Linha de separação


15 de abril de 2024

Maj General Raul Cunha

 Antes de entrar no assunto deste ‘post’, tenho de, mais uma vez, esclarecer os meus amigos que, se há algo que detesto intensamente é a hipocrisia e esta agora parece ser a predominante característica vigente no nosso Ocidente. Em seguida e graças a um fantástico Comandante que me liderou quando eu ainda era Capitão, segui sempre o seu exemplo de ter na minha proximidade colaboradores que me dissessem a verdade e não aquilo que pensavam que eu queria ouvir, e também que um dos piores erros que se podem cometer num confronto é o desconhecimento do adversário e por isso o menosprezarmos as suas possibilidades. Finalmente, o exemplo desse ilustre Militar levou-me a tentar sempre conseguir manter uma relação ética e leal com os meus subordinados, pares e superiores, e talvez por isso mesmo, tive (e continuo a ter) alguns dissabores. 

Começo por dizer isto, uma vez que verifico em jornalistas, comentadores académicos e até militares, que pululam nas televisões e redes sociais, o mais completo abandono dos princípios de verdade, justiça e moralidade, que deviam ser a regra a seguir. E daí entender ser necessária esta publicação para ‘purificar’ o ambiente.
Vamos então ao assunto que aqui me trouxe, sendo que o texto é uma tradução e adaptação de partes de um blogue visto na net e os dados foram verificados e confirmados em posts e vídeos no 'telegram':

