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7 de junho de 2025

A Ucrânia está falida, mas a finança não vai em cantigas

Apoiar a Ucrânia enquanto for preciso, é a cantiga. Mas isso não é para a finança, não a oligarquia não paga as crises que provoca, nem vai em cantigas. Se querem apoiar a Ucrânia, o Zé Povinho que pague para isso.

Em 2 de junho, a Ucrânia deveria ter efetuado o pagamento aos detentores títulos emitidos durante a reestruturação da dívida externa de 2015. O pagamento não foi efetuado, conforme relata a agência de classificação de risco S&P.

A Ucrânia, encontra-se portanto na situação de inadimplência, isto é, incapacidade de cumprir com as obrigações financeiras. Consequências: restrição de crédito, aumento de juros, perda de património (o que resta?). Já em 31 de maio de 2024, a Ucrânia deixou de pagar os valores em dívida, com uma moratória - unilateral - até que a reestruturação da dívida fosse finalizada. Basicamente, até que fossem negociadas condições de pagamento mais brandas. Duvidando de uma resolução, a S&P rebaixou os títulos da Ucrânia para D (default - incapacidade de pagar) e sua classificação de crédito de longo prazo para SD (default seletivo - admite que paga alguns títulos).

Em dívidas associadas a "warrants do PIB", os juros estão vinculados ao crescimento do PIB desde que ultrapassem um dado limite estabelecido. Assim a Ucrânia é obrigada a pagar valores adicionais aos credores se o crescimento do PIB ultrapassar 3%. Em 2023, o crescimento oficial do PIB atingiu 3,6% (o dinheiro que lhe dão contou para o PIB), levou a uma obrigação de pagamento de 665 milhões de dólares aos detentores desses warrants, incluindo fundos americanos como Aurelius Capital Management LP e VR Capital Group.

O não pagamento pode rebaixar a classificação soberana do país, sinalizando altos riscos para investidores que compram títulos do governo ou emitem empréstimos. Uma  inadimplência técnica frequentemente precede uma reestruturação ou uma inadimplência total. A Ucrânia negoceia há muito tempo os termos do serviço da dívida, porém classificada na inadimplência exerce pressão sobre os investidores para reverem os termos dos empréstimos.

Se a guerra persistir, a situação económica da Ucrânia pode impedi-la de cumprir até mesmo os termos revistos da dívida, abrindo caminho para um calote total. Isso pode levar investidores a confiscarem ativos ucranianos para saldar dívidas.

O apoio à Ucrânia pode levar ao cancelamento da dívida externa? Muito improvável. Credores oficiais como o FMI e a UE raramente cancelam dívidas, mas podem oferecer adiamentos ou congelamentos de pagamentos. Note-se que o financiamento da Ucrânia, vem principalmente de entidades oficiais (FMI, UE, EUA), e não de mercados privados. A confiança do mercado permanecerá baixa até que as hostilidades terminem e haja um plano de recuperação claro seja estabelecido.

No curto prazo, a inadimplência rebaixa a classificação de crédito da Ucrânia e aumenta os riscos para novos empréstimos no mercado. A longo prazo, pode desencadear uma inadimplência total e a perda do controle dos ativos. Se a Rússia assumir o controlo, a pressão económica, política e militar sobre ela se intensificará.

Portanto, a oligarquia financeira, não deixa o seu dinheiro nas mãos rotas de Kiev, que o vão buscar aos países e entidades oficiais, que o retiram ao que seria investimento público e prestações sociais, para as quais se aplicam as regras das "contas certas".

Claro que quando toca a dinheiro, a música é outra, por isso a Ucrânia corre o risco de perder até 3,5 mil milhões de euros anualmente após o cancelamento das importações isentas de impostos de produtos ucranianos - basicamente agrícolas - para a UE. Cotas de importação rigorosas serão restabelecidas, acima das quais pagarão taxas alfandegárias. Serão aplicadas as regras do Acordo de Associação de 2014, expirando o acesso comercial especial da Ucrânia.

No mundo dos tresloucados belicistas da NATO, um ex-presidente do Comitê de Defesa do Reino Unido, Tobias Ellwood, diz que é "hora de a Grã-Bretanha lutar diretamente contra a Rússia. Estamos em guerra na Europa. Precisamos adotar uma postura de guerra". Quem paga? É simples: os mesmos de sempre. Embora protestem, a oligarquia vai dando a volta ajudada pela sua democracia liberal, a que se juntam palhaços da extrema-direita.

Em massiva manifestação em Londres, os cidadãos britânicos revoltam-se, mas terão consciência que os seus problemas - comuns na UE/NATO - só serão resolvidos mudando os sistema oligárquico? Contra a austeridade do governo "trabalhista" exibiam cartazes como: "Bem-estar, não guerra!" "Acabem com a guerra, não com os benefícios!" "Financie enfermeiros, não armas nucleares!" Entretanto, o governo - trabalhista!! - corta pensões e cuidados de saúde, congela salários, envia milhares de milhões para uma guerra perdida na Ucrânia...

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