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28 de julho de 2024

O Chavismo a caminho de mais uma vitória

A técnica de informar que as sondagens (quais ? as fabricadas pela CIA ?  ) dão uma vitória à oposição visa preparar a opinião publica ocidental para a propaganda de que  eleições são fraudulentas O mesmo com o envio de observadores de países e Parlamento Europeu que estavam avisados que não lhes era permitida a entrada, No entanto fizeram a viagem até ao aeroporto para propaganda .  Ver dois textos

1) Por FRANCISCO DOMINGUEZ*

Os níveis elevados e entusiásticos de mobilização em massa das forças pró-Maduro em todo o país contrastam fortemente com os comícios bastante fracos do candidato Edmundo González

Esta eleição ocorre num contexto dominado pela robusta recuperação econômica da Venezuela, que é um fenômeno quase milagroso, considerando a situação calamitosa em que o país se encontrava no final de 2020, a taxa de inflação de 1% em junho deste ano e uma taxa de crescimento esperada para 2024 de 5% a 8%. Isto apesar da aplicação de 930 medidas coercitivas unilaterais (também conhecidas como “sanções”) que causaram estragos no período 2015-2023[i].

A confirmação desta recuperação é o retorno de quase um milhão de venezuelanos,[ii] que foram persuadidos com falsas promessas e como parte de uma campanha psicológica de medo a deixar o país durante os piores momentos dos efeitos das sanções agressivas e brutais dos EUA contra esta nação sul-americana.

Além disso, os níveis elevados e entusiásticos de mobilização em massa das forças pró-Maduro em todo o país contrastam fortemente com os comícios bastante fracos do candidato Edmundo González, apoiado e literalmente conduzido pela política de extrema-direita Maria Corina Machado, com as pessoas sendo transportadas de ônibus pelas cidades onde eles foram realizados. Recorreram até mesmo à divulgação de seus comícios com fotografias de um comício ocorrido em 2012 (quando o candidato da oposição era Henrique Capriles), que já tinham utilizado em 2019.

E, apesar das “mentiras, malditas mentiras e estatísticas”, a campanha eleitoral de Edmundo González não consegue decolar, contradizendo completamente suas declarações e a desinformação espalhada pela mídia corporativa mundial de que González está liderando as pesquisas, que não tem outro objetivo senão espalhar uma narrativa que daria algum crédito às alegações da extrema direita de uma eleição “fraudulenta”. É de conhecimento geral que o sistema eleitoral venezuelano é o mais auditado (16 auditorias no total) e o mais observado do mundo, é à prova de fraude e foi rotulado pelo ex-presidente Jimmy Carter como o melhor sistema eleitoral do mundo.[iii]

A razão da falta de popularidade decorre de vários fatos objetivos concretos, mas, acima da recuperação econômica do país, está a fragmentação da, até então unida, oposição em nove candidaturas, enquanto o chavismo tem uma, Nicolas Maduro. O governo presidiu à forte recuperação econômica contra um brutal regime de sanções liderado pelos EUA, o que representa uma derrota para os EUA e seus cúmplices europeus, mas particularmente para a oposição de extrema-direita, atualmente organizada em torno de Maria Corina Machado, e anteriormente em torno do “presidente interino” Guaidó e de uma série de membros destacados da extrema-direita, que fugiram da Venezuela e estão vivendo principalmente na Espanha ou Miami.

Seus esforços subversivos, sediciosos e violentos ao longo de 25 anos para derrubar o governo bolivariano, com o objetivo de erradicar o chavismo da face da Venezuela, foram repetidamente derrotados.

O desempenho da administração do presidente Nicolas Maduro é, de fato, impressionante. Espera-se que a economia cresça entre 5% e 8% em 2024 e a inflação baixou para um dígito, sendo de 1% em junho deste ano; foram concedidos mais de 40.000 empréstimos a mulheres empreendedoras e mais de 220.000 comitês de mulheres foram criados por mulheres para reforçar o papel das mulheres na democracia participativa da Venezuela; as cestas básicas subsidiadas com alimentos e outros bens de primeira necessidade chegam a quase 8 milhões de famílias, e 97% dos itens são  produzidos internamente.

