A guerra da Ucrânia, melhor dizendo a guerra dos EUA, UE/NATO na Ucrânia visando submeter a Rússia à "ordem internacional com regras", é um exemplo de como a estupidez e facciosismo que desencadeia guerras é depois incapaz de termina-las arriscando um confronto global.
Kennedy e Krustchev assumiram no início dos anos 1960 que isso não era mais possível. A tese foi posta de parte polos neocons excitados com o fim da União Soviética. É onde nos encontramos agora com os ultranacionalistas e neonazis ucranianos a controlarem Zelensky e a serem apoiados por políticos e burocratas da UE/NATO. O problema da sua estupidez manifesta-se na incapacidade de se autocriticarem e corrigirem. O desconchavo foi levado tão longe que só lhes resta a fuga em frente mesmo que seja para o abismo. Em vez de aproveitarem as negociações para sair do atoleiro em que se meteram, preferem amarrar-se aos neocons americanos, esperando que derrubem Trump.
Trump enfrenta uma oposição interna significativa. As suas tentativas de reformas e ações sobre a guerra na Ucrânia são contestadas pelos setores afetos às elites que dominaram o sistema político até agora. Trump não quer ser acusado de ter "perdido a Ucrânia", ser um "pombo russo" ou "apaziguador". Acusações já a serem feitas na UE/NATO, bem como pela sua oposição interna. Mesmo um ramo do Partido Republicano, apesar de domesticado de momento, continua a existir, é contra qualquer reaproximação com a Rússia.
Portanto, é incerto se Trump pode realizar uma reaproximação genuína com a Rússia, dada a oposição duma coligação de europeus, democratas e mesmo membros de seu próprio partido. Mas essa reaproximação é na realidade a única forma de acabar com as hostilidades na Ucrânia, uma carta poderosa, porque os russos também estão interessados em tal reaproximação.
Os Estados Unidos são grandes e poderosos demais para os russos considerarem permanecer em oposição a este país permanentemente. Putin também não tem carta branca. As guerras têm a sua própria agenda e podem produzir dificuldades intransponíveis, quando na ausência de guerra poderiam ser facilmente ultrapassadas. Uma parte significativa do apoio a Putin acredita que ele está sendo muito flexível nesta guerra. O Conselho de Segurança Russo, a julgar pelas declarações feitas por alguns de seus membros, é mais agressivo que Putin. O mesmo acontece com seus generais. O próprio Putin já repetiu com clareza os objetivos mínimos da Rússia, que dificilmente está em posição de voltar atrás.
Em 14 de junho, Putin estabeleceu os pré-requisitos do acordo da seguinte forma:
-
Retirada completa das Forças Armadas da Ucrânia da República
Popular de Donetsk, da República Popular de Lugansk, bem como dos
oblast de Zaporozyhe e Kherson;
-
Reconhecimento das realidades territoriais incorporadas à
Constituição russa;
-
O status de neutralidade para a Ucrânia, não adesão a um bloco militar ou a um
país não nuclear ; -
Desmilitarização e desnazificação do país;~-
Garantia dos direitos, liberdades e interesses dos cidadãos de
língua russa;-
Levantamento de todas as sanções contra a Rússia.No
tema das sanções há certamente
margem
de manobra.
Quanto
à "desnazificação"
o
termo é vago e provavelmente pode
referir-se apenas
à remoção de memoriais dedicados a colaboradores nazis,
à cessação da perseguição à Igreja Ortodoxa Russa e à
eliminação de elementos que glorificam a
OUN nas
escolas.
- Retirada completa das Forças Armadas da Ucrânia da República Popular de Donetsk, da República Popular de Lugansk, bem como dos oblast de Zaporozyhe e Kherson;
- Reconhecimento das realidades territoriais incorporadas à Constituição russa;
- O status de neutralidade para a Ucrânia, não adesão a um bloco militar ou a um país não nuclear ;
Concordar com estes pontos, não será fácil. Na UE/NATO vigora a tese de que a alegação que os ultranacionalistas e "nazistas", têm voz em Kiev é propaganda russa. Para os russos, a exclusão desses ultranacionalistas é um objetivo central. Para Trump, ou qualquer outro político, chegar a acordo sobre a exclusão desses ultras tem reconhecer a validade desse objetivo dos russos.
Um acordo de paz poderia acabar com a mortandade na Ucrânia antes de realmente se insistir em "lutar até o último ucraniano". Tudo depende se Trump pode alcançar essa reaproximação contra a oposição que enfrenta dos europeus e de dentro.
Se isso não acontecer, os ucranianos podem despedir-se de Odessa e Kharkhov, e haverá mais dezenas de milhares de mortos. Mas se alguém na esfera diplomática pensa que há uma pequena chance de que as coisas não aconteçam assim, todos deviam esperar que essa pequena chance fosse aproveitada.
A guerra contra a Rússia foi perdida. Seria bom aceitar essa realidade e não insistir em irmos com a Ucrânia todos ainda mais para o fundo até ao inferno.
Fonte - Négociations russo-étasuniennes – des changements dans le décor
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