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14 de outubro de 2024

O império, as catástrofes, a inoperância, a falta de dinheiro

 Enquanto Kamala vai rindo, os estragos dos recentes furações deixam-nos perplexos. Como é possível que no país mais rico do mundo - dizem - se façam habitações em zonas de risco com paredes que são tabiques, fundações sem resistência, infraestruturas a ruir. Já com incêndios vimos casos durarem semanas. Que prevenção foi feita, que meios foram mobilizados? E isto é recorrente. O número de mortes e a devastação causada fazem lembrar casos ocorridos no que se designava por "terceiro mundo". O furação Helene causou 232 mortes, número oficial de mortes, a aumentar, pois muitos ainda estavam desaparecidos. O furacão seguinte, Milton categoria 3, inferior ao Helene, é dado como tendo causado a morte de 23 pessoas.

A jornalista independente Elisabete Vos, aborda o tema dos furacões: uma enxurrada dinheiro para guerras no exterior, mas falta para ajudar em catástrofes. Mais de uma semana depois do furacão Helene que devastou o sudeste dos EUA, moradores dizem que ainda esperam ajuda do governo. “Estradas ruíram, pontes desabaram, cais desapareceram, empresas inundaram, árvores caíram sobre estradas, linhas de energia, prédios e quintais. Fundações de casas cederam, várias dependências foram levadas com a morte de pessoas e animais. Caros em movimento foram engolidos em buracos nas estradas.”

Denunciantes apontam problemas críticos de má gestão a nível federal, estadual e local. “A FEMA (Agência Federal de Gestão de Emergências) desperdiçou e desviou fundos, deixou socorristas parados, aguardando ordens em hotéis. A ajuda pré-desastre da FEMA foi retida, exacerbando a emergência.” Tentativas para solicitar os previstos 750 dólares de ajuda individual, foram negadas. Pagamento que não será suficiente para restabelecer o nível de vida dos sobreviventes. Menos de 2% dos afetados têm seguro contra inundações, muitos ficarão sem casa.

Para o novo ano financeiro a FEMA disse que precisaria de 33,1 mil milhões de dólares. Número insignificante em comparação com os gastos das guerras. Para a Ucrânia desde 2022 foram aprovados pelo menos 175 mil milhões Para Israel, foram aprovados mais de 20 mil milhõesalém dos 17, 9 mil milhões dados desde 7 de outubro de 2023. A USAID enviou para a Ucrânia mais de 1000 geradores e 495 transformadores industriais. A FEMA tinha fornecido apenas 157 geradores de socorro após o furacão Helene.

A Guarda Nacional do Tennessee destacou mais de 700 militares para o Kuwait. Menos que os 401 para o socorro em desastres. Lindsay Graham (destacado senador neocon), na Fox News desviou o assunto dos danos causados pelo furacão na sua região para apoiar as necessidades da campanha genocida de Israel. " Eles estão ficando sem munições em Israel. Temos que ajudar nossos amigos a impedir que a guerra de lá chegue aqui.”

Em Newland, Carolina do Norte, Jean Taylor-Todd disse que, na ausência de serviços oficiais, a comunidade sobrevive com ajuda mútua.“ “Nenhuma presença da FEMA, Cruz Vermelha ou militar. Não sinto que a resposta do governo tenha sido adequada, nem os moradores com quem falei. Nós nos sentimos esquecidos. Grande parte da limpeza e socorro foi fornecida por pessoas locais ou de fora."

Helene é apenas o desastre mais recente a gerar uma série de alegações de ajuda governamental malfeita. No ano passado, o incêndio de Lahaina devastou partes de Maui, no Havaí, deixando muitos sobreviventes com sentimentos de abandono pelo governo. Outros desastres incluíram o grande descarrilamento no Ohio e o incêndio numa fábrica de produtos químicos na Geórgia, o terceiro incêndio na mesma instalação em sete anos, exigindo a evacuação de milhares de pessoas.

Joe Lyn, um artista que vive numa área rural da Geórgia, disse que um grande número de árvores e linhas de energia foram derrubadas, deixando muitos sem eletricidade, sem água e alguns sem poder sair de suas propriedades. A única resposta ao desastre que viu foi uma escavadora e um carro de polícia, apesar dos fios de energia suspensos, casas destruídas e estradas intransitáveis. Um amigo ficou seis dias sem água, incapaz de sair de casa durante quase uma semana. O relato de Lyn soma-se a muitos outros, alguns bem piores.

Amanda Campbell, de Forest City, Carolina do Norte, “Há tantos corpos que você pode sentir o insuportável cheiro de tantas pessoas mortas. Não consigo descrever o quão mau é... As pessoas estão ajudando as pessoas... Precisamos de ajuda.” Campbell descreveu a experiência de membros de uma família que resgatou: “Eles viram vários vizinhos morrerem, atingidos por árvores, outros foram levados pela água… casas flutuando com pessoas dentro."

Uma mulher de Swannanoa, Carolina do Norte, contou: “Perdemos tudo… temos familiares boiando rio abaixo… Não tenho identidade, não tenho como pagar pela comida, eles (FEMA) não têm como abastecer, então estamos presos, temos que dormir num carro com as mesmas roupas que estávamos usando.”





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