1 Notícias do outro lado
" A China reagiu negativamente às declarações de políticos ocidentais na cimeira da Otan em Bruxelas sobre preocupações com o apoio de Pequim a Moscovo..
"Que direito tem a OTAN , a principal força motriz por trás da crise ucraniana, de apontar o dedo para a China , que tem clamado por paz e negociações todo esse tempo?" - escreve a publicação "Huanqiu shibao".
Os autores apontam que a posição chinesa sobre os acontecimentos na Ucrânia é bastante clara e se baseia no direito internacional e na Carta da ONU , mas as ações da OTAN no fornecimento de armas a Kiev divergem das palavras sobre a paz.
2 ..."Joe Biden também tem outro objetivo que não corresponde ao nosso: o de aproveitar a situação para tornar a Europa e parte do mundo ,dependentes de sua arma alimentar e de suas exportações de petróleo e gás.A pressão contra nossas empresas capitalistas para sair da Rússia, se é que se pode entender, visa sobretudo tornar ainda mais poderoso o capitalismo norte-americano que, com aqueles que agora chama de oligarcas, privatizou a maior parte da economia russa em cumplicidade ativa com Yeltsin e Putin em nome do capitalismo mais selvagem tendo como pano de fundo a propaganda da eficiência .
Hoje vemos acontecer exatamente o oposto. Não há globalização capitalista feliz, nem um “fim da história”. São os trabalhadores europeus, ucranianos e russos que sofrem com ias sansões e a guerra e, as populações mais desmunidas do mundo. Por isso, é urgente alargar a frente da paz através da diplomacia mobilizando como está a acontecer este fim-de-semana em Bruxelas com uma grande manifestação popular para conquistar a paz. Ações europeias comuns e por toda a Europa devem ser imaginadas e promovidas para se lutar contra a especulação sobre matérias-primas que atualmente enchem os cofres dos trustes capitalistas."...France H.
3.Do facebook
ARITMÉTICAS DO HORROR’ EVOCADAS PELA ESCRITORA INDIANA ARUNDHATI ROY NO JORNAL FRANCÊS ‘LE MONDE’ EM 2001
- texto de Alfredo Barroso
Num texto publicado no jornal 'Le Monde' em Outubro de 2001, a escritora indiana Arundhati Roy conseguiu demonstrar, com uma lucidez brutal, até que ponto a invocação da memória histórica pode ser cruel e em que medida a «delicada álgebra» duma «justiça sem limites» (ou duma «liberdade duradoura» como dizia Bush Jr.) pode dissimular verdadeiras aritméticas do horror.
A autora do tão celebrado romance «O Deus das Pequenas Coisas» («Booker Prize» em 1997) recordou, aliás, uma entrevista concedida à CBS, em 1996, pela então embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, Madeleine Albright, a qual, questionada por Leslie Stahl sobre qual a sua reacção perante a morte de cerca de 500 mil crianças iraquianas, em consequência das duras sanções económicas impostas pelos EUA, respondeu que era «uma opção muito difícil» mas que, bem feitas todas as contas, «pensamos que o preço a pagar vale a pena». Até 2001, porém, «o preço» já duplicara...
Aludindo, com ironia, à distinção pouco subtil entre «civilização» e «barbárie», que parecia justificar outra distinção, não menos grosseira, entre o «massacre de inocentes» e os «danos colaterais» provocados pelas guerras, Arundhati Roy perguntava: «Quantos mortos iraquianos serão necessários para melhorar o mundo? E quantos afegãos será preciso matar por cada americano morto? E quantas crianças mortas por cada adulto morto? E quantos cadáveres de ‘mudjahidines’ pelo cadáver de um só banqueiro?». Eis a delicada álgebra.
Desfiando a sua memória de elefante, a escritora indiana recordava ter sido a CIA a financiar e recrutar, a partir de 1979, por intermédio dos poderosos serviços secretos paquistaneses (ISI), dezenas de milhares de ‘mudjahidines’ em cerca de 40 países muçulmanos para os lançar, em nome do «mundo livre», numa autêntica «guerra santa» - ou «jihad» islâmica - contra as tropas soviéticas que tinham invadido o Afeganistão. Quem havia de dizer que a CIA estava assim a financiar, com 20 anos de antecedência, uma «guerra santa» contra os próprios EUA? E quem havia de dizer que a Rússia e os EUA se aliariam para voltar a destruir o Afeganistão?
Mais: Arundhati Roy salientava que fora cerca de dois anos depois da implantação da CIA na região que a zona fronteiriça entre Paquistão e Afeganistão se transformara no maior produtor mundial de heroína e na principal fonte de abastecimento da droga nas cidades americanas. Como os fundos financeiros e o material militar fornecidos pela CIA já não bastavam, os ‘mudjahidines’ criaram um ‘imposto revolucionário’ e deram ordem aos camponeses para plantar ópio em quantidades industriais. A CIA foi fechando os olhos, enquanto os laboratórios de preparação da heroína cresciam como cogumelos sob a protecção dos serviços secretos paquistaneses.
«Criámos um monstro no Afeganistão» - reconheceu Richard Murphy, secretário de Estado adjunto para os Assuntos Asiáticos do presidente Ronald Reagan, num livro intitulado «Os Novos Chacais". Pois claro que criaram! E Osama Bin Laden era precisamente um desses «novos chacais», recrutados, treinados e financiados pelos EUA. Mas, como salientava Arundhati Roy, se não tivesse sido Bin Laden a «assinar» a brutal carnificina causada pelos atentados suicidas de 11 de Setembro, essa «assinatura» bem poderia ser a dos «fantasmas das vítimas das antigas guerras americanas», dos «milhões de mortos» nos conflitos em «países dirigidos por terroristas, ditadores e autores de genocídios que o governo americano apoiou, formou, financiou e armou»... Desde 1789, já são, aliás,mais de 250 as intervenções militares dos EUA em países estrangeiros nos quatro cantos do mundo!
Com a mais cruel das ironias, Arundhati Roy perguntava igualmente se o governo da Índia podia aproveitar a ocasião para exigir a extradição do cidadão americano Warren Anderson, que era o presidente da multinacional Union Carbide, «responsável pela fuga de gaz ocorrida em Bhopal, em 1984, causando a morte de 16 mil pessoas». Sabia, no entanto, que a resposta seria negativa, dado «o assustador desprezo» dos governos dos EUA «pelas vidas que não são americanas» e que, ainda por cima, «não passam na televisão». Mas lembrava, também, que «os mísseis Stinger que os helicópteros americanos tanto temem foram fornecidos pela CIA», acrescentando que «a heroína consumida pelos toxicómanos americanos é proveniente do Afeganistão».
Para a escritora indiana, Osama Bin Laden era o «segredo de família da América», era, digamos, como que «o duplo negro do seu presidente», o «gémeo selvagem» de George W. Bush Jr.. «Estão ambos implicados em crimes políticos sem qualquer ambiguidade e estão armados até aos dentes». Nem um nem outro recuarão perante a destruição e os milhares de mortos prometidos. Entre «a bola de fogo» - W. Bush Jr. - e «o picador de gelo» - Bin Laden - que viesse o Diabo e escolhesse!
(Esta evocação foi feita por mim no semanário ‘Expresso’, na minha coluna semanal "De pé atrás", em 21 de Outubro de 2001)
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