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19 de maio de 2025

Dois textos sobre as eleições

1 Em curto.

O discurso do Chega está  "certo" . Corresponde à  realidade e muitos portugueses   é  isso que sentem . Isto é  ele toca embora demagogicamente nas questões que os outros calam ou parecem calar porque são silenciados  . Só  que o faz com dois truques bem conseguidos e muito dinheiro a promove-lo.  Muito dinheiro.
Primeiro diz que esta "bandalheira" vem desde o 25 de Abril . Não ,  não vem . Vem desde o 25 de Novembro com  a liquidação constante das conquistas conseguidas pelos trabalhadores e o povo com a cumplicidade e muitas vezes a iniciativa do PS ,o que tem levado á acentuação das desigualdades ao agravamento de muitos problemas á imigração da juventude e á imigração brutal e em muito pouco tempo..
Segundo dão a ideia que são virgens que chegaram agora à  política e que querem. cortar a direito. Não  não  são  virgens. Ventura esteve no PSD foi vereador pelo PSD em Loures e apoiou Passos Coelho e o seu governo
Só quando viu que não  tinha mais futuro no PSD e lhe apareceram capitalistas e  um grande grupo da comunicação social(Correio da Manhã)a propor um novo partido para afastar as esquerdas é que se mascarou com uma nova roupagem e um falso novo discurso ..
Depois jogou com o medo a frustração e a raiva de milhares que assistem impotentes às negociatas   à  corrupção  ao amiguismo , ao nepotismo  e à  não resolução dos seus problemas 
Depois  não esquecer ainda que o país sofreu um choque brutal de imigração que assusta muita gente que trás diferenças de comportamentos e de culturas e que a esquerda não  pode responder como dando a ideia que defende uma política de portas abertas .
 Manuela Silva .facebook

2 Não se desenganem. O Chega vem mesmo para mudar o país. Para pior. O partido de André Ventura é o sonho molhado dos grandes grupos económicos e financeiros. Poder, finalmente, ajustar contas, de forma aberta e sem pudor, com as conquistas sociais da revolução de Abril é o desígnio do Chega. Ontem à noite, na RTP, João Cotrim Figueiredo, da Iniciativa Liberal, e Pedro Frazão, do Chega, admitiam juntos que querem mudar a Constituição da República Portuguesa para acabar com o seu preâmbulo e alterar a parte que define a organização económica do país porque, e cito, atribui ao Estado “a obrigação de ser ele o prestador dos serviços públicos” (ao fundo ouve-se Pedro Frazão a gritar “exactamente!”).

O desmantelamento das funções sociais do Estado é, sem dúvida, uma hecatombe mas vem já sendo operada ao longo de décadas pelo PS e PSD. Essa é, aliás, uma das principais razões para a votação avassaladora no Chega. Os partidos que até agora nos governaram, fingindo defender a democracia, favoreceram sempre as elites. O partido de André Ventura, fingindo estar contra este sistema, quer favorecer as mesmas elites. O povo que se lixe.

Eu dizia, há uns dias, que antes de melhorar isto ainda vai piorar. Mas só vai melhorar com a resistência dos trabalhadores (sim, também com muitos dos que votaram no partido de André Ventura). Muita gente vota no Chega porque sente que esse é o voto de protesto contra a sua vida miserável. E sim, é absolutamente chocante que haja mais de um milhão de eleitores de um partido abertamente fascista e que muitos tenham como objectivo expulsar indostânicos, tornar a vida num inferno aos portugueses ciganos e retirar direitos às mulheres. Tudo menos tocar nos interesses de quem de facto é responsável pelas nossas vidas miseráveis: os grandes grupos económicos e financeiros. Acreditam que André Ventura está mesmo contra este sistema. 

Que votem num partido de ladrões, corruptos e pedófilos, de aldabrões encartados que dizem uma coisa hoje e amanhã o seu contrário, não significa que não tenham razão em estar revoltados. Sabemos bem que o Chega foi levado em ombros pela comunicação social que, de forma irresponsável, mas consciente e deliberada, virou todos os focos para a extrema-direita, dando gás ao seu discurso racista e xenófobo. Os donos de jornais, rádios e televisões nunca o fizeram com o PCP, por exemplo, porque sabiam que os comunistas, ao contrário do Chega, estão de facto contra este sistema.

É certo, a palavra esquerda significa, hoje, pouco para os portugueses porque a identificam com partidos como o PS que sempre disseram uma coisa e fizeram outra. Muitos identificam-na também com uma esquerda folclórica que sempre preferiu viver mais da estética do que do conteúdo, que prefere priorizar direitos individuais e secundarizar direitos colectivos, cavalgando a onda liberal, procurando a divisão da classe trabalhadora.

Os sinos têm de tocar a rebate porque a gravidade é evidente. PS e PSD tenderão, como noutros países, a convencer-nos de que a democracia se defende votando neles. Não, a democracia defende-se melhorando as condições de vida dos trabalhadores, das mulheres, dos jovens e dos reformados. A tarefa do futuro é a construção de uma resistência onde caibam todos os que queiram verdadeiramente lutar contra este sistema. Devemos apontar o dedo ao Chega mas também aos que nos trouxeram aqui: as políticas do PS e PSD, a comunicação social e as redes sociais. Para lá da internet, onde também é importante saber comunicar, temos de reconstruir a nossa vida colectiva onde ela mais importa: conectando-nos com outros nos locais de trabalho, no sindicato, na colectividade, na associação de moradores, etc.

O tempo que vivemos é de resistência. Num dos seus poemas, Manuel Gusmão perguntou “quem somos nós?” e respondeu, em relação aos comunistas, que “somos a esperança que não fica à espera”. Muitos só vão perceber o engodo do Chega quando a nossa vida piorar ainda mais. Vão ter de bater de frente com os sindicatos mas os sindicatos sem trabalhadores não são mais do que quatro paredes e um telhado. É importante que entendamos que a resistência se faz connosco. Não se faz apenas nas redes sociais. Faz-se nas ruas e nos locais de trabalho. Muitos direitos vão ficar em causa, sobretudo dos trabalhadores e das mulheres, e cabe-nos mostrar que somos muitos e capazes de colectivamente enfrentar as ameaças. Mas defender o que temos não basta. Precisamos de assentar as bases para que no futuro nos tenhamos a todos, lado a lado, a construir um país soberano, socialmente justo e de progresso. Facebook de Bruno Carvalho jornalista

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