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14 de novembro de 2022

A realidade e a propaganda

 Maj General Raul Cunha


Enquanto os propagandistas de Kiev tentam tirar o máximo proveito da situação em redor de Kherson, os especialistas ucranianos chegam à conclusão paradoxal de que o abandono de Kherson pelas tropas russas é uma vitória que na prática se transforma em prejuízo.
De facto, a “Batalha por Kherson” poderia durar ainda bastante tempo, atraindo assim a atenção e o apoio ao exército de toda a sociedade ucraniana.
Ao mesmo tempo, seria possível estar constantemente a relatar sucessos, mesmo os muito pequenos, mas de forma regular. Por exemplo, a ocupação dos arredores de uma aldeia, onde foi içada uma bandeira azul-amarela sobre um celeiro.
Assim, o sector mediático teria a oportunidade de trocar a ênfase informativa em eventos indesejáveis para a de reclamar vitórias duradouras. E a frente de Kherson era praticamente o local ideal para essa finalidade.
Dado que as tropas russas ali poderiam ter de se defender por muito tempo, a sua capacidade de fazer uma contra-ofensiva seria extremamente limitada, devido a problemas logísticos.
Nos outros sectores da frente, já é tudo muito mais complicado, pois as oportunidades para uma ofensiva das Forças Armadas da Ucrânia na área de Kupiansk e no Donbass estão praticamente esgotadas.
No eixo de Zaporizhia, as Forças Armadas da Federação Russa têm muito melhores possibilidades logísticas.
Na verdade, tudo agora se encaminha para uma redução da intensidade das hostilidades. Não importa se será sob a forma de uma trégua – uma possibilidade que os canais de informação ucranianos estão a anunciar – ou se apenas acabará por acontecer de uma forma lenta e progressiva.
Mas, em todo caso, a “questão militar” deixará inevitavelmente de ocupar todo o espaço da informação e surgirão problemas completamente diferentes, como a energia, o aquecimento, os programas sociais, os problemas dos deficientes, cujo número se multiplica em progressão geométrica.
O governo de Zelensky não tem capacidade nem meios para resolver estes problemas e poderá acontecer que nem mesmo o Ocidente tenha possibilidades financeiras para os ajudar a resolver.
Com o pano de fundo de uma acalmia das hostilidades, será mais difícil conseguir obter apoio financeiro, mesmo que seja para a guerra.
Poderá, é claro, tentar-se teatralizar em Kherson, após esta cidade ser ocupada pelas tropas nazis, uma outra “Bucha”, mas, dado terem sido desmascaradas as anteriores alegadas situações de massacres, há poucas esperanças que um cenário desses impressione e permita que o Ocidente “abra os cordões à bolsa”.
Por outras palavras, Zelensky depara-se agora com a questão: “O que virá a seguir?”  
E não tem resposta para isso!

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