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3 de março de 2018

A Síria e a comunicação portuguesa dominante


O MASSACRE DO SÉCULO XXI
Agostinho Lopes
“Na guerra não há apenas uma versão. Na Síria há muitas, contraditórias, confusas e nada fáceis de entender. Morte há só uma, às centenas, e cega cai sobre civis, crianças e inocentes”, João Vieira Pereira, Expresso Curto, 27FEV18.
Se as coisas são assim, e são, então porque é que os órgãos de informação ditos de referência, jornais, rádio e televisão, insistem em dar apenas uma versão (salvaguarde-se a notável excepção de Fernando Sobral, no Jornal de Negócios de 27FEV18). A versão das agências de informação dos EUA e da UE. A versão do Trump, Macron, May e companhia. A começar pelo jornalista autor daquela evidência em epígrafe. Porquê esta repetição tal e qual, onde nem os títulos mudam? “O massacre do século XXI”, “O Juízo Final”, “a violência histérica”, etc. Porquê esta dificuldade em investigar e noticiar com um mínimo de objectividade? Onde há sempre os mesmos maus, Assad, o Estado Sírio, os russos e há sempre os mesmos bons? Porquê a origem do que noticiam tem sempre como fonte um dito “Observatório Sírio dos Direitos Humanos” sedeado em Londres, quando não uns ditos “Capacetes Brancos”, transfigurados em “Defesa Civil Síria”. Porque será que no lado dos “massacrados”, não há jornalistas ocidentais? Será porque como referiu o jornalista Robert Fisk (The Independent) «Não estão lá repórteres ocidentais para os entrevistar – porque (normalmente não o dizemos) eles cortavam a cabeça, se tentássemos entrar naquele subúrbio cercado de Damasco»! Que ainda faz a seguinte anotação: «Estes grupos armados estão curiosamente ausentes quando expressamos a nossa indignação contra a carnificina em Ghouta». Como é possível que alguém dê credibilidade a um tal “analista sírio Hassan Hassan” via NPR – agência noticiosa pública do Governo dos EUA – segundo o qual “de facto os civis são um dos alvos principais dos ataques”. De que ”«A maioria dos bombardeamentos não é dirigida para as frentes de combate.»” “De que muitos dos alvos são áreas
residenciais e hospitais” (DN, 26FEV18). Porque é que de um lado estão as tropas de Assad, Rússia, Irão e do outro a “oposição”, os “rebeldes”, e outrossubstantivos colectivos, “neutros”, onde se dissolvem e desaparecem os grupos islamistas/ salafitas, isto é os grupos terroristas do Daesh e Al-Qaeda?
O mesmo passe de mágica semântica do jornal Expresso que numa notíciasobre o Afeganistão (14ABR17): numa linha era a intervenção dos EUA contra os “talibans e (…) Al-Qaeda”, uma linha depois eram os soviéticos contra os “guerrilheiros afegãos”! Porquê o regresso de Alepo e não de Mossul? A RTP 1 no Telejornal de 26FEV18, querendo falar de Ghouta, falou das imagens impressionantes colhidas por Drones da destruição em Alepo (?!), “esquecendo-se” aliás da reconstrução e reanimação da cidade em curso! Até a inominável trágica farsa de Srebrenica vem à colação, Ghouta a Srebrenica síria! Será que as bombas dos americanos só acertam em terroristas e as dos russos em crianças? Porquê a amnésia permanente sobre os massacres no Iémen? Na faixa de Gaza? Porquê o Assad para o Público (21FEV18) é o “ditador”, o “carniceiro”, o “assassino” e na Arábia Saudita encontramos o príncipe herdeiro saudita Mohammad bin Salman e o 1º Ministro Benjamin Netanyahu em Israel. E que chamam a Bush, a Blair (ler com urgência o Relatório do Parlamento do Reino Unido sobre o assunto), a Aznar? terroristas de Estado que massacraram milhares de crianças no Iraque e destruíram um país? Em quantos “países” quer esta gente que se divida a Síria? Nunca menos que os 7 em que se dividiu a Jugoslávia! Aliás, tantos como os que aceitam no Reino Unido e em Espanha! A duplicidade da generalidade dos nossos jornalistas lembra sempre os répteis, cuja língua, dizem, é bífida…

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