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9 de julho de 2024

Será Netanyahu em breve recebido no Congresso dos EUA? Isso será decisivo para a sucessão no país e a invasão do Líbano

A recepção ao Primeiro-Ministro israelita, Benjamin Netanyahu, numa sessão conjunta do Congresso dos EUA, não é uma simples operação contra o Presidente Joe Biden, é também um apoio à maioria parlamentar israelita na continuação do seu massacre em Gaza. Além disso, tendo em conta o esforço de Netanyahu para entrar em guerra contra o Hezbolla, para envolver o Irão, para fazer os Estados Unidos intervir, tal será mais um passo da estratégia para um ataque nuclear à Pérsia.

pós a debacle de Joe Biden no seu debate desastroso frente a Donald Trump, e esperando a segunda volta das eleições no Irão, a controversa presença do Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu, em 24 de Julho próximo, no Congresso dos EUA, desencadeou uma vaga de comentários intensos, que, sobretudo provindo de grupos de compatriotas dentro e fora de Israel, sublinham a predisposição do Primeiro-Ministro a favor de Trump, enquanto os grupos pró-Biden/democratas fustigam a sua indesejada presença. Estará a eleição nos Estados Unidos entre as mãos de Netanyahu e do AIPAC, o poderoso lóbi americano-israelita ?

Criado em 1951, O Comité Americano-Sionista para os Assuntos Públicos (AZCPA) (American Zionist Committee for Public Affaires) converteu-se em 1963 no AIPAC, o grupo de pressão que conhecemos hoje e que influi poderosamente nos Poderes executivo e legislativo dos Estados Unidos. Dentro da plétora de organizações pró-israelitas nos Estados Unidos ele é considerado como o mais poderoso grupo de pressão. O AIPAC vangloria-se de representar « mais de 3 milhões (sic) de Norte-Americanos pró-Israel em todos os distritos do Congresso a fim de reforçar o apoio bipartidário na relação dos EUA com Israel ». O Comité considera-se como o «maior lóbi pró-Israel», aquele que oferece directamente mais recursos (sic) aos candidatos : 98% dos candidatos que ele apoia venceram as eleições gerais em 2022 !

Os seus enormes rendimentos, sem contar as doações dedutíveis de impostos dos financiadores khazares de Wall Street, elevavam-se a US$ 473,5 milhões de dólares em 2022. O portal israelita Forward indicou que a partir de 7 de Outubro, data emblemática do ataque do Hamas contra Israel, o AIPAC arrecadara US$ 90 milhões de dólares, dos quais « uma grande parte é destinada nesta altura para as eleições de 2024 [1] ». O jornal anti-Netanyahu Haaretz explica o poder do AIPAC nos Estados Unidos, cujo « grupo colector terá um papel decisivo nas eleições de 2024 [2] ». Não se deve subestimar a omnipotência decisiva do AIPAC, o qual, além de fornecer meios a uma plêiade de legisladores americanos, acaba de infligir uma dolorosa derrota, no seu reduto de Nova Iorque, ao Representante Jamaal Bowman —membro do grupo progressista e pró-palestiniano Squad, dirigido pela jovem Alexandria Ocasio-Cortez [3]— graças às doações sionistas maciças daqueles que buscam agora outros cabeças eleitorais a decapitar [4].

O portal Jacobin assevera que a derrota de Bowman pelo AIPAC mascara paradoxalmente « a sua fraqueza » [5]. Até o Financial Times comenta a apresentação dos planos de guerra do Primeiro-Ministro Netanyahu —na sua entrevista autista ao Canal 14, junto aos zelotas do gabinete, Ben Gvir e Smotrich— para um «verão de conflitos [6]». A Rede Voltaire, em França, explicou já [7] que os Americano-Israelitas de dupla nacionalidade condenam a próxima visita de Netanyahu a Washington. O Grupo UnXeptable (InaXeitável-ndT) da Califórnia lançou uma campanha contra a presença de Netanyahu no Congresso em 24 de Julho próximo ; na minha opinião, isto será determinante para a invasão prevista do Líbano.

Segundo a Rede Voltaire [8], uma plêiade de personalidades israelitas condenam também no New York Times a anunciada visita : David Harel, presidente da Academia de Ciências de Israel ; Tamir Pardo, antigo Chefe da Mossad israelita ; Ehud Barak, antigo Primeiro-Ministro de Israel ; Aaron Ciechanoveret, prémio Nobel da Química; ou ainda o romancista e ensaísta David Grossman, etc. Antes da debacle de Biden, a Casa Branca não escondia os seus temores quanto à presença de Netanyahu no Congresso : « ninguém sabe o que ele vai dizer [9]». John Mearsheimer, professor na Universidade de Chicago, evocou o poder inconcebível do lóbi israelita nos Estados Unidos [10] que se tornou, na minha opinião, um Estado dentro do Estado. 

*Professor de Ciências Políticas e Sociais da Universidade Nacional Autónoma do México (UNAM). Escreve artigos sobre política internacional no jornal La Jornada. Último livro publicado: China irrumpe en Latinoamérica: ¿dragón o panda?

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