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4 de maio de 2025

O perigo de suposições manipuladas que levam à guerra

 O que se passa com a Ucrânia teve origem nas "suposições manipuladas" levando a "guerras supostamente fáceis" de que fala Alastair Crooke, agora sobre o Irão. 

Aqueles que falam em bombardear o Irão (o que inclui Trump) parecem presumir que podem ditar o curso e os conteúdo essenciais das guerras, com os Estados Unidos (e Israel), decidindo bombardear o Irão com grandes bombas destruidoras de subterrâneos. Ai está! Fim da história. Supõe-se que será mais uma "guerra fácil e autojustificada" - e que o Irão deve aceitar a responsabilidade e as consequências que assumiu ao apoiar os palestinos e outras fações que recusam a "normalização" de Israel.

Em "Que guerra é essa de que você fala?" é dito: "Estamos lidando com horizontes limitados, imaginação e experiência limitadas. Mas há outro fator determinante: o sistema americano é notoriamente extenso, conflituoso e, portanto, amplamente impermeável à influência externa e até mesmo à realidade. A energia burocrática é quase inteiramente dedicada a lutas internas, que são travadas por coligações inconstantes na administração, no Congresso, no mundo dos "especialistas" e nos media. Mas essas lutas são, em geral, sobre poder e influência [internos] não sobre os constrangimentos e problemas inerentes a um conflito e, [portanto] não exigem nenhuma experiência ou conhecimento do real."

"O sistema é suficientemente grande e complexo para que alguém possa fazer carreira como "especialista sobre o Irão", dentro e fora do governo, mesmo sem nunca ter visitado o país ou falado o idioma: basta-lhe simplesmente reciclar a sabedoria padrão de uma forma que atraia financiamento. Travará batalhas com outros supostos "especialistas", dentro de um perímetro intelectual muito limitado, onde apenas certas conclusões são aceitáveis." Eis uma definição dos comentadores dos media de cá e duma forma geral desta Europa!

O que se torna óbvio é que esta abordagem cultural induz à preguiça e à prevalência do orgulho no pensamento ocidental. Isto sugere que Trump pensou que Xi se apressaria a encontrar-se com ele, após a imposição de tarifas para tentar defender um acordo comercial, porque a China sofreria danos económicos insuportáveis.

O preconceito também pressupõe que a pressão é a condição necessária e suficiente para forçar Putin a concordar com um cessar-fogo unilateral – um cessar-fogo que Putin havia declarado repetidamente que não aceitaria até que uma estrutura política fosse acordada de antemão. Quando Witkoff transmite o ponto de vista de Putin dentro da discussão da equipe de Trump, ele se apresenta como um opositor, falando fora do "discurso autorizado" que insiste que a Rússia só levará a sério a distensão com um adversário depois de ter sido forçada a fazê-lo por uma derrota ou revés sério.

O Irão também disse repetidamente que não será despojado de suas defesas convencionais, seus aliados e seu programa nuclear. O Irã provavelmente tem a capacidade de infligir enormes danos às forças dos EUA na região e a Israel. Quanto á equipa de Trump basicamente está dividida entre negociar ou bombardear. Parece que o pêndulo oscilou sob intensa pressão de Netanyahu e do lóbi sionista nos Estados Unidos.

Numa reviravolta, Witkoff passou de dizer que Washington ficaria feliz com um limite para o enriquecimento nuclear do Irã e não exigiria o desmantelamento de suas instalações nucleares, para postar em sua conta oficial X que qualquer acordo exigiria que o Irão "interrompesse e eliminasse seu programa de enriquecimento nuclear e armasOu seja, um acordo com o Irão só será alcançado se for um acordo de Trump. Sem um esclarecimento claro de Trump sobre isso, estamos no caminho da guerra.

É claro que a equipe de Trump parece não pensar nos riscos inerentes às suas agendas. Sua primeira "reunião de cessar-fogo" com a Rússia em Riad, por exemplo, foi um teatro de facilidade. A reunião foi realizada com base na fácil suposição de que, uma vez que Washington decidiu ter um cessar-fogo rápido, então "assim seria".

"Como se sabe", observa Aurélien a política do governo Clinton na Bósnia foi o produto de furiosas lutas pelo poder entre ONG americanas rivais e ex-ativistas de direitos humanos - ninguém sabia nada sobre a região ou nunca lá esteve.

Não é apenas que a equipe de Trump seja descuidada sobre as possíveis consequências da guerra no Médio Oriente. Eles são prisioneiros de suposições manipuladas que os fazem pensar em "guerras fáceis".

Fonte: Um "acordo Trump"? Malabarismo com a guerra, "guerra fácil" e negociação

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