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2 de março de 2018

A economia portuguesa e a direita



Não pode valer tudo!


O Instituto Nacional de Estatística divulgou na semana passada a sua estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2017 e os contributos dos principais agregados macroeconómicas na óptica da despesa – Consumo Privado, Consumo Público, Investimento, Exportações e Importações – para essa mesma evolução.


Esta era uma informação muito importante já que ao longo dos dois últimos anos o pensamento neoliberal dominante na nossa comunicação social procurou sistematicamente desvalorizar o comportamento da Procura Interna (Consumo Privado, Consumo Público e Investimento) e em particular o contributo do Consumo Privado na melhoria que tem vindo a ser registada na nossa economia, preferindo sobrevalorizar o comportamento da nossa Procura Externa e em particular das nossas Exportações.


A razão porque o faziam e o fazem é muito simples, valorizar-se a evolução da Procura Interna e em particular do Consumo Privado nos últimos 2 anos significa reconher-se implicitamente o efeito extremamente positivo das políticas de devolução de rendimentos e direitos, que a nova solução política conseguida no seguimento das eleições de 2015, iniciou.


Ora o que os resultados agora divulgados pelo INE mostram é que a economia portuguesa terá crescido em 2017 2,7%, o ritmo de crescimento mais elevado desde o início deste século e o contributo da Procura Interna para esse crescimento terá sido de 2,9 p.p., enquanto a Procura Externa Líquida, que reflecte o crescimento real das Exportações, menos o das Importações, terá sido de -0,2 p.p. Ou seja, a nossa economia cresceu em 2017 quase exclusivamente graças ao bom comportamento da Procura Interna já que o impacto da nossa Procura Externa Líquida foi ligeiramente negativo, no ritmo de crescimento do nosso PIB.


Pareciam com estes dados ter caído por terra os argumentos dos partidos de direita e dos seus pensadores económicos neoliberais, mas não, de seguida imediatamente ajustaram o seu argumentário.


Sendo agora claro que a Procura Interna foi determinante na evolução da nossa economia nos últimos anos, a direita começa a olhar para os dados da sua evolução e procura aqui fazer a leitura que mais lhe interessa.


É assim que nos últimos dias, da leitura da comunicação social dominante o que ressalta, mais do que a constatação da boa evolução da Procura Interna no seu conjunto e, em particular do Consumo Privado e do Investimento, são as referências entusiásticas ao elevado ritmo de crescimento do Investimento em 2017 (+8,4%), procurando desta forma e uma vez mais desvalorizar-se o crescimento do Consumo Privado (+2,2%).


Não está aqui em causa a importância do elevado ritmo de crescimento do Investimento verificado em 2017 para o crescimento do PIB, isso é inquestionável e é não apenas desejável como fundamental, que este nível de crescimento do Investimento se mantenha nos próximos anos. Este tem de ser um dos objectivos principais da nossa política económica, a curto, médio e longo prazo.


Abro aqui um parêntese no entanto para relativizar este crescimento do Investimento dizendo o seguinte: sendo este o mais elevado ritmo de crescimento deste século, o Investimento em Portugal caiu de tal forma desde 2008, ano da última grande crise económica e financeira mundial, que em termos reais o investimento é ainda 26% inferior ao de 2008 e inferior ao de 1996. O investimento infelizmente caiu tanto nos últimos anos, que agora só pode crescer mas terá mesmo de crescer muito.


Mas volto à estratégia seguida pela direita e pela comunicação social dominante na leitura que faz da evolução económica registada em 2017, a qual passa agora pela desvalorização do crescimento do Consumo Privado em detrimento do Investimento.


O Jornal de Negócios do passado dia 1 de Março, a propósito dos dados divulgados pelo INE sobre a evolução da nossa economia em 2017, construiu um gráfico cujo título é “Investimento foi o principal motor”, mas a seguir olha-se para esse mesmo gráfico que espelha o contributo em pontos percentuais dos principais agregados macroeconómicos na óptica da despesa e, o que se verifica é que o maior contributo para o crescimento do PIB vem do Consumo Privado (+1,5 p.p.) e não do Investimento (+1,4 p.p.). A vontade de alterar a realidade é tal, que até conseguem ler num gráfico, aquilo que ele não diz.


Sobre esta mesma questão a pergunta que apetece fazer é sem dúvida esta: Se não foi importante o crescimento do Consumo Privado para o crescimento do PIB em 2017, digam-nos quanto teria crescido a nossa economia sem esse crescimento?


Eu respondo por todos vós. A nossa economia teria crescido apenas 1,2% e nessa altura teríamos toda a direita e os seus pensadores económicos neoliberais a atacarem a actual solução política governativa.


Decididamente não pode valer tudo!


CAE, 02 de Março de 2018


José Alberto Lourenço



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