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6 de julho de 2024

 UM DESEJO COLETIVO DE MORTE PARA O MUNDO"

Viriato Soromenho Marques, no DN

O título deste artigo foi retirado do mais importante discurso de John F. Kennedy (JFK), proferido em 10 de junho de 1963. Nele, o presidente dos EUA enunciou um conjunto de medidas conducentes ao desanuviamento das relações entre Washington e Moscovo, de modo a evitar a III Guerra Mundial. Em outubro de 1962, os dois Estados estiveram à beira de um confronto nuclear direto, numa situação limite que ficou conhecida como a Crise dos Mísseis de Cuba.

Durante duas semanas, o planeta baloiçou no precipício do holocausto nuclear. Não surpreende que JFK, depois de ter superado essa crise existencial, tenha procurado extrair lições do acontecido, visando prevenir a repetição de uma situação semelhante.

O primeiro passo nesse sentido foi a criação de uma linha de comunicação permanente entre a Casa Branca e o Kremlin - o lendário telefone vermelho -, de modo a evitar uma guerra por acidente ou erro de interpretação.

O segundo gesto consistiu na negociação de um tratado de proibição parcial de testes com armas nucleares, que seria assinado em 7 de outubro desse mesmo ano.

Mas JFK foi mais longe, afirmando: “Todos prezamos o futuro dos nossos filhos, todos somos mortais.”

JFK, tal como Nikita Krutschev, conheceram a devastação da guerra como soldados, viram camaradas tombar a seu lado. A mortalidade da condição humana não era para eles uma expressão meramente literária.

A seguir, JFK identificou o princípio de convivência entre superpotências nucleares que evitou a destruição mútua total durante a Guerra Fria: “Acima de tudo, enquanto defendem os seus próprios interesses vitais, as potências nucleares devem evitar os confrontos que levam o adversário a optar entre uma retirada humilhante ou uma guerra nuclear. Adotar esse tipo de atitude na era nuclear seria apenas uma prova da falência da nossa política - ou de um desejo coletivo de morte para o mundo.”

Estas palavras de 1963 acentuam, por contraste, a gravidade extrema deste tempo de 2024. A nulidade intelectual de Biden no debate com Trump, revelou que a cadeira presidencial dos EUA está de facto vazia. À beira de uma escalada nuclear nem sequer sabemos quem governa hoje os EUA.

O encarniçamento da NATO numa guerra que se tornou absurda, consiste precisamente em encostar a Rússia ao dilema que JFK considerava ser essencial evitar.

Há um punhado de gente, a maioria não-eleita, com provas dadas de incompetência em estratégia e história militar, que campeia em Washington e Bruxelas. Foi a esse restrito clube, que as nossas degradadas e disfuncionais democracias concederam poder de vida ou de morte sobre o nosso destino coletivo.

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