquer pudor. O Reino Unido, essa pátria
da liberdade e do respeito, exemplo de moderação e de democracia, com
reis príncipes e princesas, estabeleceu um programa de de envio de
migrantes para o Ruando, um imenso campo de concentração. a reserva. A
Alemanha, da elétrica Von Der Leyen que manda para Moscovo os que
protestam contra o genocídio na Palestina, paga milhões à Turquia para
manter em campos de concentração os migrantes que fogem das guerras
americanas no Médio Oriente.
A
hipocrisia da propaganda política, que teve e está a ter o seu ponto
alto na “análise” dos resultados das eleições europeias — salientando
que a Europa do centro resistiu ao crescimento da extrema-direita, o
grande perigo, que utiliza a arma das migrações para minar o projeto
pacifico e progressista, humanista da Europa. Mas jamais os analistas
referem que a NATO, a organização para defesa da Europa devia ser
chamada a atacar esta ameaça! Jamais. A NATO é uma promotora de
migrantes, logo de movimentos de extrema-direita. A NATO é um promotor
de compra de armamentos e não uma instituição humanitária.
Neste
pântano de paradoxos os dirigentes europeus movem-se perdidos como
moscas em pratos de azeite e elegem como santos padroeiros Zelenski, um
tartufo criado pelos Estados Unidos, que resolve o problema dos seus
migrantes enviando-os para o matadouro das frentes de combate e
Netanyahu, um criminoso que resolve o problema das migrações matando os
futuros migrantes à nascença. São os dois exemplos de políticos
moderados que a Europa civilizada tem para apresentar.
O paradoxo da imigração e da guerra
Os
europeus querem apoiar as guerras dos Estados Unidos e são contra os
imigrantes que elas causam! Esta é, em resumo, a contradição em que vive
a propaganda política dos dirigentes europeus, da dita esquerda à dita
extrema-direita — e ‘dita’ porque as diversas “marcas” são feitas do
mesmo produto: o mercado acima de tudo e os Estados Unidos como seu
Deus.
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