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29 de julho de 2024

O crime de Lavrov - 1

 Lavrov relapso e contumaz no crime de felonia, comportou-se no CS da ONU com uma falta de respeito pelo suserano do “mundo livre” – liberal – defensor da ordem baseada nas (suas) regras, o que representa uma ameaça ao "nosso" modo de vida. É pelo menos o que nos dizem senhores e senhoras comentadores. E há quem acredite.

Lavrov convidou mais 37 países para se juntarem ao CS da ONU, para ouvirem o seu discurso ofensivo para o ocidente, na versão do sr. Borrell, um jardim, o resto do mundo uma selva. Diplomacia europeia...

A Rússia só poderia estar grata e dever reverência aos EUA por a ter salvo do comunismo, permitindo que as almas russas pudessem ganhar o paraíso, e bem cedo, visto que a mortalidade aumentou então para o nível dos países ditos subdesenvolvidos. A Rússia tinha obrigação de partilhar as suas riquezas naturais com o líder do ocidente (e portanto mundial...) Pelas regras – ancestrais entre súbdito e suserano – tomar iniciativas na área da defesa sem autorização da hegemonia, é uma ofensa em grau extremo.

E que direito tem a Rússia como o maior país em extensão territorial, não aceitar dividir-se em Estados independentes, subordinados à suserania de Washington? Consideram-se com mais direitos que a ex- Jugoslávia? 

Com tudo isto, cabe então perguntar, mas ainda existe líder global e globalização? Disse De Gaulle, “em política externa não há ideologias, há interesses.” nem mesmo ética, acrescente-se. Netanyahu, discursou perante o Congresso e Senado reunidos, recebendo dezenas de vezes aplausos de pé. Não sendo exemplo de defesa de democracia e direitos humanos, é-o certamente de defesa das tais “regras”. Saliente-se a sua proposta de criação de uma aliança semelhante à NATO no Médio Oriente (com quem?!) voltada contra a “ameaça iraniana. (https://t.me/s/intelslava 24 e 25/07)

Posto isto, eis alguns excertos do discurso de Lavrov no CS da ONU. (1)

Hoje, os próprios pilares da ordem mundial, da estabilidade estratégica e do sistema político mundial orientado pela ONU estão a ser testados. Sejamos realistas: nem todos os Estados representados nesta sala reconhecem o princípio fundamental da ONU: a igualdade soberana de todos os Estados. Os EUA há muito que anunciam a sua exclusividade. Tem a ver com a atitude de Washington para com os seus aliados aos quais exige obediência incondicional, mesmo que seja prejudicial aos interesses nacionais.

Que os EUA governem! Esta é a essência da famosa “ordem mundial baseada em regras”, uma ameaça direta ao multilateralismo e à paz internacional. Os componentes mais importantes do Direito Internacional, que são a Carta das Nações Unidas e as decisões do nosso Conselho, são interpretados pelo chamado Ocidente coletivo de forma perversa e seletiva, dependendo das indicações recebidas da Casa Branca.”

Muitas Resoluções do CS são simplesmente ignoradas. Entre elas a Resolução 2202 que aprovou os Acordos de Minsk sobre a Ucrânia, a Resolução 1031 que aprovou os Acordos de Dayton sobre a paz na Bósnia e Herzegovina, com base na igualdade dos três grupos étnicos que compõem o Estado. Pode-se falar interminavelmente sobre a sabotagem das Resoluções sobre o Médio Oriente.

A Resolução 497 do Conselho de Segurança da ONU de 1981, que está perfeitamente em vigor, classifica a anexação das Colinas de Golã por Israel como ilegal. Porém, de acordo com Antony Blinken: “é necessário “deixar de lado o aspeto da legalidade”, pois, "do ponto de vista prático as Colinas de Golã são muito importantes para a segurança de Israel”. Relativamente à Resolução 2728 aprovada em 25 de março sobre a exigência de cessar imediatamente as hostilidades na Faixa de Gaza o Representante dos EUA, indicou que "não tinha caráter juridicamente vinculativo”. Ou seja, as “regras” americanas são mais importantes que o Art. 25 da Carta da ONU.

George Orwell, no romance “Animal Farm” (O Triunfo dos Porcos), já previa a essência desta “ordem baseada em regras”. “Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros.” Se se cumpre a vontade daquele que detém a hegemonia, tudo é permitido. E, se ousar defender os seus interesses nacionais, é declarado um país marginalizado e sujeito a sanções.

Todos os esquemas de segurança euro-atlânticos, visam garantir o domínio dos EUA, incluindo a subjugação da Europa e a “contenção” da Rússia. O papel prioritário foi atribuído à NATO, que acabou por “subjugar” a UE supostamente criada para os europeus. As estruturas da OSCE foram descaradamente colocadas sob controlo de Washington, o que representa uma violação grosseira da Ata Final de Helsínquia.

A expansão insensata da NATO, ao contrário dos avisos de Moscovo que vinham sendo feitos há anos, também causou a crise ucraniana, começando com o golpe de estado provocado em Fevereiro de 2014 por Washington, que lhe permitiu assumir o controlo da Ucrânia e preparar uma ofensiva contra a Rússia com a ajuda do regime neonazi em Kiev.

(continua)

1 - Por razões de espaço, simplificamos por vezes a linguagem não alterando o sentido.



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