Maj General Raul Cunha
Enquanto os propagandistas de Kiev tentam tirar o máximo
proveito da situação em redor de Kherson, os especialistas ucranianos
chegam à conclusão paradoxal de que o abandono de Kherson pelas tropas
russas é uma vitória que na prática se transforma em prejuízo.
De
facto, a “Batalha por Kherson” poderia durar ainda bastante tempo,
atraindo assim a atenção e o apoio ao exército de toda a sociedade
ucraniana.
Ao mesmo tempo, seria possível estar
constantemente a relatar sucessos, mesmo os muito pequenos, mas de forma
regular. Por exemplo, a ocupação dos arredores de uma aldeia, onde foi
içada uma bandeira azul-amarela sobre um celeiro.
Assim,
o sector mediático teria a oportunidade de trocar a ênfase informativa
em eventos indesejáveis para a de reclamar vitórias duradouras. E a
frente de Kherson era praticamente o local ideal para essa finalidade.
Dado
que as tropas russas ali poderiam ter de se defender por muito tempo, a
sua capacidade de fazer uma contra-ofensiva seria extremamente
limitada, devido a problemas logísticos.
Nos outros
sectores da frente, já é tudo muito mais complicado, pois as
oportunidades para uma ofensiva das Forças Armadas da Ucrânia na área de
Kupiansk e no Donbass estão praticamente esgotadas.
No eixo de Zaporizhia, as Forças Armadas da Federação Russa têm muito melhores possibilidades logísticas.
Na
verdade, tudo agora se encaminha para uma redução da intensidade das
hostilidades. Não importa se será sob a forma de uma trégua – uma
possibilidade que os canais de informação ucranianos estão a anunciar –
ou se apenas acabará por acontecer de uma forma lenta e progressiva.
Mas,
em todo caso, a “questão militar” deixará inevitavelmente de ocupar
todo o espaço da informação e surgirão problemas completamente
diferentes, como a energia, o aquecimento, os programas sociais, os
problemas dos deficientes, cujo número se multiplica em progressão
geométrica.
O governo de Zelensky não tem
capacidade nem meios para resolver estes problemas e poderá acontecer
que nem mesmo o Ocidente tenha possibilidades financeiras para os ajudar
a resolver.
Com o pano de fundo de uma acalmia das
hostilidades, será mais difícil conseguir obter apoio financeiro, mesmo
que seja para a guerra.
Poderá, é claro, tentar-se
teatralizar em Kherson, após esta cidade ser ocupada pelas tropas
nazis, uma outra “Bucha”, mas, dado terem sido desmascaradas as
anteriores alegadas situações de massacres, há poucas esperanças que um
cenário desses impressione e permita que o Ocidente “abra os cordões à
bolsa”.
Por outras palavras, Zelensky depara-se agora com a questão: “O que virá a seguir?”
E não tem resposta para isso!
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