Adiante-se que não merecerá
reparo especial a matéria que suscitou a ousada afirmação: o questionamento
sobre a entrada da Santa Casa da Misericórdia no capital do Banco Montepio
Geral. O Montepio é uma associação posta de pé pelos seus associados – mais de
seiscentos mil – criada com fins mutualistas e não subordinada aos critérios da
banca privada. A eventual entrada da Misericórdia de Lisboa no capital do Banco
não pode ser vista à margem das orientações que visam subverter a natureza do
projecto e a sua origem: seja pelas alterações que a mando da regras da União
Europeia obrigaram à separação do Banco da Associação; seja pela ambicionada
abertura da entidade bancária ao capital privado; seja pela sua transformação
em “banco social”. E até se deve acrescentar, pelo conteúdo ainda que não pela
intenção, que nem mereceria registo crítico particular a ideia de que o
dinheiro dos “pobres” - imprecisão do termo mas admissível pelas concepções que
adiante se sublinharão – não deve destinar-se à banca. Intercale-se agora, com
prejuízo da fluidez narrativa que, se com a frase Negrão quis agradar à
bancada, bem se pode dizer que foi “pior a emenda que o soneto”. Negrão deveria
saber que a frase, capaz de pôr os cabelos em pé dos seus pares e o PSD em pé de
guerra, soará como demolidora acusação aos seus e a si próprio.
Não o tivéssemos visto por cá a
deambular em cargos e responsabilidades diversas no PSD; não nos recordássemos
da sua passagem pelo Governo de Passos Coelho empossado após as legislativas de
2015 – meteórica, é certo, atendendo aos 11 dias de vida que na balsa fornecida
por Cavaco Silva se tentaram manter à tona da governação – e diríamos que Negrão vindo de
nenhures aterrou agora em solo pátrio. Negrão parece não ter dado conta do
desfiar de escândalos, burlas, fraudes e gestão danosa desse interminável
corrupio envolvendo BPP, BPN, BES ou BANIF.
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