Concluímos a resenha do discurso de Putin em Valdai em 27 outubro sobre o mundo multipolar.
4 - Globalização - O monopólio financeiro e tecnológico, o apagamento de todas as diferenças é o que está subjacente ao modelo ocidental de globalização, de natureza neocolonial. O objetivo é estabelecer o domínio incondicional do Ocidente na economia e na política globais, colocando ao seu serviço os recursos naturais e financeiros de todo o planeta, bem como as capacidades intelectuais, humanas e económicas, alegando que é uma característica natural da chamada nova interdependência global.
Mas assim que países não-ocidentais começaram a obter alguns benefícios da globalização, como grandes nações da Ásia, o Ocidente imediatamente mudou ou aboliu muitas dessas regras. Os chamados princípios sagrados de livre comércio, abertura económica, concorrência e até mesmo direitos de propriedade foram subitamente esquecidos.
A economia e o comércio mundiais precisam de se tornar mais justos e mais abertos. É inevitável a criação de novas plataformas financeiras internacionais seguras, despolitizadas e automatizadas não dependendo de um único centro de controle. Para o realizar muitos países terão de unir os seus esforços, mas é possível. A transição para transações em moedas nacionais ganhará rapidamente impulso. É inevitável.
Isso permitiria realizar transações internacionais eficazes, benéficas e seguras sem o dólar, ou qualquer uma das chamadas moedas de reserva. O dólar é utilizado como arma; os Estados Unidos, e o Ocidente em geral, desacreditaram a instituição de reservas financeiras internacionais, desvalorizadas pela inflação no dólar como ao tomarem tomaram nossas reservas de ouro e moeda.
A maioria deve beneficiar de trocas no intercâmbio livre e aberto da ciência e tecnologia, não corporações super-ricas individuais. Na verdade, tudo se resume a isso: seus fornecimentos de máquinas-ferramentas e equipamentos destroem a indústria de engenharia local o fabricante local é quase impossível sobreviver. É assim que assumem mercados e recursos, e os países perdem seu potencial tecnológico e científico. Não se trata de progresso; é escravização e redução das economias a níveis primitivos.
A globalização liberal tem a ver com despersonalizar e impor o modelo ocidental a todo o mundo, a integração é, em contraste, obter de cada civilização o potencial para que todos beneficiem de um esforço comum para desenvolver estratégias das quais todos possam beneficiar, formando a base económica de uma ordem mundial multipolar, complexa, única e multidimensional não as ideias simplistas ocidentais.
5 – Democracia - Ideólogos e políticos ocidentais têm dito que não havia alternativa à democracia. Eles referiam-se ao estilo ocidental, o chamado modelo liberal de democracia. Rejeitaram arrogantemente todas as outras variantes e formas de governo do povo e fizeram-no com desprezo e desdém.
Atualmente, uma esmagadora maioria da comunidade internacional exige democracia nos assuntos internacionais, rejeitando os ditames autoritários de países individuais ou grupos de países. O Ocidente chama a isso minar a ordem liberal baseada em regras. Recorre a guerras económicas e comerciais, sanções, boicotes e revoluções coloridas e prepara todos os tipos de golpes.
A verdadeira democracia num mundo multipolar tem sobretudo a ver com a capacidade de qualquer nação qualquer sociedade ou civilização de seguir o seu próprio caminho e organizar o seu próprio sistema sociopolítico.
Se os Estados Unidos ou os países da UE gozam desse direito, então os países da Ásia, os Estados islâmicos, as monarquias do Golfo Pérsico e os países de outros continentes também têm certamente esse direito.
6 - O futuro - A humanidade ou continua acumulando problemas e, eventualmente, é esmagada sob seu peso, ou trabalha em conjunto para encontrar soluções – mesmo imperfeitas, desde que funcionem – para que o nosso mundo se torne mais estável e seguro.
Mais cedo ou mais tarde, tanto os novos centros da ordem internacional multipolar como o Ocidente terão de iniciar um diálogo em pé de igualdade sobre um futuro comum, mas eles certamente não têm o direito de dizer aos outros para seguirem seus passos. Na realidade a maioria da população está concentrada no leste da Eurásia, onde surgiram os centros das civilizações humanas mais antigas.
O desenvolvimento deve assentar num diálogo entre civilizações e valores espirituais e morais. Entender o que são os seres humanos e sua natureza varia entre as civilizações, mas essa diferença é muitas vezes superficial, e todos reconhecem a dignidade última e a essência espiritual das pessoas.
O mundo é diverso por natureza e as tentativas ocidentais de submeter todos no mesmo padrão estão claramente condenadas. O Ocidente pagará um preço cada vez mais alto pelas suas tentativas de preservar sua hegemonia. Na Europa, seus dirigentes são prejudicados pela convicção de que os europeus são superiores aos outros. Essa arrogância impede-os de ver que eles mesmos se tornaram uma periferia estrangeira e realmente se transformaram em vassalos, muitas vezes sem o direito de voto. A multipolaridade é, na verdade, a única oportunidade para a Europa restaurar a sua identidade política e económica.
Um Ocidente agressivo, cosmopolita e neocolonial, age como ferramenta das elites neoliberais. A Rússia nunca se reconciliará com os ditames deste Ocidente. O colapso da União Soviética perturbou o equilíbrio das forças geopolíticas. Esse período histórico de dominação ocidental ilimitada nos assuntos mundiais está chegando ao fim. O Ocidente é incapaz de governar a humanidade sozinho e a maioria das nações não quer mais suportar isso. Esta é a principal contradição da nova era. Para citar um clássico, esta é até certo ponto uma situação revolucionária – as elites não podem e o povo não quer mais viver assim.
É necessária uma cooperação mutuamente benéfica baseada nos princípios da justiça e da igualdade. A unidade da humanidade não pode ser criada emitindo comandos como "faça o que eu faço" ou "seja como nós". Só pode ser criada com consideração pela opinião de todos e com uma abordagem cuidadosa da identidade de cada sociedade e de cada nação.
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