« O consenso nacional que segundo Viriato Soromenho Marques vai de Costa a Rui Tavares tem uma excepção como ele sabe, o PC
Por que não o menciona? A pressão anticomunista é tão forte que V.S.M. não a quis enfrentar. Mas é pena e nesta questão falta à verdade .
É uma evidência que um autor que tem ido contra a corrente mediática escrever ,com honrosa exepção do P.C. seria abrir uma outra linha de ataque contra si . O de filo comunista , credo abrenuncia. .C.V.»
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PORTUGAL À DERIVA NA TEMPESTADE – quatro notas de leitura
por Viriato Soromenho-Marques
Os
EUA nunca acreditaram, ao contrário da ignara arrogância de Bruxelas,
que a máquina de guerra russa poderia ser derrotada no plano
convencional. Como o secretário da Defesa L. Austin afirmou, logo em
maio de 2022, o objetivo dos EUA era o de fazer “sangrar a Rússia”,
enquanto Kiev tivesse capacidade para o fazer.
As
grandes crises revelam os grandes líderes. Contudo, apenas quando os
povos têm a sorte e a capacidade de os produzirem. A guerra da Ucrânia,
que já entrou no seu quarto ano é, sem dúvida, a maior crise existencial
de toda a história portuguesa, pois é a primeira vez que Portugal tem
um governo que se deixou, com entusiástica estultícia, enrolar num
confronto com a Rússia, totalmente contrário ao interesse nacional mais
elementar, o salus populi suprema lex esto (seja a salvação do povo a
lei suprema), imortalizado no De Legibus, de Cícero. Nem os fanáticos
que queriam declarar guerra ao império britânico, na sequência do
Ultimato de 1890, nem o furioso Afonso Costa, colocando Lisboa a ferro e
fogo em maio de 1915 para enviar, por decisão unilateral, milhares de
soldados analfabetos para a Flandres, se comparam à façanha do mesquinho
consenso nacional que vai de António Costa a Rui Tavares, numa
contemporânea demonstração da veracidade da tese de Unamuno que
considerava ser Portugal um país de suicidas. O que continua em causa é a
possibilidade de Portugal ser destruído num conflito total com a
Rússia, o país com o mais poderoso e moderno arsenal nuclear do planeta.
Estamos
a falar de acontecimentos vertiginosos, desde a chegada de Trump à Casa
Branca. Vejamos, apenas, alguns das dimensões mais permanentes, neste
quadro de incerta mudança.
Primeira.
As negociações de paz, iniciadas por Trump com a Rússia, são boas
notícias para os povos da Europa e do mundo. Afastam, pelo menos
provisoriamente, o pior cenário, para onde estaríamos a rumar caso a
linha de escalada bélica seguida por Biden tivesse prosseguido. Essas
negociações, onde nem Zelensky nem a UE contam, revelam a justeza dos
analistas, entre os quais me encontro desde sempre, que consideraram
esta guerra como uma guerra de procuração (proxy war) dos EUA contra a
Rússia, usando o território e o sangue ucranianos como instrumentos.
Bruxelas protesta, porque Trump deixou cair o véu de Maia, a cortina
ilusória, que fazia do apoio da UE à Ucrânia um assunto de direito
internacional. Na verdade, tratava-se da prova de que os nossos
governantes europeus não hesitam em sacrificar a qualidade de vida e a
segurança dos seus povos, para servirem o império americano, e o seu
desígnio persistente de fragmentar a Rússia.
O
caso mais aberrante de autoflagelação europeia é o da Alemanha, quando o
governo de Scholz tudo fez para manter a lealdade canina com
Washington, imolando para isso a qualidade de vida e a saúde económica
do seu próprio país.
Segunda.
As perspetivas de “paz imperfeita”, mil vezes melhor do que a
continuação do conflito, só foram possíveis, para além das mudanças em
Washington, pela clara superioridade militar das forças convencionais
russas, apesar da valentia das tropas ucranianas e das correntes
inesgotáveis de material bélico recebido dos países da NATO ao longo
destes três anos. Os EUA nunca acreditaram, ao contrário da ignara
arrogância de Bruxelas, que a máquina de guerra russa poderia ser
derrotada no plano convencional. Como o secretário da Defesa L. Austin
afirmou, logo em maio de 2022, o objetivo dos EUA era o de fazer
“sangrar a Rússia”, enquanto Kiev tivesse capacidade para o fazer. No
cenário, altamente improvável, de as tropas de Kiev com o apoio de
“voluntários” ocidentais se aproximarem de uma derrota das forças
convencionais russas, Moscovo não se renderia. Faria o que a sua
doutrina há décadas promulga: escalaria ao uso limitado do nuclear, para
obrigar o inimigo a pensar duas vezes antes de prosseguir até à guerra
total. Por outras palavras, a vitória convencional e limitada da Rússia,
parece ter salvo os povos da Europa de serem vítimas da
irresponsabilidade estratégica dos seus dirigentes.
Terceira.
A paz que está a ser negociada só poderá ser duradoura se se traduzir
num tratado que defina as regras do jogo no sistema internacional
europeu, pretensão que a Rússia sempre perseguiu, mesmo desde os tempos
de Gorbachev. Há, contudo, dois obstáculos no caminho. Por um lado,
aquilo que prevalece no discurso europeu (com apoio da administração
Trump) é a ideia de a UE fazer da corrida armamentista o novo objetivo
estratégico (rasgando e substituindo o famoso Pacto Ecológico, onde a
minha derradeira credulidade se esgotou). A Rússia jamais permitirá que
uma nova guerra seja preparada à sua vista, sem nada fazer. Por outro
lado, Trump está a jogar perigosamente não só com os seus aliados, mas
também com o próprio aparelho de Estado federal e com alguns dos
poderosos interesses nele instalados. Considero bastante provável que um
atentado contra Trump, desta vez bem-sucedido, possa desencadear uma
segunda guerra civil americana, cujas consequências são totalmente
imprevisíveis.
Quarta. Só
um milagre poderia impedir as forças centrífugas dentro da UE de
prevalecer. Não sei quanto tempo ainda teremos antes de este edifício,
cheio de fissuras, nos tombar sobre a cabeça. A zona Euro, totalmente
dependente de Wall Street e da Reserva Federal, irá contribuir para que
governos e povos fiquem paralisados à espera do pior. Curiosamente, os
furiosos governos anti-russos do Leste da Europa, darão, provavelmente,
lugar a novos governos favoráveis à colaboração com Moscovo. A UE será a
grande vítima da guerra da Ucrânia. Os insensatos que em Bruxelas
abraçaram uma política totalmente oposta às realidades históricas e
geopolíticas da Europa, serão, pelo menos, testemunhas do imperdoável
caos em que nos fizeram mergulhar.
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