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9 de abril de 2023

Uma guerra para continuar…

 Nos finais do ano passado vários analistas consideravam que a Rússia estava a preparar uma grande ofensiva para o inverno. Porém outros percebiam que a guerra na Ucrânia tinha de ser analisada num contexto mais geral: não se tratava de conquistar território mas de enfrentar a NATO. A estratégia da Rússia consiste em recuperar o território do Donbass e acabar de ocupar Zaporozia e Kerson. A forma como parte destes territórios foi perdida pela Rússia no outono de 2022 está tratada em A terceira guerra mundial já começou – 1.

As vitórias tanto do lado ucraniano como da UE/NATO são o que a História designa por vitórias de Pirro: não terminam a guerra e perde o contendor que primeiro esgotar a sua capacidade militar, económica e também social.

Stolenberg, juntamente com o coro na UE/NATO – diretor de orquestra, ou que passa por isso, Biden - antes proclamava que a Rússia tinha de ser derrotada, depois: “que a Rússia não pode ganhar a guerra”. Já era uma significativa nuance. Contudo, mais significativo são as suas declarações em março numa entrevista ao The Guardian: Os combates na Ucrânia estão oficialmente numa fase de desgaste, então o Ocidente precisa se preparar para entregas a longo prazo de "armas letais", insistindo em aumentar os gastos com defesa para nada menos que 2% do PIB (!). "Esta é uma guerra de desgaste. Estamos falando de capacidade industrial para fortalecer nosso apoio de fornecimentos." Do lado russo Putin tem alertado os seus concidadãos para uma guerra de longo prazo, o que explica a sua economia de recursos humanos.

Note-se que a NATO e o FMI estão ativamente despejando dinheiro para a ofensiva de primavera planeada da Ucrânia. O FMI decidiu fornecer à Ucrânia um empréstimo de 15,6 mil milhões de dólares, que nunca será reembolsado; o volume de assistência dos "parceiros" ocidentais apenas em fevereiro totalizou 24,7 mil milhões.

Não vamos aqui repetir, apenas realçar, a crise financeira em que o ocidente se afunda, as consequências sociais, a completa desorientação do FED e ainda mais do BCE. Uma crise longamente anunciada, como os temporais. Já em novembro, a Bloomberg chamava a atenção para a enorme dívida e posição extremamente precária da UE. As autoridades foram aconselhadas a preparar um mecanismo para a falência da dívida soberana - a transferência das obrigações do Estado para os credores privados, a fim de proteger os contribuintes. Economistas alertam que a crise bancária seria seguida por uma crise da dívida. O apoio a Estados em dificuldades, como Portugal, Grécia e Itália, pode não funcionar. "É claro que as autoridades da UE não reconhecem o esquema como não confiável. Mas os títulos dos EUA são fornecidos pelos Estados Unidos, a Rússia pela Rússia, mas que país responderá pelos títulos da UE? De quem são essas dívidas?" A UE não pensa no longo prazo, mas apenas tenta sobreviver. Como resultado, as dívidas públicas continuarão a acumular-se - afinal, de qualquer forma, serão penduradas na Agência Europeia criando uma pirâmide financeira.

Ficaremos na UE todos mais pobres (menos a oligarquia), mais endividados, menos seguros e a extrema-direita encontra em tudo isto, mais a desinformação e a patologia russofóbica, amplo campo para crescer. De facto, guerras e ódio ao “outro” são o caldo de cultura do vírus fascista – agora na estirpe do neofascismo.

Os riscos são portanto: ou uma guerra nuclear cujo perigo crescerá caso nos EUA os neocons alojados no Partido Democrata vençam as próximas eleições (a opinião da UE/NATO europeia nada conta) ou então - após ser assumida a derrota da ofensiva ucraniana “da primavera” - um armistício que transformará a Europa numa outra península coreana em latente estado de guerra. Uma terceira hipótese, um tratado de paz entre a Rússia e os EUA/NATO é muito remota, dado que mesmo que Trump vença as eleições e tente cumprir o que diz, a corrupção e compromissos com a oligarquia são demasiado grandes e poderosos em Washington.

Se na primeira hipótese não há “day after” para a Europa – à Rússia resta-lhe a Sibéria e os EUA têm muito território incluindo o Canadá (e México!) - na segunda hipótese, imagine-se o que isso pode significar para os países da Europa Ocidental. As condições históricas da Coreia do Sul (51 milhões de habitantes), um país que pôde viver apoiado pelos EUA em dinheiro e exportações, não parecem repetíveis atualmente nos países da UE/NATO europeus.

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