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5 de julho de 2024

As guerras custam caro. Quem paga?

 Quem quer guerras, tem de pagá-las. O ocidente tem duas guerras em curso, na Ucrânia e na Palestina, e outra em preparação, contra a China. Que economia as pode suportar, eis a questão.
O défice orçamental da Ucrânia em 2023 atingiu 20,5% do PIB, os gastos com defesa cresceram para 52,3%; as despesas sociais diminuíram de 15,8% do PIB em 2022, para 11,7% em 2023. Porém, para o "partido da guerra", negociações com a Rússia seriam "falsos pacifismos que exporiam a UE ao arbítrio do Kremlin". Esta gente tem uma ideia muito vaga do que seja diplomacia. É que os EUA sentaram-se à mesa de negociações "ao arbítrio" da Coreia do Norte, do Vietname do Norte, dos Talibãs do Afeganistão e agora conduzindo negociações com o Hamas...
A guerra em Gaza mergulhou Israel numa grave crise. A economia contraiu 20,7% no quarto trimestre de 2023. A dívida em 2023 aumentou 43 mil milhões de dólares, metade desde outubro. Prevê-se que o défice orçamental e cresça para 8% do PIB em 2024.
A situação financeira da UE/NATO, é a pior desde há décadas. As economias da UE e do RU não crescem desde o final de 2022, contudo pretendem aumentar as despesas militares "como resposta às "ameaças à segurança global", que aliás criaram com o delírio unipolar.
Mas com as políticas atuais resta-lhes aumentar a dívida, os impostos ou cortes nas despesas sociais. Em qualquer destas "soluções" estão próximo do limite.


A situação foi agravada pelas sanções à Rússia, que conduziram ao aumento dos custos da energia, aceleraram a desindustrialização, a inviabilidade da agricultura, o empobrecimento da população. A competitividade industrial alemã, foi perdida. Mais de 185 mil milhões de euros adicionais tinham sido pagos em gás natural em 20 meses desde fevereiro de 2022.
De acordo com a Agência Europeia de Defesa,  as despesas dos Estados-Membros com a defesa ascenderam a 214 mil milhões de euros em 2021 e estima-se que crescerão mais 70 mil milhões. Quais as consequências económicas, financeiras e sociais destas despesas e continuar a financiar a guerra na Ucrânia não é tratado. Evidentemente, para a defesa da "democracia" a população deve ignorar estes problemas.

Como pretendem financiar a militarização das economias sem afundar o euro, aumentar inflação e défices, é mistério. Independentemente da confusão e oportunismo das cabecinhas dos líderes da UE/NATO, só têm que decidir: despesas militares ou investimento produtivo e despesas sociais?
O governo PS prometeu em 2022, 250 milhões de euros para a Ucrânia a pagar em 3 anos. O governo AD vai dar 126 milhões para ajudar a derrotar a Rússia (como?). O Stoltenberg falou em dar 40 mil milhões de euros por ano à Ucrânia. Com 60 mil milhões dos EUA, 100 mil milhões não chegam para sustentar o Estado, a guerra, pagar aos credores. O FMI tem de entrar com mais algum. Os 200 mil milhões dados à Ucrânia desde 2022, metade dos quais em armamento, apenas têm servido para mais ucranianos e "mercenários" morrerem, enquanto infraestruturas e armamento são diariamente destruídos. Claro que assim o dinheiro nunca chega.
A França está à beira da recessão. A S&P reduziu a classificação da França para AA -. O défice orçamental foi de 5,5% do PIB em 2023, com a dívida pública a aumentar para 112% do PIB, em 2024, segundo os critérios da UE, na realidade 128,2%. Macron queria apresentar-se como campeão anti-Rússia, gastou 43,9 mil milhões de euros nas forças armadas e vai entregar 3 mil milhões de euros a Kiev..
Neste panorama, a Polónia consegue colocar um tom ridículo. Queria ser o maior exército da "Europa", gastou 4,1% do PIB em defesa em 2023. O défice do Estado é estimado em 5,4% este ano. Como foi superior a 3%, “será lançado contra a Polónia o procedimento da UE sobre o elevado défice orçamental". O Ministro das Finanças expressou esperança que as recomendações sejam muito “brandas”, porque a Polónia “investe na segurança de toda a UE”... (Geopolítica ao vivo – Telegram 11/06)
As fragilidades económicas do ocidente atingiram um ponto crítico para as quais as oligarquias e os burocratas da "democracia liberal" não têm solução. São incapazes de aceitar que o seu sistema, o neoliberalismo, teoricamente é uma fraude na prática um fracasso. Mas isto é também uma razão pela qual se tornam muito perigosos.

Os EUA estão numa situação muito complicada. A dívida federal é de 34,7 milhões de milhões de dólares (122,29% do PIB), tendo crescido desde 2016, 1,75 milhões de milhões por ano. No mesmo período o PIB aumentou somente 1,15 milhões de milhões por ano, inflacionado de capital fictício da especulação e do crescimento com base na dívida, cujos juros são superiores a 1 milhão de milhões de dólares por ano, 3,5% do PIB. A desindustrialização e a dependência do exterior reflete-se no défice da BC, superior a 1 milhão de milhões de dólares. Isto num contexto em que a desdolarização se aprofunda com a cooperação BRICS, OCX, EEUA.

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