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28 de maio de 2025

Compreender a UE

 Na UE/NATO, designada em termos geopolíticos como Europa, insistem em a Rússia aceitar um cessar-fogo que nem eles nem os EUA têm meios políticos ou militares para impor. Os russos bons jogadores de xadrez, permanecem nos seus próprios termos. Neste cenário a oscilante posição dos EUA mostra como os tempos mudaram.

Já lá vai o tempo em que os EUA ditavam as condições das guerras e obrigavam, segundo os seus interesses, os países a alinharem-se com o dólar valorizando ou desvalorizando, como aconteceu com o Japão que estava a exportar demais...

O comodoro britânico Steve Jermy escreve que "A Rússia está no comando": No nível mais fundamental, temo que os europeus não tenham a capacidade de calcular o equilíbrio de poder, uma competência crucial na guerra. Se quisermos contribuir de forma inteligente para acabar com a guerra na Ucrânia, devemos voltar aos fundamentos da formulação estratégica e calcular os equilíbrios relativos de poder. Isso permitirá entender a verdadeira influência do Ocidente - ou sua ausência - na Rússia.

O professor John Mearsheimer, aponta que a riqueza económica e o tamanho da população são determinantes do poder nacional. O PIB, é uma maneira pobre de calcular o poder militar. O que conta no campo de batalha é a capacidade industrial, a economia de serviços conta pouco. Outro fator fundamental é a energia.

A capacidade industrial, e as operações militares, dependem de um fornecimento fiável de energia barata, de alta qualidade e abundante, como os europeus estão a descobrir às suas custas. Nas operações militares, o combate e a logística consomem muita energia.

Além disto há que considerar o equilíbrio dos poderes nacionais e da unidade política que explicam as derrotas no Vietname e no Afeganistão, povos mais fracos, uniram-se em torno de suas causas e estavam dispostos a pagar um preço mais alto que as populações ocidentais. A distância também é importante, quanto mais longe estiver uma campanha, maior será o desafio logístico e as despesas envolvidas.

A Ucrânia com o apoio da NATO desde 2014, formou um grande exército, mas sua capacidade industrial era limitada e dependia de fornecimentos externos de energia, incluindo petróleo russo. Sua posição fundamental agora é muito pior, após ataques da Rússia à infraestrutura industrial e energética da Ucrânia.

A unidade política ucraniana também está a dissipar-se, desgastando-se entre os cansados da guerra e as vítimas dos gangues do exército ucraniano. Os ultranacionalistas permanecerão leais à sua causa, talvez até um fim apocalíptico, mas fora deles, o consenso popular ficará em queda livre à medida que o exército russo rolar para oeste.

Além do belicismo, a Europa é fundamentalmente fraca. Para se aproximarem dos níveis de capacidade industrial da Guerra Fria, os europeus terão de duplicar as suas despesas com a defesa e exceder os 5% do PIB. Além disso, importam 12,8 milhões de barris por dia de petróleo, caracterizando-se por vulnerabilidade energética crítica. A coesão da Europa também está em causa. Hungria, Eslováquia, Bulgária e Sérvia sempre foram céticas, a posição neutra da Áustria permaneceu matizada e o apoio político de outros países, como Itália e Espanha, está enfraquecendo, vendo os recursos nacionais redirecionados para uma corrida armamentista sustentando uma guerra perdida.

Os Estados Unidos são mais poderosos que a Europa, mas têm o problema da reindustrialização. Em termos de energia, é melhor, mas continuam sendo um importador líquido de petróleo, com quase 3 milhões de barris por dia.

A Rússia demonstra no campo de batalha o valor analítico do cálculo do equilíbrio de poder. Mobilizada industrialmente para sua "operação militar especial", a produção russa de projéteis de 155 mm é maior do que a dos Estados Unidos, europeus e ucranianos juntos. A Rússia é uma superpotência de hidrocarbonetos, totalmente independente em energia enquanto os europeus aceleram o suicídio industrial aplicando sanções contra a energia russa.

Grande potência terrestre, opera em rotas logísticas domésticas. A coesão política da Rússia também é clara: os russos consideram estar a travar uma guerra existencial contra um ocidente expansionista, a expansão da NATO é uma questão traumática para todos os russos e os números de aprovação política de Putin de 85% refletem o compromisso de seu povo com a vitória.

De acordo com esta análise, o equilíbrio de poder – no campo de batalha e na mesa de negociações – favorece amplamente a Rússia. Apesar disso, os líderes europeus – com pouco apoio americano – parecem acreditar que cabe aos perdedores ditar os termos do cessar-fogo ou da rendição, protestando em voz alta quando nem a realidade nem Putin querem segui-los. Embora os propagandistas tentem apresentar isto como algo diferente de uma derrota da NATO, será inútil, porque esta será a situação no terreno. Se aceitarmos as realidades no terreno, nós, europeus, podemos começar a fazer uma diferença positiva, em vez de procurarmos agarrar-nos à nossa narrativa política falhada e adiar o inevitável.

Os russos dizem-nos o que querem há pelo menos três anos. Basicamente, procuram uma solução de segurança que elimine as causas da guerra e leve à paz de longo prazo no continente europeu. Comece-se a acabar com a destruição catastrófica da infraestrutura ucraniana, a perda de mais vidas ucranianas e russas e a má gestão dos fundos europeus, quando muito já foi desperdiçado.

Com um pensamento estratégico competente, poderíamos ter evitado esta guerra. Com um pensamento competente sobre o equilíbrio de poder, poderíamos – e deveríamos – agora ajudar a acabar com ela de forma mais rápida e humana.



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