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29 de março de 2025

Como é que os russos olham para "nós"

 A Rússia foi declarada inimiga da "Europa". Não é necessário repetir afirmações de van der Leyen, de Kaja Kalas, a "estoniana maluca" (Pepe Escobar), Macron ou Starmer. Bertrand Toujouse, chefe do comando terrestre da NATO na Europa, afirmava: "Agora há um inimigo designado e estamos treinando pessoas com quem poderíamos realmente fazer a guerra. O exército francês em 2025 irá preparar-se para transferir forças para o flanco Leste da NATO e na guerra contra a Rússia".

Como é que os russos olharão para "nós"? É necessário ver que os russos vivem num referencial histórico a que estão muito ligados, diferente da "Europa". Os "perestroikos" de Gorbatchov e os liberais de Ieltsin fomentaram a deturpação e o apagamento histórico como forma de se ligarem ao mundo dos EUA, o ocidente. Quando Putin afirmou que "a maior catástrofe geopolítica do século XX foi o fim da União Soviética" e "os que se alegram com o fim da União Soviética não têm coração, mas o que querem reconstrui-la não têm cérebro", retoma a perspetiva russa da história, assumindo todas as suas fases.

Nesta perspetiva, a Europa mobilizou-se para conquistar, isolar ou destruir a Rússia, por três vezes na época moderna. Os exércitos de Napoleão, da guerra da Crimeia ou nazis eram coligações europeias contra a Rússia. É neste contexto que a Rússia olha para o ocidente.

Quando a UE estabelece um "plano" para se remilitarizar, argumentando que Putin planeia lançar uma "guerra de conquista imperial" contra a UE no máximo, até 2030, a UE aumenta a sensação de ameaça em Moscovo e a probabilidade de um conflito militar que a UE pretende prevenir. A suposição de que o objetivo de Putin é conquistar a Europa, sendo o conflito ucraniano um mero primeiro passo, obscurece as verdadeiras causas da guerra na Ucrânia e é cada vez mais vista como ilógicaOs prof. Jeffrey Sachs e John Mearsheimer argumentam que a Rússia está envolvida numa guerra defensiva, em vez de ofensiva, contra a expansão para o leste da NATO. Diplomatas dos EUA, como George Kennan e William Burns, mais tarde diretor da CIA, alertaram que essa expansão levaria a conflitos. (A Ukraine Watch)

A visão estabelecida na UE/NATO relativamente à Rússia é que se trata de um inimigo. Por seu lado Lavrov dá numa entrevista, a visão que a Rússia tem dos seus vizinhos a ocidente.

"Ninguém reconhece que nas regiões que retornaram ou estão em processo de retorno à Rússia, os direitos linguísticos, educacionais e culturais são totalmente protegidos para os russos e para as minorias nacionais. Enquanto isso, se o que restar da Ucrânia cair sob o controle das forças de segurança apoiadas pela NATO, não se está falando sobre o fortalecimento da democracia no país. Não se está pedindo a revogação de leis racistas e russofóbicas que procuram apagar a identidade russa. Se esse for o caso, essas chamadas forças de segurança servirão apenas para perpetuar um regime nazista, que proíbe qualquer coisa que lembre a herança russa da Ucrânia, apesar do próprio país ter sido criado por russos."

"A Europa está tentando minar o papel de Washington no acordo ucraniano. Ela não quer resolver o problema eliminando as causas fundamentais da crise. Eu já mencionei essas causas básicas: a NATO e a destruição legal e física dos direitos dos falantes de russo e de tudo o que está associado à Rússia.

"Os Estados Unidos usaram a influência que têm sobre a Europa para forçá-la a deixar de comprar gás russo. Atualmente, a Europa e suas empresas estão pagando várias vezes mais por sua energia em comparação com as empresas americanas. Ao mesmo tempo, pessoas como Robert Habeck, Ursula von der Leyen e Boris Pistorius têm dito que nunca permitirão que os gasodutos Nord Stream sejam restaurados. Essas pessoas são doentes ou suicidas."

"Sobre a Gronelândia, aconteceu uma coisa vergonhosa. O SG da NATO, Mark Rutte, declarou antes de se encontrar com Trump na Casa Branca que não queria que os americanos arrastassem a NATO para o debate sobre a Gronelândia. O que isso significa? Um homem que é responsável por proteger os interesses dos estados-membros (a Groenlândia pertence à Dinamarca) e por impedir infrações à sua integridade territorial declarou que não seria arrastado para o debate, apesar de sua responsabilidade. Ao mesmo tempo, Rutte não tem escrúpulos em declarar apoio inabalável à integridade territorial da Ucrânia, que não é e nunca será membro da NATO. Recusou-se a proteger a integridade territorial da Dinamarca, mas está pronto para defender a Ucrânia. Ele é ridículo e patético."

"Durante os anos Biden, e mesmo antes, essa entidade (a NATO) disse muitas coisas desagradáveis sobre a Rússia e passou a nos designar como o principal adversário. Como podemos falar de estabilidade enquanto as doutrinas nos designam como adversários?"

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