“O Irão fez ontem história
Ao meu estilo habitual, proponho que se ignore todo o ruído propagandístico que actualmente povoa os media e as redes sociais e vou tentar demonstrar incisivamente os factos da forma mais completa possível.
Em primeiro lugar, importa salientar que o objectivo declarado do Irão para a operação era contra-atacar as bases a partir das quais o ataque israelita, ao Consulado iraniano na Síria, fora lançado em 1 de Abril. E por isso mesmo foi invocado o artº 51 da Carta das Nações Unidas.
O CGRI listou os seguintes objectivos para o ataque com mísseis da noite passada: as bases aéreas de Ramon e Nevatim (de onde foi conduzido o ataque ao Consulado do Irão). O QG das informações (intelligence) da Força Aérea Israelita (onde foi planeado o ataque ao Consulado do Irão) e degradação e exaurimento dos radares e equipamentos de defesa aérea israelita.
A Base Aérea de Ramon, no sul da Palestina ocupada, foi gravemente atingida. A Base Aérea de Nevatim, no sul da Palestina ocupada, foi atingida por mais de 7 mísseis. A base ultrassecreta de espionagem israelita em Jabal al-Sheikh (Monte Hermon), no norte do Golã ocupado, foi completamente arrasada. Refira-se que as restantes explosões ou impactos noutras zonas dos territórios ocupados estão relacionados com o confronto dos sistemas de defesa aérea israelitas com os projécteis no céu ou com a queda dos destroços dos mísseis interceptores ou com os destroços de mísseis iranianos.
Este ataque não teve precedentes por vários motivos importantes. Em primeiro lugar, foi, naturalmente, o primeiro ataque iraniano em solo israelita, directamente a partir do próprio solo iraniano, em vez de utilizar os seus ‘proxys’ do Iraque, da Síria, do Líbano, do Iémen, para escalar o conflito.
Em segundo lugar, foi um dos confrontos país-a-país mais avançados tecnologicamente e às maiores distâncias, da história.
O Irão fez algo sem precedentes. Conduziram o primeiro ataque moderno e potencialmente hipersónico a um inimigo com SRBMs e MRBMs num vasto espaço de múltiplos domínios, cobrindo vários países e fusos horários, e a uma distância de até 1.200-2.000 km.
Além disso, o Irão fez tudo isso com armas potencialmente hipersónicas, o que retirou outra camada de sofisticação que incluía ações como possíveis tentativas de intercepção endo-atmosférica com mísseis israelitas ABM Arrow-3.
Mas recuemos só um momento para afirmar que a operação do Irão em geral foi modelada segundo o sofisticado paradigma estabelecido pela Rússia na Ucrânia: começou com o lançamento de vários tipos de drones, que incluíam alguns Shahed-136 (Gerânio-2 na Rússia). bem como outros. Podemos ver isso nas imagens divulgadas por Israel de algumas das intercepções de drones.
Após um certo intervalo pré-cronometrado, o Irão lançou então mísseis de cruzeiro para que pudessem chegar aos objectivos aproximadamente numa janela semelhante à dos drones. Um vídeo da noite passada confirmou a presença de mísseis de cruzeiro a voar a baixa altitude.
Depois, seguindo o intervalo de tempo apropriado, o Irão lançou o golpe de misericórdia, com os seus alardeados mísseis balísticos. Puderam ser vistas as imagens divulgadas pelo próprio Irão do início da Operação True Promise, que inclui os lançamentos balísticos.
Como afirmado, todas as três fases do ataque foram cronometradas para as chegadas coincidirem, com os mais lentos (drones) a irem primeiro, depois os mais rápidos (mísseis de cruzeiro), seguidos pelos muito mais rápidos em tempo de voo para atingir o alvo, os mísseis balísticos.
Os EUA formaram uma grande coligação para abater as ameaças, que incluía os próprios EUA, o Reino Unido que voou a partir de Chipre, a França e, controversamente, a Jordânia, o que permitiu que todos também utilizassem o seu espaço aéreo e até participassem nos abates.
Dezenas de imagens proclamaram os abates ‘bem-sucedidos’ de mísseis balísticos iranianos. O problema é que todas essas imagens são de andares inferiores de reforço ejetados em certo momento pelos foguetes de dois andares. Não há provas conclusivas que quaisquer mísseis balísticos tenham sido abatidos e, de facto, todas as provas apontam para o contrário: imagens directas de mísseis a penetrar na rede de defesa aérea e a atingir os alvos.
Ou seja: embora Israel e os EUA afirmem que abateram 99% de tudo, e embora seja possível que os drones e mísseis de cruzeiro tenham sido abatidos na sua maioria – embora não haja provas evidentes de uma ou de outra forma – temos provas que os mísseis balísticos não tiveram oposição, passando através da que é considerada a defesa aérea mais densa do mundo. Não apenas a do próprio Israel, composta por uma defesa em camadas de ‘Fundas de David’, ‘Arrow-3s’, ‘Patriots’ e ‘Cúpula de Ferro’, mas também pelas forças aéreas aliadas acima mencionadas, bem como o que agora foi reportado como tendo sido o navio de guerra americano Arleigh Burke a disparar mais de 70 mísseis SM-3 da costa do Mediterrâneo.
Só um pequeno e rápido aparte, o habitual aldrabão ‘Nojeira’ afirmou e mostrou um vídeo em que supostamente um míssil israelita Arrow-3 derrubava um míssil balístico iraniano na exo-atmosfera, ou seja, no espaço: mas, na realidade, tudo o que mostra é a separação de um andar do míssil Arrow à medida que sobe em direção à zona exo-atmosférica. Não mostra qualquer intercepção real bem-sucedida, nem há qualquer evidência de um único míssil balístico a ser abatido.
Infelizmente, simplesmente não sabemos os detalhes exatos que nos permitam confirmar totalmente a velocidade terminal dos mísseis hipersónicos iranianos. No entanto, com base em observação dos vídeos, alguns dos mísseis parecem atingir um mínimo de Mach 3,5-5, se não mais, o que, segundo alguns, é ainda mais rápido do que a velocidade terminal do Iskander.
Dito isto, embora os MRBM iranianos apresentem sistemas de propulsão muito complexos, dado que têm dois e até três andares para conseguir um maior alcance, enquanto a Rússia e os EUA não os possuem devido à sua anterior adesão ao Tratado de Mísseis Balísticos de Alcance Intermédio, o pormenor da capacidade de orientação dos MRBM iranianos permanece um ponto de interrogação. Não sabemos qual a sua precisão e, no final, quão eficazes foram os ataques após atingirem os seus alvos. Isto porque, para além do grande objectivo geral de ‘atingir a base aérea de Nevatim’, por exemplo, não sabemos o que exactamente o Irão pode ter visado no interior daquela gigantesca base aérea.
No entanto, Israel confirmou que a base foi atingida mais de 7 vezes, mas afirma que os danos foram menores. Na verdade, já divulgaram imagens mostrando-os a consertar uma das pistas atingidas. E algumas fotos de satélite foram divulgadas mostrando o que parecem ser possíveis danos do ataque em toda a base.
Poderá estar Israel a minimizar danos mais graves ao divulgar o vídeo de um pequeno buraco na pista? Por exemplo, postaram o vídeo de um F-35 a pousar na base de Nevatim como uma demonstração de que a base está ilesa, mas já alguém alegou que se trata de uma gravação antiga. É também de mencionar que a conta oficial israelita tentou transmitir imagens antigas de lançamentos de MLRS russos da Ucrânia como sendo lançamentos balísticos iranianos na noite passada.
Assim, fica claro que, para Israel, escamotear a verdade não constitui um obstáculo, o que significa que logicamente não podemos acreditar em nada da sua palavra em relação à operação da noite passada.
O que se pode então concluir? Creio que não pode haver qualquer formulação definitiva sobre a eficácia deste ataque do Irão porque apenas sabemos os seus objectivos gerais e porque creio que apenas se destinou a ‘avisar’ Israel e a dissuadir uma futura escalada da sua parte. Penso que terá ficado claro que sempre que Israel o atacar, o Irão pretende agora revidar ‘de frente’, ou seja, directamente a partir do seu solo, tal como a sua capacidade recentemente demonstrou. 
Em futuro ‘post’ talvez seja possível discorrer um pouco mais sobre este assunto e as suas implicações e entretanto deixo uma grande conclusão: - Acabou-se a impunidade de Israel.”
CGRI – Corpo de Guardas da Revolução do Irão
QG – Quartel General
SRBM – Short Range Ballistic Missile
MRBM – Medium Range Ballistic Missile
ABM – Anti-Ballistic Missile
MLRS – Multiple Launch Rocket System

1 comentário:

Anónimo disse...

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