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23 de maio de 2025

A extrema-direita expressão da crise estrutural do capitalismo

 A subida da extrema-direita não é um sinal de vitalidade do capitalismo, que a apoia de forma mal disfarçada, como os grandes media comprovam. É pelo contrário a expressão da sua crise estrutural e do declínio do seu poder global. É, como historicamente se verifica, um recurso para tentar prolongar e consolidar o sistema.

Depois de anos de campanhas anticomunistas, silenciamento ou deturpação posições e propostas progressistas, a par da social-democratização de várias ditas esquerdas, os grandes media assumiram a agenda da extrema-direita, condicionando noticiários e debates alinhados à direita, promovendo o inconsequente líder da extrema-direita a figura política central, com mais visibilidade televisiva que qualquer outro e incontestado nas suas diatribes. Redes organizadas desde há muito multiplicaram intervenções espalhando a mentira, a calúnia, o insulto.

O debate eleitoral centrou-se no acessório, não só na ausência de desmascarar as mentiras e insultos da demagogia populista, mas também ignorando as consequências das regras da UE nas condições económicas e sociais do país, do belicismo da UE e da NATO, do significado das alterações geopolíticas no futuro da Europa e do Mundo, além da necessária defesa da soberania e independência nacional como exigência básica para o progresso do país e das pessoas. A urgência da paz e da segurança na Europa foi ignorada como tema.

A extrema-direita recebeu ainda outro apoio não despiciendo: uma justiça parcial politizada à direita considerou legítima a mentira e calúnia contra o regime democrático: os infames cartazes dos "50 anos de corrupção" entre outros do mesmo estilo, de caminho branqueando o fascismo.

O grão-mestre da mentira e da calúnia, Goebbels, dizia que quanto maior a mentira mais gente acredita nela. De facto, assim acontece se for dita esbracejando e em esganiçadas altercações e intervenções. É assim que num país ex-colonialista e de emigrantes, uma parte se volta contra os imigrantes como fautores de insegurança (o que é falso) recebendo benefícios de subsídios e habitação negados aos cidadãos (o que é falso, talvez para ucranianos por razões da UE), quando os emigrantes são vítimas da intensa exploração capitalista e contribuem para o sistema social. Aquela assertiva verborreia passou incólume sendo aceite a habilidade histriónica do protagonista.

Também não se ouviu perguntar à extrema-direita como resolvia os problemas que motivavam as acusações, tanto mais que a sua propaganda vive disto. Por exemplo, a corrupção. Como vai acabar? Ou a emigração, que além dos PALOP vem numa minoria de países levados ao caos pelas guerras imperialistas? Que processos judiciais propõem para isto ou vão prescindir deles? No entanto, as soluções da extrema direita são conhecidas: perseguir, prender, reprimir, aumentar a exploração e mais uma nova versão das "medidas de segurança", a prisão perpétua.

Noutros cenários da extrema-direita com poder, vimos como instantaneamente nos grandes media os temas da demagogia da extrema-direita se evaporam e como a contestação democrática passa a ser antinacional. É espantoso que pessoas acreditem na extrema-direita quando todas as regalias sociais que usufruem foram obtidas por lutas sindicais e da esquerda consequente. O oportunismo da social-democratização tem servido de esteio à direita fascizante. O oportunismo de sectores apresentados como esquerda, foi incapaz de elaborar um discurso contra a extrema-direita, ressaltando a defesa do que na Constituição se mantém progressista e contra as ideologias da direita.

Que acordos, que compromissos, são possíveis em torno das propostas progressistas e realmente de esquerda, como o planeamento económico, o controlo do sistema financeiro e de sectores estratégicos pelo Estado parece ser uma questão central.

E se orientações do passado têm algum valor (claro que têm!) há que esclarecer e organizar; organizar e esclarecer.

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