A coleta de impostos no primeiro trimestre de 2024 foi 78% superior à do mesmo período de 2023; a produção de petróleo recuperou-se substancialmente, passando de menos de 300.000 barris por dia (devido às sanções dos EUA) para mais de 1 milhão; foram construídas 5 milhões de casas, a maioria no governo de Maduro (com mais 2 milhões a serem construídas nos próximos seis anos); cerca de 78% do orçamento é dedicado a despesas sociais, o que explica em grande parte a capacidade das pessoas para resistirem com êxito aos efeitos terríveis das sanções; e muito mais do que isso foi alcançado.[iv]

Além disso, no primeiro semestre de 2024, a Venezuela recebeu quase dois milhões de turistas, gerando rendimentos e empregos e conferindo assim mais vigor à atual recuperação econômica.[v] Em seu Plano da Pátria 2025, o presidente Maduro promete muito mais do mesmo, que é o resultado de discussões em todo o país com a participação de quase 3,5 milhões de pessoas em mais de 34.000 encontros, num exercício sem precedentes de democracia popular.[vi]

Por outro lado, a campanha eleitoral do candidato presidencial apoiado pelos EUA, Edmundo González, que está — literalmente — sendo dirigido pela política de extrema-direita Maria Corina Machado, tem vomitado informações falsas sobre as pesquisas, para as quais publicaram fotografias de um grande comício da oposição realizado em 2012, como se fosse seu próprio comício em 2024 (uma das fotografias também foi utilizada em 2019 para o mesmo fim). González tem passado por graves problemas de saúde.[vii]

A maior parte da campanha está sendo feita por Maria Corina Machado, que em vários comícios segurou um cartaz com a imagem de Edmundo González e falou em seu nome. Ela foi vista ajudando-o a segurar o microfone, que ele tem dificuldade em segurar. A julgar pelos relatos da imprensa e pelas imagens de vídeo, Joe Biden parece um atleta de elite em comparação.

Além do mais, tem havido um pequeno fluxo (ainda assim, um fluxo) de políticos da oposição declarando publicamente apoio ao presidente Nicolas Maduro nas próximas eleições. Trata-se de membros da Assembleia Nacional, prefeitos e vereadores de várias cidades importantes e, mais significativamente, Carlos Prosperi, ex-candidato às primárias do partido da oposição, Acción Democrática. Sua principal razão foi a rejeição da extrema-direita em torno da mensagem de intolerância e ódio de Maria Corina Machado, o uso e apropriação indevidos dos ativos do país (como a CITGO e a Monomeros) e a corrupção conduzida pela liderança da extrema-direita, a que chamou de “enriquecimento ilícito”.[viii]

É claro que nada disto foi noticiado pela grande mídia corporativa, não admira que saiam impunes mentindo descaradamente sobre as pesquisas. No entanto, tendo em conta tudo o que já dissemos, como um dos nove candidatos da fragmentada oposição pode liderar as pesquisas? É uma autêntica notícia falsa.

Por isso, a principal mensagem da campanha de Edmundo González é uma das muitas formas de ameaças de desencadear violência caso o Conselho Nacional Eleitoral declare vencedor o presidente Maduro. As ameaças têm sido proferidas ferozmente, sobretudo pela própria Maria Corina Machado. Ela tem repetidamente usado um tom agressivo e intimidatório: “O governo do presidente Maduro só deixará o poder quando confrontado com o uso credível, iminente e severo da força”.

Isto explica porque o candidato da extrema direita, Edmundo González, se recusou a participar da reunião especial dos dez candidatos presidenciais para assinar um acordo de aceitação dos resultados, que González também se recusou a assinar. Sabendo que estão realmente perdendo nas pesquisas por causa de seu plano de governo muito impopular, não têm intenção de reconhecer os resultados como têm feito por 25 anos, pois percebem que não podem ganhar.[ix]

O fato de não assinarem implica que é provável que voltem a gritar “fraude eleitoral” com a ameaça não muito implícita de desencadear a violência no dia. E, previsivelmente, a mídia corporativa mundial está repetindo suas falsas alegações (com o The Guardian, como sempre, sendo um dos piores).[x] Recentemente, um grupo paramilitar colombiano denunciou ter sido contactado por representantes das correntes de extrema direita venezuelanas para desestabilizar a Venezuela, incluindo ataques às infraestruturas elétricas, assassinar o presidente Nicolas Maduro e criar o caos se ele for reeleito.[xi]

Maria Corina Machado desempenhou um papel central em todas as tentativas ilegais e violentas de derrubar o governo democraticamente eleito da Venezuela: as ondas de violência que duraram seis meses em 2014 e 2017; o apoio à “presidência interina” de Guaidó; a apreensão ilegal dos ativos da Venezuela no estrangeiro (incluindo 31 toneladas de ouro no Banco da Inglaterra[xii]; o apelo fervoroso e o apoio a todas as sanções brutais dos EUA (foram 930) contra a própria Venezuela, que levaram à morte desnecessária de dezenas de milhares de pessoas e à miséria de milhões de venezuelanos inocentes; o golpe de Estado de curta duração em 2002 contra o presidente Chávez e o golpe de Estado fracassado contra o presidente Maduro em 2019; e praticamente todos os outros esforços desestabilizadores e violentos para derrubar o governo legítimo da Venezuela.

