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17 de abril de 2024

Quer os EUA gostem ou não, o Irão é um importante ator político

 Em 2012, Alastair Crooke escrevia acerca da Primavera Árabe: O "despertar" da Primavera Árabe está tomando um rumo muito diferente das entusiásticas promessas. Decorrente de um vasto impulso popular, é cada vez mais entendida, e temida, como uma incipiente "revolução cultural" contrarrevolucionária (…) absorvida em três projetos políticos: Irmandade Muçulmana, projeto saudita-qatari-salafista e projeto jihadista radical.”

Hoje a paisagem é muito diferente: a Irmandade Muçulmana não é mais do que um "junco quebrado"; a Arábia Saudita "apagou as luzes” da jihad salafista, concentra-se no turismo e chegou a um acordo de paz com o Irão (mediado pela China). O Irão, é uma "potência regional", parceiro estratégico da Rússia e da China. Os Estados do Golfo estão agora mais preocupados com negócios e tecnologia do que com a jurisprudência islâmica. A Síria, alvo do Ocidente, foi recebida na Liga Árabe e está prestes a recuperar seu antigo lugar na região.

O que motivou esta viragem de 180°? Um fator foi a intervenção da Rússia na Síria para evitar um surto jihadista. Outro fator tem sido a emergência da China como grande parceiro comercial e mediador, quando os EUA começaram a perder posições. A retirada militar dos Estados Unidos do Iraque e Síria – parece estar assegurada, ainda sem data.

Rússia, a China, o Irão estão lentamente assumindo o controlo da região, institucional e economicamente, enquanto a influência do Ocidente diminui. O mundo sunita, aproxima-se dos BRICS. De facto, os países do Golfo viram-se em apuros por causa dos "Acordos de Abraão" que os vinculavam à tecnologia israelita (e portanto ao dinheiro de Wall Street). O "suposto genocídio” de Israel (nas palavras do TPI) em Gaza é uma estaca no coração do modelo de negócios dos países do Golfo.

Outro fator foi a inteligente diplomacia do Irão. É fácil os ocidentais criticarem o Irão, que "não cumpre" os objetivos dos EUA e as ambições pró-Israel, aplicando sanções e políticas agressivas, mas o Irão seguiu um caminho astuto. Não entrou em guerra com os países árabes sunitas na Síria, prosseguiu discretamente uma estratégia de diplomacia, segurança e comércio com os Estados do Golfo e conseguiu libertar-se dos efeitos das sanções ocidentais. Juntou-se aos BRICS e à OCX obtendo capacidade económica e política.

Quer os EUA e a Europa gostem ou não, o Irão é um importante ator político regional e está no topo dos movimentos de resistência, com uma diplomacia hábil para trabalharem em colaboração uns com os outros. Sunitas (Hamas) e xiitas (Hezbollah) estão associados numa luta anticolonial pela libertação, sob o símbolo não sectário de Al-Aqsa, representando a civilização islâmica.

O interesse do eixo iraniano e da Resistência é duplo: primeiro, calibrar cuidadosamente a intensidade do conflito – aumentando-o ou diminuindo-o conforme necessário; em segundo lugar, manter o domínio da escalada em suas mãos o máximo possível. Este aspeto engloba paciência estratégica relativamente a provocações israelitas. Israel deve ser visto como o instigador da escalada e a resistência como uma mera resposta, com os olhos fixados na psique política de Washington.

O Irão procura inovar a guerra assimétrica e dissuasão contra Israel e o Ocidente, acreditando com seus aliados que o poder de um Estado repousa em: paciência estratégica, ideologia, disciplina, inovação e liderança militar concebida como a capacidade dos homens seguirem seus comandantes até a morte.

O Ocidente tem superioridade aérea indiscutível, mas as frentes de resistência têm solução. Eles fabricam seus próprios drones de enxame assistidos por IA e mísseis inteligentes que voam junto ao solo. A estratégia da Resistência é clara: o Ocidente investe no seu domínio aéreo e poder de fogo, com ataques rápidos, mas geralmente desgasta-se muito rapidamente. Raramente é capaz de sustentar um ataque de grande intensidade por um longo período.

No Líbano, em 2006, o Hezbollah permaneceu no solo enquanto aviões israelitas sobrevoavam o local. Os danos físicos na superfície foram extensos, mas as forças do Hezbollah não foram afetadas e emergiram depois, com uma barragem de mísseis de 33 dias, até que Israel anunciou o fim da operação. Esta paciência é o primeiro pilar da estratégia. O segundo, é que, enquanto o Ocidente tem resistência de curta duração, a Resistência é treinada e preparada para um conflito de desgaste de longo prazo, até a sociedade civil não aguentar mais o impacto. O objetivo da guerra não é necessariamente matar soldados inimigos, mas sim desgastá-los e incutir-lhes um sentimento de derrota.

O Ocidente tenta administrar o conflito, usando os mesmos conceitos ultrapassados pelos quais foi concebido e (mal) gerido. Porém é tarde para voltar aos modos seculares de gestão de conflitos. O “génio saiu da lâmpada”.

Fonte: Cultura Estratégica Alastair Crooke, ex-embaixador britânico.

1 comentário:

Anónimo disse...

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