Disse o jornalista Joe Lauria (1): a manchete do Washington Post foi uma bomba para quem só sabe da guerra da Ucrânia o que os media dizem: "Os documentos divulgados mostram as dúvidas dos EUA sobre grandes ganhos da contraofensiva da Ucrânia.".
O público dos media ocidentais tem sido enganado sobre o curso da guerra: a Ucrânia está a vencer e está pronta para lançar uma ofensiva que levará à vitória. Em vez disso, os documentos divulgados mostram que a ofensiva ucraniana fracassará. Por outras palavras, as autoridades dos EUA têm mentido sobre o estado da guerra para o público e os repórteres relatam fielmente cada palavra sem uma pitada de ceticismo. Como se fosse uma coisa má, o WP disse que a divulgação encorajaria os críticos dos EUA e da NATO a pressionar para uma solução negociada para o conflito.
Richard Haass, ex-funcionário do Departamento de Estado, e Charles Kupchan, membro do Conselho de Relações Exteriores, escrevem: "é difícil sentir-se otimista sobre como a guerra está indo". "O Ocidente precisa de uma nova estratégia na Ucrânia: um plano para ir para a mesa de negociações."
A conversa usual sobre a Ucrânia é esta ter melhor "habilidade operacional" do que a Rússia, que a guerra terminará num "impasse", que a Ucrânia precisa lançar uma ofensiva para recuperar território, "impor pesadas perdas à Rússia, para alcançar um acordo diplomático". Mas isto é uma tarefa difícil. É improvável que Moscovo negoceie no final da ofensiva ucraniana, porque o artigo admite a "superioridade numérica dos militares russos" e que a Ucrânia está "enfrentando crescentes restrições nos seus efetivos e na ajuda do exterior."
A Rússia estava pronta para fechar um acordo com Kiev um mês após a intervenção, mas o Ocidente, com sua estratégia de prolongar a guerra para enfraquecer a Rússia, anulou-o. No final, diz o artigo, "os EUA e a Europa também terão boas razões para abandonar a política de apoiar a Ucrânia “pelo "tempo que for necessário” como foi dito por Biden.
E o que vem a seguir? "A NATO iniciaria um diálogo estratégico com a Rússia sobre controle de armas e a arquitetura de segurança europeia?" Incrivelmente isso é o que a Rússia pedia antes de sua intervenção de fevereiro de 2022 e foi rejeitado pela NATO e EUA. Uma iniciativa que serviria como forma do ocidente escapar do desastre que criou para si mesmo: o tiro pela culatra da guerra económica contra a Rússia; o fracasso da guerra de informação no não-Ocidente e, finalmente, a derrota no campo de batalha da sua guerra por procuração.
Quanto aos media, precisam manter a pretensão de que estão realmente fazendo jornalismo, ou seja, publicar de tempos em tempos material que faz com que os governos pareçam ruins. Se quiserem sobreviver, têm que convencer o público de que não desistiram totalmente do jornalismo contraditório. Mas, em vez de proteger a fonte de divulgações, vitais para o público, eles denunciaram o suposto divulgador, o guarda nacional Jack Teixeira, de 21 anos, preso por agentes do FBI vestidos de militares em sua casa em Massachusetts.
O ex-analista da CIA, Larry Johnson, acredita que o caso foi criado, possivelmente por um oficial sénior da CIA. Os documentos divulgados estavam num do Centro de Operações da CIA onde Johnson costumava trabalhar. São documentos internos da CIA não divulgados para o exterior. Teixeira pode ter sido um bode expiatório para alguém do establishment militar ou da CIA que se opõe à obsessão dos neocons em continuar a guerra a todo custo.
John Bolton, ex-conselheiro de segurança nacional dos EUA e chefe neocon, escreveu um artigo desesperado em The Wall Street Journal. Bolton entende que o mundo está mudando, e não a favor da América. Portanto, sua resposta não é reverter a política fracassada dos EUA, mas dobrar a aposta como um jogador compulsivo. Sua solução: elevar os gastos militares; retomar os testes de bombas nucleares subterrâneas e tornar "a NATO global, convidando Japão, Austrália, Israel e outros, comprometidos com as metas da NATO a juntarem-se".
Bolton, diz que os EUA devem "excluir" Moscovo e Pequim do Oriente Médio, onde ambas as capitais estão orquestrando a transformação diplomática mais dramática em décadas. Quanto à Ucrânia: "Depois que da Ucrânia vencer a guerra com a Rússia, devemos ter como objetivo dividir o eixo Rússia-China. A derrota de Moscovo pode derrubar o regime de Putin. Os novos líderes russos podem ou não olhar para o Ocidente em vez de Pequim e podem ser tão fracos que a fragmentação da Federação Russa, especialmente a leste dos Urais, não é inconcebível.
O objetivo da equipe de Biden era sangrar a Rússia. Mas é a Ucrânia que está com hemorragia. Será que a realidade finalmente superará a ilusão em Washington?
1 - Joe Lauria é editor-chefe do Consortium News e ex-correspondente da ONU, The Wall Street Journal, Boston Globe, etc., repórter de investigação e financeiro para a Bloomberg News.
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