E não é para menos. Embora a campanha eleitoral do candidato de extrema direita, Edmundo González, tenha procurado obscenamente esconder seus verdadeiros planos de governo, estes foram descobertos após um esforço prolongado. Trata-se de um plano para desmantelar e reverter quase todos os aspectos para a Venezuela pré-Chávez. O plano de 85 páginas tem como título “Venezuela: land of grace[xiii] (outubro de 2023) e, estranhamente, só estava disponível em inglês.

O objetivo esmagadoramente dominante do plano é a privatização de quase tudo o que existe na Venezuela: as indústrias do petróleo e do gás, todas as empresas estatais e bens públicos, a utilização dos recursos financeiros obtidos com o programa de privatizações para pagar a dívida externa do país, a privatização da educação, a abolição de todos os pagamentos financeiros do setor privado para proteger os trabalhadores (contribuições para aposentadorias, férias, licença maternidade, etc.) e a abolição da legislação trabalhista em vigor[xiv] para maximizar a “flexibilidade” do mercado de trabalho, a privatização do sistema de aposentadorias, a livre circulação de todas as moedas internacionais, o que conduz à abolição da moeda nacional (o Bolívar), a adoção de um sistema de saúde baseado em seguros e a abolição do atual sistema de saúde gratuito e, por último, mas não menos importante, o desmantelamento das milícias populares e a adoção de uma “geopolítica hemisférica”, o que significa subordinação e colaboração com a Organização dos Estados Americanos e o Comando Sul, ou talvez até muito pior do que isso.

Faz todo o sentido. Durante décadas, a oligarquia venezuelana enriqueceu com o desvio de partes substanciais da principal fonte de receitas do país: a indústria petrolífera. Assim, seu cálculo baseia-se no seguinte: para manterem-se no poder, caso saiam vitoriosos em julho de 2024, necessitariam do máximo nível de privatização da economia nacional para que sejam os beneficiários, mediando entre o Estado venezuelano e as empresas multinacionais que comprariam os ativos, e esse nível de participações na economia nacional por parte de empresários estrangeiros garantiria um sólido apoio de organismos transnacionais muito poderosos, atrás dos quais se encontra normalmente o pesado aparelho militar dos EUA, que no caso da América Latina significa o SOUTHCOM.

Isto explica o secretismo de seus planos e o fato de terem sido escritos em inglês. A mídia corporativa mundial compreende isto perfeitamente, daí o fato de repetirem os gritos da extrema-direita venezuelana de “fraude eleitoral”. Assim, os riscos são de fato elevados.

Temos que contrapor as mentiras da mídia sobre a Venezuela e, se você ainda não fez isso, junte-se à Campanha de Solidariedade com a Venezuela[xv] e ajude-nos a dizer a verdade sobre o sistema eleitoral na Venezuela, a rejeitar e condenar a violência e as ameaças de violência da oposição, a exigir o respeito pelos resultados emitidos pela autoridade eleitoral da Venezuela, o Conselho Nacional Eleitoral, e, acima de tudo, a exigir que a vontade do povo da Venezuela seja respeitada.

*Francisco Dominguez é professor de ciência política na University of Middlesex (Inglaterra).

Tradução: Fernando Lima das Neves.

Notas


[i] https://n2-aws.telesurenglish.net/venezuelan-growth-in-q1-2024-exceeds-imf-projection/.

[ii] https://www.consuladovenezuela.co.cu/mas-de-un-millon-de-venezolanos-regresan-con-la-gran-mision-vuelta-a-la-patria/#:~:text=En%20el%20programa%2052%20de,Misión%20Vuelta%20a%20la%20Patria.

[iii] Para mais detalhes sobre a forma como as eleições ocorrem na Venezuela, ver https://orinocotribune.com/lies-and-damned-lies-about-venezuelas-presidential-elections/.

[iv] https://www.telesurenglish.net/venezuela-achieves-96-7-local-food-supply-president-maduro/.

[v] https://orinocotribune.com/more-than-1-9-million-tourists-visited-venezuela-in-first-6-months-of-2024/.

[vi]  https://residuoselectronicosal.org/wp-content/uploads/2020/04/Plan-Patria-2019-2025.pdf.

[vii]         https://orinocotribune.com/edmundo-gonzalezs-candidacy-in-jeopardy-due-to-health-issues/.

[viii] https://orinocotribune.com/venezuela-oppositions-carlos-prosperi-announces-support-for-president-maduros-re-election-bid/.

[ix] https://peoplesdispatch.org/2024/07/18/venezuelas-election-is-a-referendum-on-revolution/.

[x] https://www.theguardian.com/world/article/2024/jul/17/venezuela-election-opposition-arrested.

[xi] https://orinocotribune.com/attorney-generals-of-venezuela-colombia-to-assess-destabilization-plans/.

