A OXFAM emitiu o documento "Do lucro privado ao poder público: Financiar o desenvolvimento, não a oligarquia, onde denuncia que a riqueza do 1% mais rico aumentou em termos reais 33,9 milhões de milhões de dólares, desde 2015, quando foram acordados os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. O montante é 22 vezes superior ao necessário para acabar com a pobreza existente.
Esta análise revelou um "aumento astronómico" na riqueza privada entre 1995 e 2023, com um crescimento de 342 milhões de milhões de dólares, oito vezes maior que o da riqueza pública que aumentou apenas 44 milhões de milhões. A estratégia de priorizar investidores privados, beneficiou os mais ricos: os 1% detêm 43% dos ativos globais. A riqueza de 3 mil multimilionários é agora equivalente a 14,6% do PIB mundial, mais riqueza do que os 95% mais pobres.
Os 3 mil multimilionários ganharam 6,5 milhões de milhões de dólares, mais do que o custo anual para atingir os ODS, estimado em 4 milhões de milhões. Enquanto isso, 3,7 mil milhões de pessoas vivem abaixo da linha de pobreza, com 8,30 dólares por dia, de acordo com dados do Banco Mundial. Embora não tenha sido capaz de erradicar a pobreza, o mundo conseguiu gerar 1202 novos bilionários.
O documento acusa os governos dos países ricos estarem a fazer os maiores cortes na ajuda ao desenvolvimento desde 1960, ao mesmo tempo a crise da dívida está a levar à falência países pobres, que estão a pagar muito mais aos credores do que podem gastar com saúde e educação. Os credores privados, representam mais de metade da dívida dos países de baixo e médio rendimento, exacerbando a crise da dívida com a recusa em negociar as suas condições punitivas.
De uma série de objetivos como erradicar a fome e a pobreza extrema, alcançar a igualdade de género e garantir acesso a saúde, educação e trabalho decente, em 2024, apenas 16% das metas ODS estavam em vias de serem cumpridas até 2030.
Os países ricos colocaram Wall Street no comando do desenvolvimento global: uma tomada de controlo global das finanças privadas que ultrapassou as estratégias para combater a pobreza através do investimento público e de uma tributação justa. Segundo o diretor-geral da Oxfam, Amitabh Behar, não é surpresa que os governos estejam desastrosamente fora do rumo, seja na promoção de empregos dignos, igualdade de género ou fim da fome. A concentração de riqueza sufoca os esforços para acabar com a pobreza.
A Oxfam apelou aos governos para que subscrevam propostas políticas que proponham uma mudança radical que combata a desigualdade extrema e transforme o sistema de financiamento ao desenvolvimento. Estas propostas incluem o desenvolvimento de novas parcerias estratégicas contra a desigualdade, a rejeição do financiamento privado como "solução milagrosa" para o desenvolvimento, a tributação dos ultraricos e a reforma da arquitetura da dívida, bem como a revitalização da ajuda.
É tempo de rejeitar o consenso de Wall Street e, em vez disso, colocarmos o setor público no comando. Os governos devem atender às exigências generalizadas de tributar os ricos e acompanhá-las com uma visão de construção de bens públicos, desde os cuidados de saúde à energia". Existem milhões de milhões de dólares para cumprir as metas globais, mas que estão trancados em contas privadas dos super-ricos.
É um sinal esperançoso que alguns governos estejam unindo-se para combater a desigualdade, mais países devem seguir seu exemplo, acrescentou Behar.
O atual modelo de desenvolvimento global, que prioriza lucros privados em vez do bem-estar coletivo, fracassou. A subordinação dos objetivos públicos ao lucro privado aumenta a pobreza e a desigualdade, tanto dentro de cada país quanto entre países diferentes. Na prática, as abordagens que priorizam o financiamento privado podem prejudicar a capacidade dos Estados de controlar seu desenvolvimento.
Os serviços públicos, fundamentais para enfrentar a desigualdade extrema, podem deteriorar-se com o financiamento privado. Foram levantadas preocupações profundas com os riscos de deixar o acesso a direitos humanos fundamentais à mercê dos caprichos de investidores privados cuja principal motivação é a busca de retorno financeiro.
Um estudo constatou que os fornecedores privados de água nos Estados Unidos cobram, em média, 59% a mais do que os fornecedores públicos, ao mesmo tempo que costumam adotar medidas perigosas de corte de custos que podem afetar diretamente a saúde pública.
Uma análise sistemática de evidências internacionais constatou que o investimento de capital privado em estruturas de saúde e cuidados está associado a impactos negativos sobre os custos para pacientes e pagadores, e a impactos mistos a negativos sobre a qualidade e os resultados de tratamentos. Por exemplo, um estudo sobre casas de repouso nos Estados Unidos constatou que sua aquisição por capitais privados levou a um aumento de 11% na mortalidade.
Quando questionado sobre os impactos dos recentes cortes drásticos no RU, por exemplo, o Ministro das Finanças do país, de forma rápida e desagradável, passou a enquadrar os cortes como “enormes oportunidades” para alavancar o investimento privado. Governos e instituições financeiras internacionais insistem na duvidosa aposta e experiência do financiamento privado.
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