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15 de abril de 2023

Acerca da ofensiva da primavera

 Os analistas, não falamos de “comentadores” – nem de dois patuscos que aparentam uma espécie de demência – têm opiniões diversas sobre quem desencadeia a “ofensiva da primavera”: a Ucrânia-Nato ou a Rússia. O facto é que existem pressões políticas de ambos os lados, para infligir uma derrota ao adversário que acabe com a guerra. Mas nada disto é assim tão simples como no papel ou nas secretarias.

A linha de frente tem mais de 1000 km, pelo que uma derrota decisiva implicaria meios e comparáveis aos da frente leste da 2ª guerra mundial da ordem do milhão. Algo fora de causa – esperemos... 

A situação atual mostra-se bastante severa para a Ucrânia/NATO. Na batalha de Soledar as perdas, segundo o lado russo, atingiram 25 000 ucranianos e mercenários ocidentais. Bakhmut tornou-se uma armadilha de destruição de homens e material. Mais de 80% da cidade está na posse dos russos. A decisão de a manter a todo o custo é controversa: por um lado as perdas reduzem o potencial para a contraofensiva ucraniana, por outro, a perda da cidade abre um caminho de difícil defesa para o centro da Ucrânia, mas a Rússia não pode avançar sem a cidade estar totalmente dominada.

Desde o início da guerra as perdas ucranianas e mercenárias de Kiev somam 200 a 300 mil efetivos (e cerca de 7 000 civis) contra 16 000 a 20 000 do lado russo – principalmente das forças contratuais Wagner e milícias do Donbass.

Na frente a iniciativa tem sido da Rússia, que adota a estratégia de esgotar o adversário em armas e pessoal, destruindo veículos de combate, depósitos de munições e combustível, centros de agrupamento de tropas e infraestruturas. Esporádicos contra-ataques ucranianos têm-se malogrado. A resistência ucraniana centra-se nas cidades, não tendo demonstrado capacidade para ofensivas em campo aberto.

Segundo o The New York Times o Pentágono enviou a Kiev "munições e armas para a última tentativa" de contra-ofensiva. Se a Ucrânia não cumprir as exigências do Ocidente, novos pacotes de "ajuda militar" podem ser congelados. O plano envolve um ataque ao longo da costa sul, dividindo o território controlado pela Rússia em duas zonas, cortando linhas de abastecimento e tornando as bases militares na Crimeia acessíveis à artilharia ucraniana. Uma alternativa seria tentar alcançar a superioridade militar no Donbass. (Intel Slava Z – Telegram – 04/04)

As entregas anunciadas pelos EUA e aliados são um "o último esforço" porque não têm munições suficientes para atender às necessidades atuais da Ucrânia e seus próprios estoques são criticamente pequenos. Washington enfrenta uma guerra de desgaste na Ucrânia e o pesadelo que se passou no Afeganistãouma derrota na qual gastaram dois milhões de milhões de dólares.

A única maneira pela qual a Ucrânia sobrevive é através de subsídios ocidentais (principalmente dos EUA) de mais de 300 milhões dólares por dia. A Ucrânia está em suporte de vida e está matando o Ocidente porque esse dinheiro nunca será devolvido e cada dia que passa são mais 300 milhões que nunca serão pagos de volta. Ao mesmo tempo perspetiva-se nos EUA uma crise no imobiliário que pode atingir 1 milhão de milhões de dólares.

Os neocons de Washington precisam desesperadamente de uma "contraofensiva" para justificar os milhares de milhões todos os meses gastos nesta guerra. O descontentamento perante a situação cresce nos EUA e na NATO em geral. Mas a Rússia entretanto prepara-se: grupos especiais foram criados para combater os tanques fornecidos a Kiev por países ocidentais. (Intel Slava Z – Telegram 09/04).

Segundo Politico muitas vozes nos EUA consideram que a contra-ofensiva não terá muito sucesso. Já antes, o presidente do Estado-Maior Conjunto dos EUA, Mark Milley, chamou aos ditos objetivos de Zelensky, incluindo o retorno da Crimeia à Ucrânia, de "maximalistas", extremamente difíceis de implementar militarmente.

O papel da Polónia neste conflito tornou-se central. Observadores consideram que o eixo da NATO está agora não em Berlim e Paris, mas em Londres e Varsóvia. Mas a Polónia não é desinteressada e o seu objetivo é o de ocupar zonas fronteiriças ricas do ponto de vista agrícola. A Ucrânia desindustrializada parcialmente destruída, com a população em fuga é um Estado falido. Como disse o primeiro-ministro húngaro Orban, a Ucrânia é financeiramente um país inexistente, assim que os EUA e a Europa pararem de apoiá-la, o conflito terminará.

O facto é que a Rússia não pode aceitar  uma plataforma de lançamento de mísseis balísticos da NATO a apenas 300 milhas de Moscovo, num país dirigido por nazistas raivosamente russofóbicos. Isto revela uma total falta de planeamento criminosamente negligente da NATO, começando uma luta que não consegue terminar. Será que realmente pensam que poderiam intimidar a Rússia com alguns M777 e lançadores HIMARS? Tudo isto, diariamente destruídos, custa milhões de dólares, um Leopard pode ir a mais de uma dezena de milhões, um banal Humvee (blindado de infantaria) 250 000 dólares.


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