[xii] https://www.change.org/p/keir-starmer-give-venezuela-back-its-gold.

[xiii] https://www.ventevenezuela.org/wp-inter/uploads/2024/05/Government-Program-may9-2024.pdf.

[xiv] https://www.ier.org.uk/comments/review-bolivarian-venezuela-sustained-progress-workers-rights-francisco-dominguez-and-sian-erri/.

[xv] https://www.venezuelasolidarity.co.uk/join/.

2 ) Os que gostam da democracia, da liberdade; os que lutam pela soberania de seus países e não querem guerra devem torcer pela vitória de Nicolás Maduro neste domingo

1.

Desde que, sob a liderança de Hugo Chávez, a Venezuela desafiou o imperialismo estadunidense, as informações sobre esse país foram sistematicamente embaralhadas. O domínio secular de Washington sobre a América do Sul fora trincado. Urgia desmoralizar Hugo Chávez e seu discurso libertário.

A Venezuela buscou exercer soberania sobre seus recursos naturais, estabeleceu cooperação militar alternativa, investiu na integração regional e deu suporte a Cuba, evitando seu colapso programado.

O exemplo venezuelano tornou-se intragável para os Estados Unidos: poderia estimular rebeldias em espaço vital a sua hegemonia. Washington incluiu Caracas no “eixo do mal” e acionou infindáveis expedientes para sabotar o governo venezuelano, inclusive, impondo grandes sacrifícios à sociedade.

Estive na Venezuela há vinte anos e, mesmo conhecendo intimamente as disparidades do Nordeste brasileiro, as condições sociais venezuelanas me chocaram. Como poderia um país tão rico ter tanta gente na penúria?

2.

Nessas eleições, não é o caso de restringir a análise ao desempenho das políticas públicas venezuelanas ou às idiossincrasias de governantes. O que merece mais atenção é o significado geopolítico desse embate. Estará em pauta neste próximo domingo o enfrentamento do imperialismo. Washington conseguirá silenciar a voz altiva da Venezuela?

Depois de tentativas frustradas de golpe, boicote econômico, sequestro de ativos financeiros, apoio a um fantoche autoproclamado presidente e intensa propaganda mentirosa, os estrategistas do imperialismo conseguirão interromper a experiência dita bolivariana?

Não tem cabimento repudiar o avanço mundial da extrema direita e lavar as mãos frente ao caso venezuelano. Não dá para torcer pela derrota dos ultraconservadores franceses e fechar os olhos diante de vizinhos do mesmo naipe.

É incoerente protestar contra a matança na Faixa de Gaza e vacilar no apoio a Nicolás Maduro, que defende os palestinos.

Não faz sentido propugnar pela integração sul-americana e ignorar a ofensiva da extrema direita na Venezuela. Obedientes à Washington, os reacionários desse país sabotam iniciativas integracionistas.

3.

Sem analisar corretamente uma declaração de Nicolás Maduro, Lula ajudou involuntariamente (espero!) os fascistas venezuelanos. Maduro não prometeu guerra caso perca as eleições: denunciou as pretensões da extrema direita venezuelana!

Lula se intrometeu erroneamente na eleição de um país vizinho e amigo. Sua palavra pesa na sociedade venezuelana. Caber-lhe-ia ensinar ao seu colega como se conduzir?

O que se noticiou antes da posse de Lula é que agentes de Washington contiveram iniciativas golpistas de militares brasileiros. Lula estaria agora cumprindo possível compromisso de conter o bolivarianismo?

Nicolás Maduro reagiu corretamente ao pedir-lhe que tomasse calmante. Errou depois, ao criticar a validade do processo eleitoral brasileiro. Mas a atitude do Judiciário brasileiro, cancelando o envio de observadores eleitorais a Caracas, foi inadmissível: ajudou a extrema direita venezuelana. O Judiciário brasileiro, que hoje encena a defesa da democracia, mostrou sua índole histórica de colaboração com golpistas.

Uma eventual derrota de Nicolás Maduro neste domingo impulsionará a extrema direita mundial. Seria retumbante vitória de Washington, justamente quando cresce seu isolamento internacional.

Os riscos de instabilidade continental crescerão. Governos democráticos da América do Sul, hoje minoritários, verão o cerco reacionário se fechar.

Os que gostam da democracia, da liberdade; os que lutam pela soberania de seus países e não querem guerra devem torcer pela vitória de Nicolás Maduro neste domingo.

*Manuel Domingos Neto é professor aposentado da UFC, ex-presidente da Associação Brasileira de Estudos de Defesa (ABED). Autor, entre outros livros de O que fazer com o militar – Anotações para uma nova Defesa Nacional (Gabinete de Leitura). [https://amzn.to/3URM7ai]

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