Michel Hudson, desenvolve numa entrevista o tema da desindustrialização e de como os EUA se tornaram um Estado falido, o mesmo se aplica aos seus súbditos da UE. Do seu texto extraímos alguns pontos relacionados com o tema. Note-se que Hudson é um dos maiores economistas atuais, o seu pensamento é cuidadosamente escondido, dado que os bonzos do neoliberalismo são incapazes de o confrontar. Nem um seu livro está traduzido em Portugal. Sobre este aspeto - censura - esclarece-nos:
Quase todos os artigos em periódicos são controlados pelos departamentos de economia de faculdades como da Universidade de Chicago ou de Berkeley, são financiados pelos bancos e grandes Fundações. Assim, se não se disser lixo que os neoliberais e os monetaristas dizem, então não vai se conseguir ser publicado, nem contratado em universidades como Harvard, Chicago, Princeton ou Columbia. Poderia ser-se contratado em Nova Iorque ou outras, mas também há aí uma censura quase total. A função da educação económica é fazer lavagem cerebral aos alunos (e ao público em geral!), para pensarem que não há alternativa.
Quanto à indústria, nos anos 1980, gerou-se uma propaganda, com a qual alinharam muitos que eram ou passavam por ser progressistas, do mito do fim das “industrias tradicionais”, da “sociedade de serviços pós-industrial” e das “novas tecnologias”, introduzindo por esta via teses antimarxistas, favorecendo o imperialismo.
Diz MH: A promessa era que uma sociedade pós-industrial ia deixar todo mundo mais rico, condições de trabalho mais fáceis, jornadas de trabalho mais curtas, a produtividade subir, e todos teriam um vida próspera. Na realidade, significou uma sociedade de serviços, desindustrializada e sem sindicatos. Quando economistas festejavam a sociedade pós-industrial, comemoravam uma política anti trabalhadores, porque a desindustrialização significou essencialmente diminuir o emprego e, assim, diminuir a procura de mão de obra e baixar salários. Um programa para lutar contra a força de trabalho, reduzir salários e favorecer a finança. Os banqueiros ganharam, os trabalhadores perderam: o poder do 1% sobre os 99% foi fortalecido.
Livraram-se da mão de obra industrial, a fim de criar o que Marx chamou de exército de reserva de desempregados, transferindo produções para outros países. Neste processo, empresas multinacionais obtiveram enormes lucros, produzindo no exterior com salários mais baixos.
A desindustrialização conduziu a Estados falidos, economias paralisadas e endividamento. Uma polarização económica, transferiu toda a riqueza e rendimentos para longe do trabalho, longe da indústria, para o que Hudson chama de sector FIRE, finança, seguros e imobiliário, o 1% ou 10%. Neste modelo, o papel da força de trabalho praticamente limita-se a ganhar o suficiente para poder pagar juros e rendas a bancos e proprietários, basicamente pagar para sector FIRE. É esta a filosofia anti-trabalhadores, neoliberal, da direita.
Será que os bancos podem ajudar a industrializar a economia? Para Hudson não. Na realidade, os bancos apenas ajudam a desindustrializar a economia, porque a sua filosofia é anti-trabalho e pós-industrial. São eles os criadores de crédito. Os governos poderiam simplesmente imprimir dinheiro, mas os da economia lixo dizem: bem, se o governo imprimir dinheiro, isso é inflacionário. Mas não é mais inflacionário do que o crédito bancário.
Suponha que um governo pede emprestado mil milhões de dólares a detentores de títulos e esses detentores de títulos entregam ao governo o dinheiro para o governo gastar. Por que precisa o governo de detentores de títulos para criar esse dinheiro? Ou, por que esses detentores necessitam que os bancos vão aos seus computadores e de repente criem mil milhões de dólares para emprestar ao governo, que o governo então voltará a depositar nesses mesmos bancos?
Os governos abandonaram o planeamento público. Se os governos não fizerem planeamento económico, os sectores financeiros fá-lo-ão (de acordo com os seus interesses de curto prazo) porque é aí que se deixou criar o crédito. Os Estados não precisam do 1% para financiar défices do orçamentais. Os governos podem fazê-lo eles próprios. Os governos devem ter o papel que os bancos têm hoje quanto à criação de crédito.
A reindustrialização só é possível revertendo toda a filosofia da sociedade pós-industrial como uma guerra de classes contra a força de trabalho. Não se pode ter uma guerra de classes contra o Trabalho e reindustrialização porque o trabalho sindicalizado acompanha a industrialização. Países que deixam as oligarquias desenvolverem-se acabam levando as suas economias para a obsolescência e uma espécie de idade das trevas.
Qualquer país que procure promover uma democracia por meio de gastos públicos em infraestrutura básica ou bancos, como a China está fazendo, é chamado de autocracia. Mas se uma autocracia impôs uma oligarquia, para lutar contra os trabalhadores e impedir políticas que ajudariam a enriquecer e industrializar a economia, é chamada de democracia, não de autocracia.
O que antes Primeira Guerra Mundial, era um ideal do capitalismo industrial: um mercado livre era um mercado livre de renda da terra, livre de juros bancários e livre de riqueza ganha sem ações produtivas. Pensava-se também que esse capitalismo evoluiria progressivamente para o socialismo, para ser uma economia mais produtiva, para se libertar da classe financeira, classe de rentistas e de monopolistas.
Claro que esta desejável evolução “progressiva”, de Hudson, só seria possível sem o poder oligárquico e do imperialismo. Hudson aliás não o ignorou noutros pontos.
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